Um ano e meio após o início de suas operações no ramo de venda de e-books no Brasil, e em meio a polêmicas internacionais com livrarias, editoras e autores, a Amazon lançou nesta quinta-feira (21/8) seu serviço de vendas de livros físicos. O catálogo conta inicialmente com 150 mil títulos em língua portuguesa, incluindo obras de todos os gêneros, de autores nacionais e traduções.

O país é o primeiro na América Latina em que a empresa norte-americana começa a vender livros. A companhia chegou apenas em agosto de 2013 ao México, o outro latino onde está presente. Além dele, a Amazon não vende livros impressos apenas na Austrália.

Segundo Alex Szapiro, Country Manager da Amazon no Brasil, a empresa foi surpreendida pelo leitor brasileiro. “Antes de entrar no mercado de impressos, quisemos entender o consumidor. Não temos a crença de que o brasileiro não lê. Ao contrário. Para nós, o brasileiro se revelou um público apaixonado pela leitura.”

Na prática, o que muda para o leitor é que a loja começará a mostrar, quando houver essa opção, os formatos impresso e virtual dos títulos. O preço de um formato para outro também é diferente. “A Amazon não separa conteúdo digital de físico. É uma loja de livros. A decisão de leitura e de formato cabe ao consumidor”, declara Szapiro, informando que, no Brasil, será oferecido um serviço chamado “Leia enquanto enviamos”, no qual o consumidor terá acesso a 10% do livro, em formato digital, enquanto espera pela chegada do exemplar físico em casa.

Para manter um catálogo de 150 mil títulos com uma quantidade de exemplares capaz de atender num prazo curto o consumidor, a Amazon conta com um estoque localizado num galpão em Barueri, na Grande São Paulo. A estrutura foi criada para evitar uma longa espera pela entrega. Para alguns CEPs da cidade de São Paulo, compras até as 11h serão entregues no dia seguinte. Não há custo de entrega para qualquer lugar do país em compras a partir de R$ 69 e devoluções poderão ser feitas em até 30 dias – o Código de Defesa do Consumidor obriga empresas a aceitarem produtos de volta em até sete dias.

Pela primeira vez, a Amazon terá também um estande na 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que acontece até o dia 31 de agosto. O espaço será dedicado aos e-readers Kindle e Kindle Paperwhite, que serão vendidos com preços especiais para os visitantes do evento. E uma mesa dentro do estande será dedicada ao Kindle Direct Publishing (KDP), plataforma de autopublicação da empresa, apresentando debates com autores que alcançaram sucesso com ela.

Concorrência – Para o presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL), Ednilson Xavier, a entrada da Amazon no mercado de livros físicos pode ameaçar sobretudo as grandes e médias livrarias, já que as pequenas, segundo ele, ainda mantêm uma relação com o bairro, atuando quase como centros culturais. No entanto, ele considera que a chegada da empresa reflete uma demanda reprimida: a carência de livrarias.

Dados divulgados pela ANL no início desta semana mostram que o número de lojas por habitante no Brasil corresponde a 1/10 da média de países desenvolvidos. Em território nacional, a média é de uma livraria para cada 64.954 habitantes.

Já Carlo Carrenho, fundador do site PublishNews, especializado em notícias do mercado editorial, acredita que isso deve ajudar a elevar o nível de gestão da venda online no Brasil. “Vejo isso com bons olhos porque, ao trabalhar com as melhores práticas e melhor gerenciamento, ela ergue o sarrafo da qualidade no mercado”, diz.

O problema, para ele, é o risco de monopólio a médio e longo prazo, dada a eficiência da norte-americana. “O mercado brasileiro ainda é muito ineficiente em logística e infraestrutura. Tem um custo muito alto de entrega, os processos da cadeia do livro são complicados e caros. A Amazon vai subir o sarrafo um pouquinho, vai exigir mais eficiência”, acredita.

Alguns preços chegam a variar 123% entre as livrarias, como é o caso de “A tormenta de espadas. As crônicas de gelo e fogo – Volume 3” (Leya), de George R. R. Martin. Na Amazon, um exemplar custa R$ 24,60, enquanto na Saraiva sai por R$ 25,90, na Travessa por R$ 43,37 e na Cultura por R$ 54,90.

Roberto Guedes, diretor da Travessa, destaca como potenciais enfrentamentos à concorrente a curadoria, ambiente e qualidade de atendimento. “Manteremos o que nos tornou o que hoje somos: seleção criteriosa e plural de estoque. Certamente preços muito baixos na concorrência podem prejudicar o mercado. No médio prazo, o leitor vai ver a diversidade hoje disponível abalada, terá a sua liberdade de escolha atingida”, defende.

*Com informações dos sites d’O Globo, Estadão e do G1


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