Estratégias para o desenvolvimento da região amazônica foi a tônica do encontro entre uma comitiva ministerial, a população local, especialistas, comunidade científica, governos estaduais e municipais e o setor econômico. Gilberto Gil apresentou o Mais Cultura lançado em outubro passado pelo governo federa e que deverá aumentar os investimentos nas ações culturais da região.
O Ministro Gil desembarcou da Amazônia diretamente na passarela do São Paulo Fashion Week onde declarou que chegava “justamente da Amazônia, aonde estive ao lado do Minsitro Mangabeira Unger com o objetivo de discutir um projeto para o desenvolvimento integrado e de longo prazo dessa gigantesca e diversa região. Uma das grandes teses do documento escrito pelo ministro Mangabeira sobre a Amazônia é tão simples como o que venho aqui dizer e propor a vocês: precisamos fazer da vida econômica da Amazônia uma economia de tecnologia, uma economia que faça um uso saudável e contemporâneo da floresta. Além de preservar a floresta com mais fiscalização e controle – o que o governo Lula já está fazendo – faremos da Amazônia um lugar rico quando a economia daquela floresta der o devido salto para o século XXI. É esse salto que fomos lá discutir e propor.
Fica claro na Amazônia – e também na moda brasileira, que o caminho do Brasil é um caminho de inovação. Quando essa economia amazônica se basear na relação com a alta tecnologia farmacêutica brasileira, com a cosmética, ou com o design: teremos uma economia que vai ocupar a Amazônia de outra forma, gerar trabalho qualificado bem longe das serrarias e da necessidade de desmatamento. Vi nesses dois dias de viagem um processo muito claro de mudança – que não é só da Amazônia, é do Brasil e do mundo. A Amazônia está se preparando para a inovação, para a tecnologia de ponta e para o turismo.
A moda, assim como a Amazônia, também possui um grande potencial não completamente realizado. Temos uma alta costura admirada no mundo, mas que ainda não está – do ponto de vista econômico – satisfatoriamente presente nesse mundo. Temos, internamente, uma alta diversidade cultural admirada globalmente pela sua dinâmica criadora, mas que ainda não está inteiramente incorporada na moda brasileira. A moda é um lugar de inovação extraordinário, é um pedaço da economia brasileira que já tem um pé no século XXI”.
Na onda da Economia Criativa, que segundo Lala Deheinzelin, superintendente de cultura do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP, “trata-se de um guarda-chuva que abrange atividades que têm a criatividade e os recursos culturais como matéria-prima”, a moda catapulta negócios milionários baseado nas bases deste mistério que é fazer o valor intangível artístico valer centenas de vezes mais que os valores materiais, humanos e energéticos despendidos por toda a cadeia produtiva do artefato comercializado. Ou seja, o mistério de um pedaço ínfimo de lycra estampado amarrado de um determinado modo valha centenas de vezes o valor que ele teria se fosse apenas um pedaço de lycra estampado amarrado de um determinado modo. Só a modelo que o sacode na passarela tem um cachê que pagaria toda a lycra utilizada no estoque da coleção completa.
A fórmula mágica desta tal economia criativa da moda inclui a criação de conglomerados multibilionários que detém uma parte ou a totalidade do controle acionário de empresas de moda. Para se ter uma idéia deste poder de acumulação de capital e de controle sobre o comportamento da elite dispendiosa, veja-se o empreendimento do senhor Bernard Arnault, dono de um megaconglomerado francês de marcas de luxo, a Louis-Vuitton-Moët-Henessy, No cabide da algibeira do senhor Arnault, a LVMH pendura marcas de alta costura e prêt-a-porter (Dior, Louis Vuitton, 50% da Fendi, etc.), perfumes (Givenchy, Guerlain, etc.), relógios e jóias (Tag Heuer, Chaumet, etc.), e outras, totalizando cerca de cinqüenta grifes.
O desejo do enquadramento social proporcionado pela ostentação de qualquer uma destas grifes eleitas pelos conglomerados dispara o gatilho de um fenômeno que se dissemina em todos os estratos sociais e que deságua na indústria das falsificações e dos camelôs, injetando, guardadas as devidas proporções, recursos também entre aqueles que sobrevivem da economia informal. Das passarelas da moda para as passarelas dos camelôdromos a economia informal mais uma vez ratifica a impressão de que a sociedade finalmente migra para uma era em que o consumo recairá menos sobre os já escassos recursos materiais deste planeta exaurido e mais sobre os imateriais que a criatividade e os recursos culturais podem garantir.
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