O Reunião de Pauta, projeto do Cultura e Mercado que já recebeu Marta Porto e Piatã Kignel, convidou o Gestor de Projetos da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Christiano Braga, para sentar à mesa com a redação do site e discutir projetos – deles e nossos -, partindo da ideia de que a matéria-prima do trabalho de ambos é a mesma: o mercado cultural do país.

Desde o início, ele ressaltou a importância de articular os conceitos de cultura e desenvolvimento. Circulando há mais de uma década no setor, Braga tem uma visão muito clara de como o mercado vem se desenvolvendo no país ao longo do período.

Na Apex, ele é responsável por cuidar dos projetos de promoção e exportação de cinco segmentos: música, TV e plataformas audiovisuais, cinema e livro & literatura. Com o auxílio de associações específicas, a agência desenvolve estratégias de inserção internacional de cada ramo, mapeando os mercados-alvo e desenvolvendo ações.

Sobre a atuação da agência, ele diz que sempre gera dúvidas, mas o foco é mesmo a internacionalização do negócio brasileiro. “É uma linha tênue entre promover comercialmente e promover a cultura”, explica, citando o projeto que subsidia a participação de galerias nacionais em grandes eventos internacionais. “Este é também um evento de promoção da arte contemporânea. Não diretamente, mas tem um efeito bastante positivo sobre [a área]. Nos últimos quatro anos, a exportação do setor cresceu 300%”, contou.

No caso da cultura, o sucesso de uma promoção no exterior não é analisado apenas pelos números. “É preferível aferir indicadores mais qualitativos do que de volume em si. Isso gerou emprego? Gerou qualificação do empresário? Quantos artistas brasileiros estão em coleções internacionais?”.

Dentro dessa lógica, Braga ressaltou a importância de se aprofundar no modelo de negócios nos campos da economia da cultura e da economia criativa. Para ele, o grande desafio deste novo momento do capitalismo é: como estruturar modelos de negócios adequados, flexíveis para dar conta de um mercado fragmentado, de nichos? “Hoje você tem uma oferta de livros que é infinita. Como é que livro X alcança o público Y, que se interessa por aquele tema específico, por aquele autor? E como é que um editor navega num mercado com essas características”, exemplificou.

“A questão de negócio é algo que tenho visto nos projetos de exportação que cuido na Apex. Qual o valor que você está entregando ao mercado? Ao mergulhar numa abordagem mais setorial, você vê a problemática surgir. Enquanto falarmos de economia criativa do ponto de vista macro, perdemos a chance de pensar do ponto de vista da empresa”, declarou, explicando que a visão panorâmica do mercado é importante para traçar estratégias, mas também é necessária uma análise mais próxima do empreendedor cultural e criativo, para entender seu modus operandi, seus problemas e necessidades.

Braga alertou para os desafios domésticos, que por vezes são obstáculos maiores do que os enfrentados em mercados externos, entre eles os altos tributos, a falta de capacitação, os modelos de negócios muito tradicionais ou  familiares e o marco regulatório para algumas profissões no Brasil.

“Como os diferentes tributos impactam os diferentes setores, como as empresas que produzem conteúdo cultural dialogam com o mundo, como esses líderes estão montando as estratégias de exportação de seus negócios (algumas têm, mas ainda há pouca reflexão sobre isso)?”, ele enumerou e deu o exemplo, que sintetiza as quase duas horas de conversa: “Os produtores audiovisuais ainda pensam em como fazer a carreira do filme, e não como fazer a carreira do negócio. A inteligência tem que ser aplicada a esse tipo de empreendimento”.


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Jornalista, foi repórter do Cultura e Mercado de 2011 a 2013. Atualmente é assessor de comunicação da SPCine.

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