Fundir linguagens aparentemente tão antagônicas como a poesia da portuguesa Florbela Espanca e a metragem limitada do Twitter. Esse é o objetivo de “Twítticas”, novo álbum do músico Galldino.
Nascido na mesma terra que Caetano, Gil e Caymmi – “só gente boa”, como ele mesmo afirma – o violinista ficou conhecido pelo trabalho com a trupe d’O Teatro Mágico. Ele conversou com Cultura e Mercado sobre o ambicioso projeto que foi ao ar no site de financiamento coletivo Movere.
Para compor as letras do álbum, Galldino teve que “limpar” o vocabulário dos artigos definidos e indefinidos, preposições e outros elementos da língua, para fazer caber nos 140 caracteres toda a erudição que ele queria empregar. “Quis fazer letras com linguagem mais coloquial, concisa e contemporânea, sem perder a essência”, afirma.
O trabalho reúne diversos vocalistas, entre eles, Fernando Anitelli, vocalista e idealizador d’O Teatro Mágico. Mas a novidade não foi só na apropriação da linguagem minimalista. O crowdfunding também foi uma ferramenta utilizada pela primeira vez pelo artista.
Apesar de ter concluído metade do trabalho utilizando seu computador, Galldino ainda precisava de ajuda para arcar com as despesas de estúdio e equipamentos. Mais importante: ele viu na empreitada uma oportunidade de trazer os ouvintes para perto do projeto. “[O crowdfunding] é uma espécie de aval que o público dá”, afirma Galldino. E o público adorou. Prova disso são os mais de R$ 6 mil reais captados pela iniciativa, superiores à meta inicial de R$ 4,5 mil.
Profissão de fé – Galldino é filho de músicos e se interessou pela arte logo menino, aos oito anos. Viver de suas expressões artísticas mesmo, ele só conseguiu mais tarde, fazendo parte da banda que acompanhava a cantora country Suzy Joy. Antes disso, tinha sido cobrador de ônibus e vendedor numa loja de instrumentos musicais.
Os trabalhos ajudaram em sua formação musical. “Eu costumava cantar no ônibus e dormir na loja. Varava a noite aprendendo a tocar os instrumentos”, conta. Foi durante um sarau na região de Pinheiros, em São Paulo, que ele conheceu Anitelli e seu projeto de montar uma trupe itinerante com o nome inspirado num trecho de “O Lobo da Estepe”, de Herman Hesse. “Gostei da proposta do Fernando de levar o sarau para o palco”, comenta.
Ele acredita que viver da arte não seja tarefa das mais fáceis. “Ser artista é uma profissão de fé”, afirma.
O artista gravou todos os instrumentos de Twítticas sozinho e fez a edição utilizando seu próprio computador. Além disso, o trabalho de divulgação junto ao público através das redes sociais também foi responsabilidade dele. “Pode até ser cansativo às vezes. Mas é muito positivo.”
A ideia de que a internet esteja acabando com a possibilidade do artista se manter através de sua obra para ele é balela. “O trabalho que disponibilizo na rede é uma amostra grátis. O artista se faz mesmo é ao vivo”, pondera. “O cara que baixa uma música sua está ajudando a divulgar e financiar seu trabalho.”
Galldino deve pedir a ajuda do público novamente para poder levar o repertório de Twítticas em turnê pelo Brasil. O projeto já está pronto e deve entrar no ar nos próximos meses. O dinheiro deve ajudar a pagar pelo suporte técnico das apresentações que, Galldino promete, terão um visual caprichado.
Curso – Para quem tem interesse em financiar um projeto via crowdfunding, o Cemec vai promover, entre os dias 18 e 27 de junho, curso voltado ao assunto. As aulas, coordenadas por Vanessa de Oliveira, do Movere, e ministradas por ela e Diego Reeberg, do Catarse, abordarão todo o processo de financiamento coletivo de um projeto, em quatro módulos: Mercado, Projeto, Recompensa e Campanha.
Para mais informações sobre programação e inscrições, clique aqui.