Reportagem do jornal O Globo publicada nesta quarta-feira (23/2) mostra que o descontentamento é geral entre os músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB). Em janeiro, 48 horas após o início das suas férias, eles receberam um comunicado de que seriam submetidos a uma avaliação interna, pela primeira vez na história da orquestra, e que teriam 60 dias para se preparar.

O presidente da comissão de músicos, Luzer Machtyngier, disse que o documento, entre outras questões, não atende aos padrões de uma avaliação de desempenho. Nos últimos dias, depois que o maestro Roberto Minczuk tornou públicos detalhes da avaliação, a situação se agravou. Em assembleia realizada nesta semana, 56 dos 58 integrantes da orquestra presentes decidiram não comparecer à avaliação marcada para o início de março. A OSB tem 82 músicos fixos.

Machtyngier afirmou que qualquer documento e elaboração de projeto, principalmente de nível artístico, tem que ser feito com a participação da comissão de músicos. “Uma avaliação de desempenho nunca pode ser considerada eficaz a partir do momento em que é feita em cima de uma apresentação de 20, 30 minutos. Isso não é avaliação de desempenho. Ela tem que incorporar dezenas de outros critérios: assiduidade, produtividade, interesse, relacionamento com os colegas. Não é só tocar”, disse Luzer.

Procurado pelo Globo, o presidente da Fundação OSB, Eleazar de Carvalho, enviou um comunicado através de sua assessoria de imprensa:

“(…) As avaliações de desempenho agendadas para março servirão como mais um meio para que a Fundação OSB apure o rendimento artístico e profissional de cada músico individualmente. Isso acontecerá aliado ao processo avaliativo contínuo que já vem sendo feito sistematicamente na nossa rotina de ensaios e espetáculos. Ela destina-se a todo o corpo orquestral, estipula iguais condições e critérios para todos os músicos e se assemelha a processos de qualificação praticados por orquestras de padrão internacional. (…)”

Machtyngier questiona que “todo o corpo orquestral” aqui não está incluindo o regente Roberto Minczuk, que além de maestro é diretor artístico da orquestra. “Ele assumiu o cargo há seis anos, mesmo não tendo participado de uma lista tríplice que a administração da orquestra é obrigada a solicitar aos músicos. Isso é uma coisa estatutária, então, mesmo não sendo do nosso agrado, ele foi convidado para assumir não só a direção artística como o cargo de maestro titular. Então, ele tem poderes bastante amplos”, indigna-se Machtyngier.

Segundo ele, as imperfeições no documento foram reconhecidas pela administração da orquestra, que sugeriram que a comissão de músicos se reunisse com o maestro assistente para que essas imperfeições fossem sanadas, pois Minczuk está no Canadá. O presidente da comissão dos músicos recusou. “Com o maestro assistente, não. Que fosse com o diretor artístico da orquestra, e que esperaremos que ele chegue de viagem.”

Minczuk foi procurado por Machtyngier por e-mail na última semana, para uma reunião com os músicos quando retornasse ao país. O maestro, porém, solicitou uma audioconferência para anteontem. Foi pedido ao maestro e diretor artístico que o documento fosse refeito do zero, sem remendas, e que a avaliação, em março, fosse cancelada. Como o resultado da audioconferência não foi satisfatório, os músicos presentes na assembleia decidiram – 56 dos 58 presentes – não comparecer à prova.

“Não somos contra qualquer avaliação de desempenho. Somos avaliados diariamente, constantemente. Somos avaliados pelo público, pelos críticos… Temos funcionários dentro da orquestra que exercem o papel de avaliadores diários em termos de disciplina, comportamento, conduta, então não há como dizer que houve uma falha na avaliação e que ninguém conseguiu ver nada. Pelo contrário. Temos a presença do maestro em todos os ensaios, anotando. Ninguém é contra isso. A gente entende que é necessário, e que se deve melhorar e buscar um nível de excelência. Todo mundo quer isso, mesmo antes de esse projeto nos ter sido apresentado, aos poucos e de maneira um pouco vil”, afirmou Machtyngier.

Em entrevista ao Globo na última semana, Minczuk declarou que o motivou para agendar a polêmica avaliação foi a busca pelo padrão de excelência, além de audições em Nova York, Londres e Rio para preencher 13 vagas atualmente abertas na orquestra.

*Com informações de O Globo


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3Comentários

  • Carlos Henrique Machado, 25 de fevereiro de 2011 @ 19:07 Reply

    Esse Minczuk é o próprio Simão Bacamarte do “Alienista” de Machado de Assis. É o terror de Itaguaí. Há muito ele vem falando dessa arte fisiológica, dessa coisa muscular globalizada que Villa Lobos chamava de músico papelório. Minczuk, com sua majestade da batuta, vive demonstrando seus teoremas com cataplasmas esquizofrênicos. A pergunta é, não tem ninguém pra rebocar o maestro mudo e furioso para a casa verde?

    A chamada música clásssica no Brasil vive desses salvadores de Itaguaí, razão pela qual não vemos um vulto sequer das novas composições brasileiras. A técnica “criancinhas japonesas” é o nível máximo que toda essa loucura pedagógica instituiu no ambiente da música sinfônica brasileira. Não há lugar para a criação nesse mundo dominado pela máfia da batuta. Os Dom Kings têm como objetivo uma razão estúpida de copiar estéticas e técnicas da mitologia eurocêntrica. Por isso a mistificação arrogante do maestro.

  • Juliana, 10 de março de 2011 @ 22:46 Reply

    Que vergonha! Os músicos, em sua maioria, por não acreditarem em sua capacidade técnica, tem medo de realizar tais avaliações. Se eles se consideram tão bons e os melhores do mercado, não deveriam reclamar e fazer polêmica sobre essas avaliações.

  • Carlos Henrique Machado, 11 de março de 2011 @ 13:52 Reply

    Acontece que esse maestro que nada cria,que só vive de pose, não é avaliado pelos musicos. Pergunta o prosa da batuta se ele coloca sua musica se é que tem e sua regencia em prova?

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