Foi assim. O cantor Caetano Veloso anunciou, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, sua decisão de votar na senadora Marina Silva para a Presidência da República, que, segundo ele, é uma mistura de Barack Obama (presidente dos Estados Unidos) e Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de “analfabeto”. Aí começou a questão.

Caetano disse: “Não posso deixar de votar nela. É por demais forte, simbolicamente, para eu não me abalar. Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem”.

Morrendo pela boca

Sua mãe não gostou nada. Em resposta à essa declaração, a matricarca da família Veloso, Dona Canô, por intermédio de um dos seus filhos, fez um pedido público de desculpas ao presidente Lula.

A informação está no Blog do Marrom, no Correio da Bahia, cuja nota assinada pelo irmão de Caetano, Rodrigo Velloso, diz que a família Velloso não tem nada a ver com a declaração do irmão famoso. Veja a nota:

“Venho a público esclarecer que a recente declaração, feita pelo cantor e compositor Caetano Veloso sobre o Presidente Lula, não expressa, em nenhuma hipótese, a opinião da família Velloso. Sua matriarca, Dona Canô, por meu intermédio, deseja se dirigir ao Governador Jaques Wagner, a todos os brasileiros e, principalmente, ao Presidente da República, com um sincero pedido de desculpas”

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A senadora Marina Silva, em entrevista, declarou: “Tenho uma relação afetiva de mais de 30 anos com o presidente Lula. A visão que tenho dele é permeada por essa relação de respeito e de companheirismo”. Ela lembrou que o próprio Caetano, em carta publicada no jornal, esclareceu que não quis ser ofensivo ao presidente. “Às vezes as pessoas não veem a frase seguinte.”

A resposta

Na abertura do 9º Congresso de Iniciação Científica, na última sexta-feira, em  São Paulo, o presidente Lula respondeu com ironia às críticas feitas sobre ele pelo cantor e compositor Caetano Veloso. No evento, ao falar de educação, o presidente brincou por estar falando linguajar mais sofisticado.

“Educação é condição sine qua non. Eu to falando sine qua non porque o Caetano Veloso vai ouvir que eu falei assim e aí vai ver como o Lula está…”. A plateia sorri diante da brincadeira do presidente que não concluiu a frase. A expressão em latim sine qua non significa ‘sem o qual não pode ser’.

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A última resposta a essa questão caetana, foi na entrevista que a Rede TV, em comemoração ao seu aniversário de dez anos, fez com o presidente Lula, exibida ontem a noite: “A resposta a Caetano eu dei na noite anterior, botei um CD de Chico Buarque para ouvir”, disse com ironia, nosso presidente.

Fonte: Correio da Paraíba e Agência Estado


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Repórter. Escreve sobre pessoas, convergência e cultura.

3Comentários

  • Carlos Henrique Machado Freitas, 16 de novembro de 2009 @ 16:09 Reply

    Nesse episódio caetanesco, fico com a dignidade de Henfil que classificou Caetano como um certo timoneiro da “Patrulha Odara”.
    Essa foi a sua perfeita observação do displicente caetano aos holofotes midiáticos.
    “Caetano diz que não lê jornais, mas é capaz de citar o dia e a página de qualquer jornal que tenha falado dele, mesmo que seja a Gazeta de Nanuque” (Henfil)

    Mas, sem dúvida que a vedete de suas declarações, pré-espetáculo, ao Estado de São Paulo, foi a de se classificar como uma espécie de “loira burra” quando o assunto é Lei Rouanet. E sai à francesa, uma pérola para não falar dos Dois Milhões que sua turnê levantou facinho com a Lei.
    “Não sou muito bom nesse negócio. Sou como umas moças que eram bonitas e apareciam nuas nos filmes, e tinham de ter uma opinião política. Eu sou assim. Não sei se tem que mudar”.(Caetano)

  • Antonio Jose, 17 de novembro de 2009 @ 23:42 Reply

    FERNANDO DE BARROS E SILVA

    Caetano é “neguinha”
    SÃO PAULO – “Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro.” Diante da ira que provocou nos companheiros, Caetano Veloso voltou ontem às páginas de “O Estado de S. Paulo” para comentar esse trecho da entrevista que havia concedido.
    O compositor lembrou que o próprio Lula se vangloria da sua fala pouco instruída e que é forte inclusive por isso. E avisou aos petistas: “Dizer que FH era mau governante e Lula é bom é maluquice. Ambos foram conquistas brasileiras importantes. Marina seria um passo à frente”. Sobre esse último ponto, podemos brincar: “menas, menas”.
    De resto, os embates entre Caetano e a esquerda remontam aos anos febris do tropicalismo. É duvidoso que o lulismo seja de esquerda, mas Caetano, de novo, se põe à esquerda da esquerda, dando mais um nó no coro dos “progressistas”: “Detesto essa mania de que nada se pode dizer que não seja adulação a Lula”.
    Quem teve a felicidade de ver seu show no fim de semana pôde presenciar a homenagem a Neguinho do Samba, negro semianalfabeto, um dos fundadores do Olodum na Bahia, morto há poucos dias: “Influenciou mais a mim e provavelmente a vocês da plateia do que a obra inteira de Lévi-Strauss. Isso é o que eu teria a dizer aqui sobre analfabetismo e preconceito”.
    O ápice, porém, foi a interpretação de “Eu Sou Neguinha?” -acompanhada no palco por uma gestualidade que valorizava de maneira ostensiva e lúdica a interrogação sobre a identidade sexual do cantor.
    Caetano é um dos maiores artistas brasileiros -isso já é sabido. Mas é também um espírito livre e um intelectual incomum num sentido muito preciso (e talvez o único verdadeiramente precioso): sempre está no debate público de sua época sem subordinar convicções e ideias a cálculos táticos ou conveniências políticas. Ousar pensar pela própria cabeça, sem a tutela do grupo ou medo da patrulha da maioria: por que não? Por que não?

  • Zé Francisco, 22 de novembro de 2009 @ 19:28 Reply

    Olá!

    Elegemos um operário para Presidente com pouca escolaridade, com aval dos intelectuais, religiosos, populares… cientes de seu empírismo.
    Elege-se Barak Obama, negro, porém mais “letrado” pudera convivendo num país de Primeiro Mundo!
    Quando se trata de uma opinião de Caetano Veloso, devemos tentar decifrá-la nas suas diversas leituras. Mas, fica aqui meu voto de apoio a Dona Canô, e seu pedido de desculpas ao Presidente e a Nação pela “traquinagem” de seu filho!

    Ou Não….

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