Livro relaciona Estado e cinema e investiga no passado por que ainda hoje a indústria cinematográfica brasileira não se desenvolveu.
 
O que levou o Estado e o cinema brasileiro a tomarem caminhos tão diferentes em relação ao seu desenvolvimento? Esta é umas das questões centrais do livro “Estado e Cinema no Brasil”, da pesquisadora Anita Simis (editora Anna Blume, 312 págs., R$ 40), premiado no Rumos Gestão Cultural 2007 – 2008. O livro investiga no passado por que ainda hoje a indústria cinematográfica não se desenvolveu no país.
 
Resultado de dez anos de trabalho, mestrado e doutorado, o estudo de Anita Simis, investiga um campo ainda pouco explorado. Diferentemente de outros trabalhos focados na estética, na história do cinema e de seus cineastas, a autora se debruça sobre o aspecto político-institucional. “Por isso se chama Estado e Cinema, e não o contrário”, observa a autora.
 
A pesquisadora apresenta dois momentos distintos nas relações entre Estado e cinema brasileiro: o autoritário, de 1937 a 1945, e o democrático, de 1945 a 1964, levando em conta aspectos como economia e legislação cinematográfica. “A proposta é gerar subsídios para a discussão sobre política cultural”.  
 
O foco de Anita Simis é a fase anterior ao golpe de 64, mas ela busca responder uma pergunta que ainda hoje aflige o setor. Tendo em vista que nos primórdios do cinema no país, houve um desenvolvimento grande, com uma produção bastante extensa de filmes, por que não se desenvolveu no Brasil uma indústria cinematográfica estável e permanente?
 
“O livro mostra que o Estado se organizou e se estruturou, o que não ocorreu com o cinema”, diz. Em linhas gerais, as versões que buscavam responder a essa questão, segundo Anita Simis, apontava para a incompetência do cinema nacional. “A maioria enfatizava problemas diversos como som, produção de baixa qualidade, histórias chatas, ou a omissão do estado, pela falta de incentivo e proteção ao cinema”, acrescenta.
 
Maquiavelismo norte-americano
 
Há quem defenda se tratar de mais uma teoria conspiratória, mas para muitos é o maquiavelismo do imperialismo norte-americano, que impede o desenvolvimento do cinema brasileiro. Em seu estudo, Anita Simis, faz uma análise desta e das outras versões, levanta a legislação sobre o tema, compara com o cenário de outros países e procura identificar em que medida, na época, essas leis atendiam as necessidades dos produtores. “Elas vinham como resultado da pressão dos produtores sobre o Estado ou era parte de um projeto de desenvolvimento dos diferentes governos que se sucederam?”, questiona.
 
A pesquisadora também investiga em sua obra o papel do cinema no projeto do Estado. Qual a importância dele para os vários governos. Para isso, ela faz uma análise que vai da década de 50 até a criação do Instituto Nacional de Cinema, em 1966, entidade precursora da Embrafilme.
 
Na outra parte do livro ela retrocede no tempo, focando a década de 30. “Entender a política cinematográfica implica compreender as diferenças entre esses dois sistemas distintos, o autoritário e o democrático, por isso tive que passear por diferentes períodos”, explica.
 
O livro de Anita Simis teve sua segunda edição lançada no último dia 15 de outubro, no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo. “O que dá fôlego a essa reedição é o número cada vez maior de pessoas interessadas na discussão sobre política cultural, seja no cinema, no teatro, ou na música, na dança e em outras áreas”.
 
Na ocasião foi realizado um debate com a autora sobre o tema, organizado pelo Observatório Itaú Cultural. “Um dos nossos principais objetivos é dar visibilidade e colocar em pauta assuntos pertinentes a gestão cultural no Brasil”, diz Josiane Mozer, da equipe do Observatório Itaú Cultural. Segundo ela, além de estimular a produção, é importante olhar o que já foi produzido. “Muitos estudos já foram feitos, mas pouco se conhece deles”.

Carlos Minuano


Repórter de cultura. Além dos trabalhos em reportagem, dedica-se atualmente à produção de dois livros: Memórias Psicodélicas e a ficção Cigarro Barato.

5Comentários

  • Cinema do futuro | Cinezine, 28 de outubro de 2008 @ 18:41 Reply

    […] Fonte: Observatório Itaú Cultural […]

  • Cultura Em Pauta » A crise (?) do cinema brasileiro, 29 de outubro de 2008 @ 23:12 Reply

    […] discute o tema. E o Observatório Itaú Cultural acaba de lançar a segunda edição do livro “Estado e Cinema no Brasil”, de Anita Simis, que tenta jogar luz sobre as razões de a indústria audiovisual nacional não ter […]

  • Cultura Em Pauta » Os gargalos da indústria audiovisual brasileira, 29 de outubro de 2008 @ 23:18 Reply

    […] o tema. E o Observatório Itaú Cultural acaba de lançar a segunda edição do livro “Estado e Cinema no Brasil“, de Anita Simis, que tenta jogar luz sobre as razões de a indústria audiovisual nacional […]

  • Carlos Tourinho, 30 de outubro de 2008 @ 10:10 Reply

    Onde pode ser adquitido o livro?
    Estou no nrdeste

  • Anita Simis, 5 de novembro de 2008 @ 17:46 Reply

    Olá Carlos,
    Só pude ver sua matéria agora! Fiquei muito contente, pois vc. pegou o espírito do trabalho!
    Quando à pergunta do Carlos Tourinho, sugiro que ele adquira via site:
    sss://www.annablume.com.br/comercio/home.php
    Abraços,
    Anita

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