Durante o segundo Festival Internacional de Cinema de Santiago, cineastas latino-americanos concluem que o problema do cinema do continente é de mercado

SANTIAGO – A América Latina “precisa de políticas de defesa cultural maduras e coerentes”, afirmou à ANSA o cineasta argentino Eliseo Subiela, e pediu para os políticos considerarem o cinema uma contribuição à integração regional, visão compartilhada pelos realizadores Silvio Caiozzi, do Chile, e José Joffily, do Brasil.

“O cinema é uma contribuição à integração regional. Me parece que falta os políticos também entenderem isso e que o incluam nas agendas quando se sentarem para conversar sobre mercados comuns, que me parecem muito importantes e necessários para a região, apesar de que em geral falam de sapatos ou de carros, não de cultura”, disse o diretor argentino.

Subiela, Caiozzi e Joffely, participantes do segundo Festival Internacional de Cinema de Santiago, concordaram quanto à falta de espaços para divulgar o cinema latino-americano e notaram que “tendo um mercado de 300 milhões de habitantes com o mesmo idioma, o problema realmente é de mercado”.

Os três cineastas concordaram que não existem mecanismos de divulgação da cinematografia independente, não apenas na América Latina, mas também no mundo todo.

“Isso tem a ver com economia, e cada vez mais eu procuro fugir disso”, porque os cineastas “não podem mais resolver a questão. Eu não consigo mais pensar em como resolver economicamente o subdesenvolvimento do cinema latino-americano ou do cinema mundial”, advertiu Joffily.

O diretor de “Achados e Perdidos” (2005), acrescentou que apesar do desequilíbrio, “a cinematografia latino-americana, brasileira, chilena, argentina, apenas têm sucesso quando podemos ver os países vizinhos em nossos filmes”.

Contudo, a situação da América Latina é vista pelos diretores com otimismo, principalmente pelo grande número de produções da última década e pela ampliação de apoios à realização.

Caiozzi, autor de filmes como “Julho começa em julho” (1979), “A Lua no espelho” (1990) e “Coroação” (2000), recordou que o “Chile quase não produzia no cinema e, hoje em dia, está produzindo de dez a doze filmes por ano, o que é uma boa quantidade para um país pequeno”.

O diretor chileno destacou que o progresso evidenciado pelo cinema regional durante a última década “não terá resultado estável na história se não ocorrer um desenvolvimento na divulgação. É isso que nos mantém tremendamente desunidos, aqui ninguém se preocupa com nada”.

Para esses cineastas, a necessidade de mecanismos de divulgação é um “problema econômico complicado”, e por isso pediram que políticas inovadoras fossem implementadas.

“Há um problema de divulgação. Temos um grande inimigo que é o cinema norte-americano, e talvez não tenhamos instrumentado políticas de defesa cultural maduras e coerentes na América Latina”, destacou Subiela.

O cineasta argentino destacou a política de reinvestimento de lucros para as empresas que produzem cinema brasileiro, e a qualificou como “a mais inteligente de proteção ao cinema nacional que existe na América Latina”.

O diretor de “Homem olhando o sudeste” (1986) e “O lado escuro do coração” (1992) reparou na necessidade de produzir cinema de qualidade. “Nos temos uma responsabilidade, não se pode obrigar as pessoas a irem ao cinema por decreto”.

Fonte: Agência Carta Maior

Marianela Jarroud Z.


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1Comentário

  • Marcos André Carvalho Lins, 16 de agosto de 2006 @ 15:46 Reply

    não há políticas maduras de defesa cultural , sem o mínimo da tutela estatal. o Estado brasileiro não cuida nem da educação, que dirá, do cinema nacional. sem Educação não há pressão popular, sem lideranças fortes e articuladas não há “soberania” cultural. sem o Estado não há como fazer frente às invasões alienígenas. sem o cinema nacional , esquece-se uma veia importante da nossa geografia humana. perde-se aos poucos a memória, os referenciais e passa-se a viver de modismos e idolatrias culturais, subvencionados pela ignorância.
    trata-se de um ciclo vicioso.

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