O mais popular dentre os clássicos da história da dança, coreografado por Ivanov e Petipa, com música de Tchaikovsky – “O Lago dos Cisnes” tornou-se protagonista nas discussões. O filme “BLACK SWAN” ou “ CISNE NEGRO”, em cartaz nos cinemas brasileiros, divide opiniões e está acirrando debates em todos os cantos. Uns apaixonados por dança, outros totalmente ignorantes em relação a esta arte, todos querem emitir seus pareceres. Se uma obra de arte tem o papel de comunicar, este filme o cumpriu.

Assisti “Cisne Negro” assim que entrou em cartaz, em Salvador. Junto de outros bailarinos, sabia que se instalaria uma polêmica logo depois de encerrada a sessão. Inevitável! Todos que já tiveram uma experiência mínima com o mundo do Ballet Clássico sabem que muitas informações apresentadas no filme não eram ficção.

Realmente, no mundo competitivo da dança profissional, principalmente nos grandes centros e nos balés mais tradicionais como New York City Ballet, Bolshoi ou Kirov, por exemplo, os transtornos obsessivos são desencadeados em virtude da busca da perfeição, expressão que a ganhadora do Oscar de melhor atriz, Natalie Portman,na personagem Nina, diz no filme em diálogo com o coreógrafo que a elegeu para o papel principal do balé. Mas, como não se trata de uma ótima cinematografia, o filme traz excessos, cenas “fakes” e um roteiro pouco informativo para os amantes ou não da dança.

Como exemplo, o cartaz de divulgação do filme traz uma foto da atriz com maquiagem marcante e uma coroa que já revelam o que o diretor pretende destacar. A imagem da bailarina delicada, frágil, etérea e diáfana é maculada e os signos presentes no cartaz gritam e premeditam.

Não quero aqui apresentar uma crítica, pois não sou crítica de cinema, apenas chamar a atenção para o fato de “CISNE NEGRO” não ser um filme de dança, trata-se de um filme sobre dança, com assuntos mais e menos verossímeis. Como Helena Katz escreveu, “um filme sobre dança apresenta a dança apenas como assunto, enquanto que num filme de dança, a dança passa a ser a linguagem do cinema”.

Quem quiser conhecer filmes de dança pode iniciar sua jornada com “Billy Eliot”, “As Cinzas de Deus”, “O Sol da Meia-Noite”, “Amor Sublime Amor” e “Flashdance”.


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Doutora em Comunicação e Semiótica (Políticas Públicas em Dança). Professora da Escola de Dança da UFBA. Diretora e bailarina do Grupo Gestus. Coordenadora do GDC/ UFBA. Co-realizadora do Fronteiras Brasil.

2Comentários

  • Nirlyn, 14 de março de 2011 @ 19:13 Reply

    Partilho o pensamento de Gilsamara em quanto a que o filme nao é de fato um filme de danca…este filme poderia tratar da obsessao, doencas psicoticas, etc…com qualquer outro assunto: esporte, música, dentre miles outros.
    Este filme é mais sobre as relacoes de poder e castracao entre as pessoas, a relacao com o corpo, a sexualidade, a incapacidade do disfrute, etc, etc…
    O ballet só se apresenta como assunto (bem escrito pela Helena Katz).
    Mesmo assim, e agora só pensando de uma forma bastante mais individual, pensando que gostei do filme, porque de certa forma da conteúdo cruel ao Ballet. Sempre se pensa no ballet asociado com a forma como se nos apresenta na cena…mas nunca como se vive por trás, achei interessante sentir medo e tensao, até nojo asociado ao ballet..como bailarina foi uma experiencia interessante.

  • Aline Vallim, 16 de março de 2011 @ 18:43 Reply

    Cisne Negro é um belo filme de terror. Aronofsky mostra de forma visceral o lado mais obscuro e obsessivo da consciência humana, a incapacidade de reconhecer limites, tensões e excessos na busca pela perfeição. Neste sentido, a dança clássica como pano de fundo é mais do que bem vinda tendo em vista que as podridões deste universo, na maioria das vezes, se encontram camufladas seja “ nas funções do mestre, do coreógrafo, do espelho, do estúdio, do palco italiano,do corpo hipertreinado, do corpo anoréxico, do corpo-imagem ou corpo-robô, sem vísceras nem desejo, sem excesso nem sombra” e até mesmo no modo como o ballet se configura no corpo.
    Acredito que o diretor não deixa duvida sobre o tipo de bailarino e que tipo de dança que está sendo abordado no filme, buscando assim garantir que não haja generalizações em relação à dança. E mesmo em relação a dança clássica acredito ser importante colocar que apesar deste contexto cruel existir realmente ele não é necessariamente uma regra ou premissa para se desenvolver um trabalho corporal a partir dessa técnica, o que nos leva a concluir que a problemática maior está focada num tipo de pensamento clássico e não na técnica em questão.

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