O jornalismo consegue dar conta da complexidade das manifestações culturais contemporâneas? Os jornais conseguem produzir reflexões sobre o que se passa hoje na cultura e nas artes? Este foi o tema de um dos debates no II Congresso de Jornalismo Cultural promovido pela Revista Cult este mês.
Daniel Piza, colunista do jornal O Estado de S. Paulo, sustenta que “divulgação é importante, mas não se pode viver só disso, nessa era fragmentada”. Segundo ele, o jornalismo está muito restrito à cobertura sobre os medalhões da cultura, faltando olhar crítico e contextualização.
Em sua avaliação, há poucos suplementos, jornais e revistas voltados para uma cobertura mais aprofundada, com ensaios. Esta produção migra para a Internet, onde o custo de publicar é menor. Ele também atacou a “censura tácita” exercida por certos jornalistas, que evitam falar mal de certos artistas, como se fossem “jubartes que não podem ser caçadas”.
A falta de diálogo entre jornais e academia também é um problema. Segundo Piza, é difícil encontrar intelectuais que se expressem de forma sedutora e jornalistas que entendem muito de um assunto. Temos poucos intelectuais com vida cultural fora dos muros da academia, como fizeram o francês Roland Barthes ou o alemão Theodor Adorno. “A cultura do ensaio não acadêmico é fraca no Brasil”.
Já Marcos Flamínio, editor do caderno Mais!, do jornal Folha de São Paulo, vê um problema na concorrência com a Internet, que traz uma grande profusão de artigos sobre cultura. “É impossível dar conta da complexidade da produção contemporânea”. Um dos motivos apontados por Flamínio é a sofisticação do saber acadêmico, cuja linguagem é inacessível ao leitor médio.
Além disto, a assinatura perdeu seu poder de legitimação de uma obra, como demonstra a recente polêmica sobre um suposto perfil do sociólogo alemão Jürgen Habermas no Twitter. A imprensa revelou que a página, na verdade, era feita por um estudante brasileiro, que citava trechos do último livro de Habermas. O próprio sociólogo, conhecido por sua resistência a aparecer na mídia, deu uma entrevista ao Financial Times desmentindo o boato.
Citando Habermas, o editor da Folha conclui que “a Internet é de natureza dispersiva, não é feita para ser a esfera pública”. Em sua avaliação, o jornalismo hoje é apenas reativo e precisa encontrar outras formas de resolver o impasse para não perder leitores.
Danilo Santos de Miranda, diretor do SESC-SP, acredita que hoje há muitos jornalistas de cultura “desinformados do básico” do assunto que cobrem. “O compromisso com as grandes corporações é maior que o compromisso com a sociedade e a população em geral”.
Miranda ressalta que é preciso abrir espaço para todas as tendências, incluindo as mais transgressoras, como a arte de rua e o grafite – que hoje ficam de fora dos cadernos culturais. Ele acredita que os jornais de cultura devem ter função educativa, no sentido de “compromisso com as novas gerações”.
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