De mãos dadas com o cinema autoral, num esforço para apagar de uma vez por todas a fama de “decadente” adquirida no princípio da década passada, o Festival de Gramado inaugura nesta sexta-feira sua 39ª edição com uma responsabilidade a mais: apresentar uma safra à altura da exibida em Paulínia, em julho, considerada uma das melhores do país nos últimos anos.

Surpresas já estão asseguradas na seleção de longas-metragens nacionais, com curadoria do crítico José Carlos Avellar e do cineasta Sérgio Sanz, uma dupla mais preocupada com invenções narrativas do que com o glamour outrora vigente no Palácio dos Festivais.

“Os festivais de cinema não competem entre si, mas competem todos eles com o mercado, trabalhando para ampliar o espaço de difusão e de reflexão de cinema. No caso de Gramado, a proposta é ampliar em especial o espaço para o cinema de autor feito entre nós e nos outros países da América Latina”, explica Avellar.

Eles selecionaram sete longas brasileiros e sete estrangeiros. Os 16 curtas brasileiros são resultado de uma seleção com curadoria de Hiron Goidanich, o Goidas. A Mostra Gaúcha terá 20 filmes, numa seleção conjunta da organização do festival e representantes da Assembleia Legislativa do Estado. O festival de cinema brasileiro virou internacional – latino – quando a quebra da produção ameaçou paralisá-lo, em meados dos anos 1990. Por mais que os títulos selecionados em todas as seções privilegiem um recorte estético e político (ou social), Gramado visa a ser um espelho da diversidade da produção brasileira e latino-americana.

Na abertura, o 39º Festival de Cinema Brasileiro e Latino exibe um longa já premiado em Paulínia – O Palhaço, de e com Selton Mello. A exibição faz parte da homenagem que Gramado presta a Selton, como ator que deu cara ao cinema brasileiro nas duas últimas décadas. A lista completa dos longas que integram a competição nacional está abaixo. São quatro ficções e três documentários do Rio Grande do Sul, do Rio, de São Paulo e Pernambuco.

Os longas estrangeiros são: A Tiro de Pedra, de Sebastian Hiriat, do México; El Casamiento, documentário de Aldo Garay, do Uruguai; Garcia, de Jose Luis Rugeles, da Colômbia; Jean Gentil, de Laura A. Guzmán e Israel Cárdenas, da República Dominicana, do México e da Alemanha; La Lección de Pintura, de Pablo Perelman, do Chile; Las Malas Intenciones, de Rosario García Montero, do Peru, Alemanha e Argentina; e Medianeras, de Gustavo Taretto, da Argentina.

Como já virou tradição, o festival faz duas importantes premiações honorárias. O prêmio Oscarito de 2011 vai para Fernanda Montenegro, a quem o espectador brasileiro deve interpretações inesquecíveis em grandes filmes (e isso sem contar a atriz poderosa que ela também é no teatro e na TV). O Prêmio Eduardo Abelim, que homenageia o pioneiro do cinema gaúcho e brasileiro, vai contemplar Domingos de Oliveira. Em 1966, com Todas as Mulheres do Mundo, ele não apenas revelou Leila Diniz como abriu o ciclo da comédia urbana contemporânea.

O festival abriga várias manifestações, como seminários, workshops e exibições especiais. Duas entidades, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema e a Associação de Críticos do Rio Grande do Sul, promovem amanhã uma importante discussão. Sob o título A Censura Voltou?, o que estará em pauta será a proibição do longa A Serbian Film, acusado de incitar a pedofilia.

LONGAS NACIONAIS

As Hiper Mulheres
de Carlos Fausto, Leonardo Sette, Takumã Kuikuro

O Carteiro
de Reginaldo Faria

Olhe Pra Mim de Novo
de Claudia Priscilla e Kiko Goifman

País do Desejo
de Paulo Caldas

Ponto Final
de Marcelo Taranto

Riscado
de Gustavo Pizzi

Uma Longa Viagem
de Lúcia Murat

*Com informações do Estadão.com e de O Globo Online


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

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