Exoneração de secretário acusado de irregularidade gera “demissão coletiva” de assessor especial de Gil, presidenta do IPHAN e coordenador-geral do Programa Monumenta Por Israel do Vale
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17/02/2004
A exoneração de Roberto Pinho do posto de secretário de Projetos Culturais do Ministério da Cultura, ontem, espalhou estilhaços para outras áreas do MinC. Em solidariedade a Pinho, três nomes de peso do segundo escalão do Ministério da Cultura demitiram-se hoje.
Em carta conjunta lavrada em tom de desencanto, com frases como ?o sonho acabou?, o escritor Antônio Risério (amigo de longa data do ministro Gilberto Gil e criador de termos como ?do-in antropológico?, enquanto autor dos principais discursos de Gil), a arquiteta Maria Elisa Costa (presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan) e o arquiteto Marcelo Ferraz (coordenador-geral do Programa Monumenta, principal canal de captação de verbas no exterior para preservação e restauro do patrimônio arquitetônico) manifestaram seu protesto em relação à decisão e anunciaram suas saídas.
Pinho foi demitido sob alegação de ?quebra de confiança? após a constatação, nas esferas técnicas do MinC e do ministério da Justiça, de irregularidades na contratação da empresa que coordenaria a implantação de 16 unidades das Bases de Apoio à Cultura ?ou BACs, como o governo tem chamado o projeto de instalação de centros culturais na periferia das cidades. As BACs são tidas como uma das meninas dos olhos desta gestão.
Abaixo, a íntegra da carta assinada pelos demissionários e endereçada ao ministro.
Brasília, 17 de fevereiro de 2004.
Senhor ministro:
Mais uma vez, infelizmente, o sonho acabou. No caso, o sonho ou a utopia de realizar, em nosso país e para o nosso povo, uma intervenção cultural realmente densa, rigorosa, democrática e criativa, através do Ministério da Cultura. Uma intervenção que, preservando o nosso passado, fosse também uma aposta no futuro. E que estivesse, acima de tudo, à altura da generosidade e do poder de invenção da nossa gente.
Mas é que o cotidiano rasteiro da politicagem e da intriga faz as suas cobranças. E pode investir para tentar destruir pessoas grandiosas. Pessoas preciosas, como é, para nós, o companheiro Roberto Pinho. O que está sendo feito com ele nos deixa perplexos. Estarrecidos. A mediocridade é sempre muito pequena ? e não dura no tempo. Mas a sua capacidade destrutiva pode ser, às vezes, muito grande. Não podemos, no entanto, aceitar o que está acontecendo. E o nosso gesto, neste momento, é da mais genuína solidariedade.
A deslealdade, a mesquinharia na disputa pelo poder, a ignorância, o descaso por tudo aquilo que é social e culturalmente mais importante e profundo, nos afastam agora deste Ministério. Não se trata de pedir demissão. Nós nunca nos demitimos de nada. Nós nunca conjugamos o verbo ?desistir?. Nós nunca optamos pelo silêncio e a omissão. Estamos, apenas, nos retirando de uma estrutura que permitiu e permite manipulações perversas. Estamos nos recusando a pactuar com o que estão lamentavelmente fazendo nesta casa. Estamos nos despedindo de tudo isso. Estamos anunciando a nossa saída.
Antonio Risério, poeta e escritor
Assessor Especial do Ministro da Cultura
Maria Elisa Costa, arquiteta
Presidenta do IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Marcelo Ferraz, arquiteto
Coordenador Geral do Programa Monumenta do Ministério da Cultura