O tema da terceira mesa do II Seminário #Procultura, realizado no último sábado (17/8) pelo Cemec e Cultura e Mercado, em São Paulo, foi “Cultura é um bom negócio? – Modelos e propostas de utilização do incentivo em ambiente empresarial”. Mediada por Leonardo Brant, teve Andre Degenszajn, secretário-geral do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), André Martinez, fundador da Aprax Inovação, Liliana Magalhães, vice-presidente da Associação Brasileira de Gestão Cultural (ABGC) e sócia-diretora da SOMOS – Cultura, Educação, Comunicação, e Mário Mazzili, gerente geral da CPFL Cultura.

Foto: Steve Davidson Logo no início do debate, André Martinez declarou: “Eu acho o termo ‘marketing cultural’ obsceno”. Para ele, as corporações têm mais a aprender com a cultura do que o inverso. “Não é uma relação de cliente e servidor. É  uma relação de acoplamento estrutural. É uma oportunidade da empresa entrar em contato com a comunidade, através de um investimento socialmente responsável”, justificou.

Já Liliana Magalhães enfatizou a importância de se “drenar” valores dentro das empresas e, principalmente, falar a língua delas. “Sabemos que quando o empresário resolve colocar a marca dele investindo no setor cultural, não pode estar focado só no lucro. Entretanto, o ambiente empresarial é muito feroz e competitivo, não há espaço para inovação. Como podemos querer que este empresário entenda a complexidade do mundo cultural?”, provocou Liliana.

Ela também defendeu a importância do meio cultural ensinar para a empresa o que é a cultura. “Além disso, existe uma gama de complexidade para lidar com o investidor e a linguagem dos jovens empreendedores é muito prática. Eles precisam dominar profundamente o projeto para conseguirem legitimidade diante do investidor”. De acordo com ela, quando se tem bons argumentos, se estabelece um diálogo de igual para igual e, assim, obtém-se respeito, reconhecimento e investimento por parte das empresas.

Negócio – Para Mário Mazzilli, da CPFL Cultura, cultura é um bom negocio desde que se consiga articular a ação com os valores da empresa. “As empresas têm que definir uma linha que faça sentido para elas”, explicou. No caso da CPFL, Mazzilli contou que, com as mudanças da privatização, muitas pessoas foram demitidas e instalou-se uma lógica nova, que gerou insegurança. “A empresa precisava mostrar que tinha democracia e complexidade para os funcionários. Por isso decidimos investir em organizar informações e conhecimento sobre o mundo contemporâneo”, justificou o empresário.

Mazzilli comentou que existe um levantamento que mostra que, entre os 100 maiores agentes econômicos, 40 são empresas. O Wallmart, por exemplo, tem praticamente o mesmo PIB da Argentina, e a própria CPFL tem o mesmo capital que o PIB da Armênia. “Não dá para desconsiderarmos as empresas como agentes econômicos”, refletiu.

“Algumas empresas entendem que precisam se posicionar para criar a confiança de público, sócios e clientes. O papel delas ganhou importância e agora precisam se posicionar de modo diferencial no mercado, incorporando na gestão da marca uma serie de atributos que são da cultura. Esses atributos são valores associados àquela organização”, concluiu.

O GIFE, que reúne empresas, fundações e institutos que fazem investimento social, faz a mediação entre o poder público e o privado. Andre Degenszajn explicou que a orientação para as empresas na década de 90, quando o GIFE surgiu, era de criar sua fundação ou instituto totalmente distante de seu negócio. “Hoje a realidade é outra e aproximar esse campo do seu negócio tornou-se uma questão fundamental”, explicou.

Degenszajn também lembrou que o investimento social é voluntário, mas as empresas também fazem investimentos sociais compulsórios. Para ele há um potencial de qualificar a atuação da empresa, seja na sua atuação para negócios seja para ações filantrópicas.

Aproximação – Entre as questões levantadas pelo público, destacou-se uma colocação sobre os principais erros e acertos do produtor cultural diante das empresas. A resposta da mesa foi unânime.

Mário Mazzili comentou a necessidade de que se estude a empresa antes de chegar com um projeto. “Veja o que já foi aprovado, qual a linha da empresa. Sempre existe um manifesto. A gente não avalia só se o projeto é bom o não, a gente se baseia na nossa linha de atuação e também avalia o alcance de público. Se não tiver abrangência, não é o jeito que a gente trabalha”, explicou.

André Martinez completou a resposta dizendo que os produtores falam o mínimo possível de seu projeto porque acham que o empresário não vai entender. “Toda a empresa tem uma política de investimento e é preciso buscar uma conexão com isso. É preciso entender que propósitos se alinham naquele sentido”, acrescentou o consultor.

Liliana ainda completou, explicando que de 70% a 80% dos projetos que chegam para as empresas não têm o menor cuidado com as informações que estão disponíveis no site. “As empresas geralmente têm outros espaços de diálogo com a sociedade. É interessante que se participe desses debates porque assim o produtor consegue conhecer e reconhecer a empresa de forma mais apropriada”, finalizou.


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Patrícia Lima é repórter do Cultura e Mercado.

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