Mais do que um gênero musical, junto com a Presidenta Dilma em sua viagem à China no dia 07 de abril, segue a própria Alma Brasileira que mereceu inclusive a nobreza deste título no “Choro Número Cinco” de Heitor Villa Lobos, o gênio brasileiro que está entre os dez maiores compositores da história da humanidade.

O choro brasileiro, livre em sua alma, é a expressão de todas as etnias e formas sentimentais do povo brasileiro. O Brasil jamais esteve divorciado dessa alma, dessa verdadeira identidade da nossa gente, tanto que Mário de Andrade sentencia que é esta, “a música popular brasileira a mais totalmente nacional e a mais forte criação de nossa raça até agora”.

Essa nacionalidade está condicionada aos fatores sociais e do tempo do próprio Brasil. O Choro Brasileiro não é um fenômeno isolado, mesmo atento às tendências de cada época e interligado com o sentimento de nossas artes. Se ele liga uma arte à outra, com o fio invisível que Camargo Guarnieri prefere chamar de “espírito do tempo”, o choro é o som e o ritmo desta forma humana de sentir e fazer a arte do Brasil. É um mundo geograficamente visto como uma peça de autêntica brasilidade. Ao mesmo tempo são os seus sons que fazem a ponte entre dois fundamentais movimentos brasileiros, o popular e o erudito. Por isso, o clima constante de disponibilidade emotiva dos segredos espirituais de nossa arte que esteve presente na Semana de Arte Moderna de 22, é revelado também com os sons do nosso povo.

Mário de Andrade descreve de forma poética essa criação espontânea que constrói de forma gradativa a síntese da linguagem da arte brasileira. “Enquanto o povo boliviano traz a entre seus lábios a folha de coca, o povo brasileiro traz em seus lábios a sua música, a sua melodia”. Uma melodia alicerçada na filmagem de seus próprios sentimentos, favorecendo todas as nossas infinitas fusões.

E é desta originalidade formidável que Mário de Andrade faz uma análise de um dos clássicos do choro brasileiro do nosso gênio Pixinguinha que, aliás, é justo no mês de abril que, em homenagem ao seu nascimento, é comemorado no dia 23 o Dia Nacional do Choro. Em nota, Mário de Andrade diz sobre “Urubatã” de Pixinguinha: “Disco admirável. Riqueza e beleza de combinações instrumentais. Alfredo Viana é o próprio Pixinguinha. O título “Urubatã” é digno de nota. Urubatã é um deus do catimbó cuja melodia registrei no Nordeste. Pixinguinha, macumbeiro contumaz carioca, denominando uma obra sua em nome de Catimbó”.

Ao mesmo tempo em que esta alma brasileira, o choro, é homenageada na viagem da Presidenta Dilma à China, Chiquinha Gonzaga, a mais legítima representante das mulheres brasileiras, aparece como uma das figuras centrais desse caráter nacional que é o choro brasileiro. Pois foi ela, Chiquinha que, ao lado de Joaquim Antonio Callado, fixou com detalhes e de maneira afirmativa o termo “choro” como um gênero rigorosamente brasileiro, extraído da multiculturalidade manifestada pelo povo até aquela época, a segunda metade do século XIX.

E, mais uma vez, como disse Mário de Andrade: “Francisca Gonzaga continuou demonstrando ao Brasil como eram ricas as peças populares”, com o seu caráter generalizado com que ela compunha e executava para deixar impressa esta alma nas instituições oficiais do Brasil, sendo o Corta Jaca – Gaúcha o seu mais conhecido e executado choro.

Todos estes documentos distintos que seguem nesta viagem de Dilma à China, são símbolos que estão contidos no extraordinário repertório do grupo Choro Livre liderado e legitimado por um dos mais importantes personagens da história contemporânea da música brasileira, Henrique Filho, o Reco do Bandolim que, além de uma apresentação crítica e refinada, leva uma obra positivamente artística como instrumentista, bandolinista, compositor e Presidente do Clube do Choro de Brasília que é hoje considerado o templo sagrado da música instrumental brasileira. E é esta mesma síntese que possibilitou a expansão dos horizontes de sua liderança frente ao choro contemporâneo brasileiro que ergue agora o Espaço Cultural do Choro em Brasília, com a assinatura de Niemeyer e que deixa cada vez mais expresso que a capital do Brasil é também a Capital do Choro Brasileiro.

Por isso temos muito que comemorar essa demonstração de respeito e carinho que a Presidenta Dilma tem com o universo multidisciplinar que é a manifestação musical do Brasil. Um universo riquíssimo que reflete a característica do nosso povo que conforma a produção humana do país com a realidade da arte nacional.


Bandolinista, compositor e pesquisador.

4Comentários

  • Lenon Rodrigues, 8 de abril de 2011 @ 21:07 Reply

    Viva o Choro! Viva a Música Brasileira!

  • gil lopes, 9 de abril de 2011 @ 2:20 Reply

    Muito bem Carlos, viva a música brasileira! Essa manifestação da presidente faz todo sentido e engrandece o país, por que receber Bono do U2? francamente…porque recebê-lo? A Presidente da República? é muito provinciano. Será que ele vem aqui falar da Amazônia, cadê o Sting, lembram-se? Lula recebeu Lenny Kravitz…por que? Pra que? Que Presidente da República receberia? Temos a contra partida? Onde já se viu isso? Fazer promoção de show estrangeiro, na cara? Shakira…é muita vulgaridade, muito provincianismo. Dilma com todo respeito fica muito melhor ao lado do nosso Choro, das nossas atrizes, na plateia de teatro de uma peça nacional, queria vê-la ao lado de Bethânia, de Caetano, de Chico Buarque, isso sim…e do Martinho da Vila, e tantos…isso sim. Temos que definitivamente fazer a opção pela cultura nacional, começarmos a engendrar um interesse diferenciado, uma política diferenciada, que privilegie o conteúdo nacional na Cultura, isso deve ser uma decisão do país. Parabéns Carlos, vc com o bandolim não é mole não…heavy metal Brasil!

  • Marcello Machado de Campos Laranja, 9 de abril de 2011 @ 15:39 Reply

    Maravilha, meu caro Carlos Henrique, essa manifestação é digna de todos os aplausos. Conversei com nosso companheiro Reco por email um pouco antes da ida do Choro Livre à China. Mesmo de longe sinto-me totalmente integrado ao movimento do Choro e, peço licença para, me locupletar na felicidade de todos os companheiros de luta em prol da cultura musical brasileira. Só assim combateremos veementemente a tranqueira, a coisa comercial descartável, o imediatismo e a sanha dos grandes e poderosos produtores, enfim, todo esse mal que nos aflige. Isso somente acontecerá com unidade de pensamentos, coesão, firmeza de idéias e de propósitos. Estamos no caminho certo…!

    Abraços

    Marcello Laranja (Clube do Choro de Santos)

  • Fernando, 9 de abril de 2011 @ 20:58 Reply

    Quem sou para comentar sobre música e músicos.
    Precisamos sempre incentivar, trabalhar em prol da educação.
    O País tem ótimos músicos, uma música invejável, no mundo.
    Mas, se a juventude que vem por ai não estudar, vai tudo por água-abaixo.
    Sim, somos uma mistura, gostamos de músicas daqui e de lá.(dos anos 80 atrás gosto de quase tudo)
    Desde “Moleque”, sem conhecer de tudo já brigava com a tal MÍDIA.
    Só iremos mudar o País com este “trabalho de Formiguinha”, pois a mídia, não gosta de arte, gosta é de $$$$$$ e dane-se o resto.
    Quanto a políticos, é melhor nem lembrar que eles existem…. : – )

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