Um breve “rolê” revela livros, autores e histórias da Literatura feita na periferia de São Paulo. Na últimaquinta-feira (8/11), a periferia esteve em peso na Av. Paulista. No Shopping Center 3, na Livraria Nobel, acontecia lançamento dolivro 85 letras e um disparo, do escritor Ademiro Alves, o Sacolinha.Trata-se do terceiro da coleção Literatura Periférica,da Editora Global, que, além do livro de Sacolinha, lançouColecionador de Pedras, do poeta Sérgio Vaz, e Guerreira, deAlessandro Buzo. Até o final do ano, Da Cabula – Istóriapa tiatru, de Allan da Rosa e De Passagem mas não a Passeio,da escritora Dinha, estarão nas livrarias.
Quando ReginaldoFerreira da Silva, o Ferréz, lançou seu livro CapãoPecado, em 2000 muita gente achou que o fenômeno da literaturaproduzida na periferia era algo isolado. Mas, quatro anos depois,quando o escritor assinou contrato com uma grande editora, a Objetiva,e editou três edições de um especial da revistaCaros Amigos que atendia pelo nome de Literatura Marginal, os maisespertos entenderam que algo estava em curso nos subúrbios dacidade.
Some-se a isso os seisanos de Sarau da Cooperifa, poesia pulsando toda quarta-feira naChácara Santana, além do Sarau do Binho e outroseventos, que, sem visibilidade nem dinheiro, agregaminúmeras pessoas. Exemplo recente foi a Semana de Arte Modernada Periferia, que aconteceu na semana passada.
Eleilson Leite,coordenador da ONG Ação Educativa, já eraconsultor da Editora Global e foi a ponte entre a editora e osescritores. “Quando notei a pujança da literaturaperiférica, propus logo uma coleção porquepercebi que havia mercado. E tem que ser uma editora grande, para teruma distribuição nacional, presença nasprincipais livrarias, publicidade e possibilidade de venda em grandeescala para programas governamentais”.
Eleilson conta quepercebeu essa tal pujança quando fez as contas e notou que,juntos, os livros independentes de Allan da Rosa, Dinha, Sergio Vaz,Alessandro Buzo e Sacolinha haviam vendido mais de 5 mil exemplares. “Otermo literatura periférica funciona como um diferencial. Aquiem São Paulo ele já é bem assimilado. Acho queem termos de mercado funciona bem, mas a afirmação dacultura de periferia tem um sentido político de relevar aprodução artística dos que estão fora domercado.”
A totalidade dosescritores periféricos possuí experiência delançamentos independentes que, apesar de trazerem poucoretorno financeiro, pelo menos retornam para o escritor quase quecompletamente. “Se fosse viver só da venda de livros morriade fome. Mas no independente você vende no varejo e tem sempreuma moedinha entrando”, conta Buzo.
É consenso que oselo da Global possibilita o desejo maior de todos: o de serem lidospor mais e mais pessoas. “A maior vantagem é oreconhecimento e facilidade dos leitores encontrarem o livro,distribuído em todo o Brasil. Sempre fui muito práticopara vender livro via correio, mas é diferente, a pessoa temque mandar a grana antes e muitos não confiam nem na própriasombra”, opina Buzo.
Já Sacolinhaacredita que um escritor não precisa ser um vendedor e “sairpor aí vendendo livros”. Para o autor, o fato de ter seutítulo em uma grande editora não provoca prejuízos.”Se queremos evoluir, precisamos de estrutura. A nossa arteprecisa chegar nas mãos de todo mundo, quero que todos leiam oque escrevo, caso contrário, não tem sentido”.
Se, por um lado, oslivros independentes, carregados nas mochilas e vendidos de mãoem mão atingem um público que mora nos bairros daperiferia, por outro, os escritores concordam que o número deleitores nessas regiões ainda é pouco, seja por faltade hábito, seja por falta de dinheiro. “A periferia compra,mas o grande consumidor não é ela e sim as pessoas quenão convivem com a nossa realidade. A classe média quersaber quem somos, o que comemos, como vivemos”, explica Sacolinha,que teve 400 exemplares de seu 85 letras e um disparo comprados poruma escola particular da Grande São Paulo.
Manufatura de livros
Com dez livros lançados,o selo Edições Toró, criado por Allan da Rosa em2005, já viabilizou o sonho de muitos de ver seus escritosreunidos em um livro bem acabado, feito artesanalmente, com materiaiscomo conchas, chita, juta e outros detalhes especialmente pensadospor e para cada escritor. Ao todo são 5700 livros vendidos atéagora. “A gente chega onde a livraria não chega. Naperiferia não tem livraria”, conta ele, que, no entanto,acredita que seu livro lançado pela Global poderáatingir leitores de outros estados. “Mas temos que tomar cuidadopara não nos tornarmos uma moda. Para nós, o livro énecessidade de expressão”.
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