Na tarde da última quarta-feira (23/11), o seminário de jornalismo online MediaOn recebeu, no Itaú Cultural, em São Paulo, Sérgio Martins, Cláudio Prado, Marcos Maynard e Tatá Aeroplano, mediados por André Jung, para discutir os efeitos da internet sobre a produção e distribuição da música – e o reflexo disso no trabalho jornalístico.
Sérgio Martins, repórter da revista Veja desde 1999, iniciou a discussão citando o livro “Dirty Little Secrets of the Record Business”, de Hank Bordowitz. Segundo ele, o grande erro da indústria musical foi perder a oportunidade, no início da internet, de dialogar com as plataformas de distribuição de música online, sobretudo o Napster. Ao condená-los como os piratas da internet, geraram uma briga que contrapôs o produto gratuito ao pago, e saíram perdendo.
Produtor, músico, advogado e administrador, Marcos Maynard – que dirigiu gravadoras como Polygram, Abril Music e EMI – concordou. “Eu estava lá nessa hora em que as gravadoras estavam lutando contra o Napster, contra a ‘pirataria do ar’. […] Meu enteado me falava que isso não teria mais volta, e ele estava certo”.
Para o músico Tatá Aeroplano, que já lançou 5 discos desde 2003 com as bandas Jumbo Elektro e Cérebro Eletrônico, o processo de produção melhorou muito a partir da internet e da profusão da comunicação. E Cláudio Prado, presidente da ONG Laboratório Brasileiro de Cultura Digital, atentou para o momento pós-industrial que vivemos. “As revoluções tecnológicas liquidam paradigmas anteriores, e a digital é profundamente concentrada, rápida e fatal. A era em que a economia estabelece o padrão sobre o que vai bem ou não acabou.”
O ponto comum entre representantes de setores diversos da música é que a indústria fonográfica perdeu de vez o espaço. Hoje, tanto o sistema de produção ficou mais barato – é possível produzir discos dentro de casa, sem depender de estúdios e profissionais –, como a fase de divulgação se tornou mais ampla e menos relevante. A crítica perdeu a fama de óraculo das novidades fonográficas e se difundiu através de blogs e tumblrs, nos quais qualquer pessoa pode dar opiniões e formar um público.
Perdida a oportunidade que as gravadoras tiveram de se alinhar com a internet, a geração do final dos anos 1990 e início dos 2000 se adaptou ao download gratuito de música. Esse vácuo da indústria fonográfica, segundo Maynard, também foi irreversível: o público da internet, que é constituído principalmente por jovens já nascidos na geração digital, não aceita pagar por música e a escuta de modo muito mais disperso do que antigamente.
O produtor acredita que só existe hoje uma saída para que o artista volte a ser valorizado financeiramente, como ocorria na época de vendas de discos: o patrocínio por empresas, que arcariam com os custos e distribuiriam a música de graça para as pessoas.
Para os artistas tidos como independentes, como é o caso de Tatá Aeroplano, tal financiamento ainda não foi explorado. Muitas vezes, no entanto, eles contam com o apoio de incentivos governamentais. O maior exemplo disso é a rede Fora do Eixo – que utiliza verbas da Petrobrás – e promove shows de bandas independentes em todo o Brasil. Para Claudio Prado, o projeto é um sucesso por ter entendido intuitivamente que o âmbito de circulação da música é cultural, e não apenas econômico.
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