Depois do anúncio, no mês passado, de que o Tereza Rachel, em Copacabana, voltará a funcionar como uma sala de espetáculos, mais uma boa notícia toma conta do setor: o Dulcina, na Cinelândia, fechado há quatro anos, será finalmente reaberto, no dia 2 de agosto, com um espetáculo em homenagem à dama que dá nome à casa, e que irá reunir, pela primeira vez em cena, Bibi Ferreira, Marília Pera e Nathália Timberg.

“Estamos acertando os últimos detalhes… Ainda temos que colocar o nome Dulcina na fachada. Mas o teatro ficou lindo, não é?”, pergunta Antônio Grassi, presidente da Funarte, instituição responsável pelas obras e pela gestão do espaço.

Além do show inaugural, Bibi Ferreira também abre a programação especial organizada pela Funarte. No dia 5 de agosto ela estreia, para uma temporada de duas semanas, “Bibi in concert IV”, em que revisita, através de histórias e canções, momentos marcantes de 70 anos de carreira. Alguns deles vividos no próprio Dulcina, onde encenou peças como “O’mistress mine”, “Madame Bovary” e “A pequena Catarina”. Bibi, que conviveu de perto com Dulcina dentro e fora dos palcos, não esconde a emoção de voltar ao teatro para homenagear a amiga.

“Reabrir um lugar com essa tradição é muito importante. Dulcina tinha um amor epidérmico pelo teatro. Não era dada a roupas, carros, rompantes de estrelismo. Era uma mulher simples. Comia seus galetos, amendoins e era feliz, porque estava sempre no teatro. Tinha uma devoção e uma capacidade magnânima de trabalho”, lembra.

O teatro ganhou este nome depois de ser comprado, em 1952, pelo casal de atores Dulcina de Moraes (1908-1996) e Odilon Azevedo. Antes disso, a casa, inaugurada em 1931, tinha o mesmo nome do prédio que a abriga, no número 17 da Rua Alcindo Guanabara: Regina, mantido ainda em relevo na fachada. Ele passou por altos e baixos: um incêndio em 1944; a reabertura em 1946; a instalação no espaço, por Dulcina e Odilon, da Fundação Brasileira de Teatro, escola de formação de atores criada e dirigida pela atriz; e, finalmente, a venda do espaço, em 1977, ao Ministério da Educação e Cultura. Desde 2011, percalços envolviam a administração da sala (ora nas mãos da prefeitura, ora sob o comando da Funarte), o que fez com que, em 2007, o Dulcina fechasse as portas.

A restauração que devolve ao público o teatro onde foram vistos sucessos como “Trate-me leão” (1976), com o grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, e “O percevejo” (1981), de Maiakóvski: seguiu à risca o projeto original, consumindo R$2,3 milhões para repaginar o espaço e oferecer novas acomodações — 429 lugares distribuídos por plateia, frisas, camarotes e galeria. O palco italiano — com 9 metros de profundidade, 1,30 metro de proscênio e 7 metros de boca de cena — foi completamente recuperado, depois de ter sido demolido e ter seus escombros usados como cenário por Bia Lessa para a montagem de “Medeia”, em 2004, por exemplo. Localizado a poucos metros do Municipal, o Dulcina injeta ainda mais ânimo a um corredor cultural que já conta com o Teatro Rival, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes e o Palácio Gustavo Capanema.

“É um espaço que, no Brasil, e no Rio, se tornou raro, o teatro de rua. Ele integra e alimenta toda a Cinelândia, com seus bares, teatros, cafés”, diz o presidente da Funarte, ele próprio, como ator, com passagens pela casa, em “O amigo da onça” (1986), dirigida por Paulo Betti, e “A serpente” (1991), com Antonio Abujamra à frente da Cia. Fodidos Privilegiados.

A companhia, que depois ocuparia o teatro de 1996 a 2001, celebra seus 20 anos de atividade com “Uma festa privilegiada” (26, 27 e 28 de agosto), montagem que amarra cenas de sucessos do grupo como “Um certo Hamlet”, “O casamento” e “Auto da compadecida”.

É também na casa renovada que Karen Acioly vai encenar a ópera “Fedegunda” (estreia dia 9 de agosto), e que Fernanda Montenegro pisa pela primeira vez naquele palco, com o monólogo “Viver sem tempos mortos” (dias 19, 20 e 21 de agosto).

“Reativar esse espaço é fazer justiça a uma mulher de dimensão única. Dulcina se empenhou em valorizar o autor nacional, em revelar autores internacionais contemporâneos que não conhecíamos, abriu concursos para o surgimento de novos autores, lutou para que as atrizes não precisassem usar carteirinhas de prostituta, foi a Brasília fundar uma escola de arte… Era uma mulher engajada. Uma presença marcante como atriz, educadora e animadora cultural. Não há quem não tenha sofrido a sua influência”, diz Fernanda.

Peter Brook – Em setembro, o projeto Mambembão traz “Drummond” e “Os gnomos contam a história do gato Malhado e a andorinha Sinhá”, ambos do Grupo Ponto de Partida (MG). No mesmo mês, o diretor inglês Peter Brook encena nos dias 7, 8 e 9 seu mais recente espetáculo, “A flauta mágica”.

Grupos, companhias e produtoras têm visitado o teatro, de olho em suas dimensões e possibilidades de uso. Avisado por Grassi da reabertura, o diretor Hamilton Vaz Pereira, que à frente do Asdrúbal estreou no local “Trate-me leão”, celebra a reabertura do Dulcina.

“O Asdrúbal existia há três anos quando levamos ‘Trate-me leão’ para lá. Na primeira semana, iam nos assistir senhores e senhoras que circulavam por ali, até que uma rapaziada jovem começou a lotar o teatro. Formamos um público diferente, esquizoide! Já tínhamos algum sucesso, mas foi essa temporada no Dulcina que nos deu projeção nacional. É… São coisas de que lembro agora e vejo como foi importante e rica aquela época.”

*Com informações de O Globo


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