A arte digital não tem fronteiras, é ativista, inovadora e, sobretudo, hacker. O conceito, tido por muito tempo como ‘ilegal’, agora é o caminho para explorar códigos e ampliar cada vez mais os limites da cultura atual. Esse avanço poderá ser visto e melhor entendido durante o Festival CulturaDigital.Br, que entre os dias 2 e 4 de dezembro vai se revezar em atividades no Museu de Arte Moderna (MAM) e no Cine Odeon. Sob a chancela do músico Gilberto Gil, ‘embaixador’ do encontro, bit-coins, softwares livres, periféricos e mentes criativas de todo o Brasil e de diversas partes do mundo vão se encontrar para apresentar projetos e discutir as várias frentes que assume a junção entre arte e tecnologia.

Após cerca de 400 projetos inscritos, vindos de 20 países, as 100 propostas aprovadas indicam que a pluralidade é o caminho principal do festival. A ideia é agregar as várias vertentes que a cultura digital envolve, como explica Cícero Inácio da Silva, um dos 11 curadores do festival e responsável pela programação: “Entendemos que o conceito de cultura digital serve para toda a produção cultural afetada pela digitalização. Ela é a implicação do digital nas mais variadas áreas, que vão da literatura ao cinema, passando pelas artes plásticas e tantas outras. Os e-readers mudaram a forma com a qual lidamos como a literatura, o cinema se modificou com novas tecnologias e até o jornalismo está sendo afetado pela digitalização.”

Com a presença de produtores, pesquisadores, ativistas e do público em geral, o CulturaDigital.Br será totalmente gratuito. Os temas apresentados vão desde processos colaborativos a cartografias, passando por laboratórios digitais e a discussão entre propriedade e liberdade. O evento conta com patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, e da Petrobras.

Para lidar com campos tão diferentes, os curadores procuraram reunir as produções mais interessantes de cada área, seguindo alguns critérios: “Buscamos trabalhos que dialoguem com as nossas realidades e com a contemporaneidade. Fizemos a seleção de projetos maduros e que cobrissem algumas dessas grandes áreas da cultura, como audiovisual, performance, arte, políticas culturais e música. Para os projetos mais inovadores, fizemos uma pergunta: É plausível?”, explicou o curador.

Hackers na estrada – Entre os projetos brasileiros que chamam atenção, está o Ônibus Hacker, que vem munido com webcam, conexão 3G, GPS, e vai levar diversos projetos do grupo Transparência Hacker para pequenas comunidades. Recentemente financiado via crowdfunding, o ônibus serve de laboratório e meio de transporte para hackers desenvolverem oficinas, mapear processos, abrir contas públicas e trabalhar conceitos de cidadania.

A proposta é do coletivo Transparência Hacker, que conta com 800 cyber-ativistas, como Daniela Silva, que apresenta a proposta do grupo. “Trabalhamos com o processo político, criando formas para que ele seja mais aberto. Um dos nosso projetos é o site chamado Jogo da Vida do Processo Legislativo, no qual usamos dados hackeados do Senado para entender melhor os trâmites dos processo de lei e os atrasos que acontecem.”

Além dos projetos, a programação de palestras com convidados renomados é outra atração do festival. Ocupando o Cine Odeon, as discussões serão capitaneadas por nomes internacionais como Kenneth Goldsmith, criador do site UbuWeb, e Phillippe Aigrain, integrante da Sociedade pelos espaços de informação pública (Sopinspace). Dois representantes brasileiros também vão marcar presença: a pesquisadora Heloisa Buarque de Hollanda e o escritor Paulo Coelho, que vai participar do CulturaDigital.Br via vídeoconferências, bem aos moldes virtuais.

Abertura em 4K – A programação do evento, surgido há dois anos em São Paulo com o nome de Fórum de Cultura Digital, vai apresentar diversos eixos, que vão de ‘Mostras de Experiências’ a ‘Encontro de Redes’. A abertura, no dia 2, fica por conta da palestra do professor da Universidade de Harvard, Yochai Benkler. Depois, uma experiência audiovisual vai tomar a tela do Cine Odeon no final da noite. Fruto do trabalho da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, o pioneiro curta-metragem EstereoEnsaios conta com direção de Jane Almeida e abusa da tecnologia e do conceito de ultradefinição, sendo classificado como um filme em 3D e 4K.

Além de ser um dos curadores do festival, Cícero Inácio da Silva também participou do processo de pesquisa do projeto para o curta, que envolveu diversas faculdades de diferentes estados: “Para promover o estudo de como fazer transmissão por redes de alta velocidade, desenvolvemos uma produção de conteúdo de ultradefinição, a mais alta possível. Com a inovação, cada frame da imagem passa a ter cerca de oito milhões de pixels. A diretora Jane de Almeida apresentou a ideia de retomar o início do cinema, e para isso fomos às primeiras imagens do Rio, com paisagens, e filmamos as mesmas tomadas, mas capturadas de outras formas”.

*Com informações do site da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro


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