Foto: Amanda C.
Uma questão intrincada continua afligindo toda a população brasileira, sobretudo em nosso Estado, onde tivemos índices horripilantes nos últimos tempos: a violência desmedida e o crime como manifestação cotidiana nos vários estratos sociais. Somos bombardeados cotidianamente pela mídia televisa com notícias e imagens de chacinas, esquartejamentos, assassinatos fúteis e estupros de crianças, entre outras atrocidades.

Por outro lado, grande parte de nossas crianças e jovens cultuam através de videogames, jogos interativos e atitudes na escola e na rua o exercício da agressividade, da humilhação do outro e do desrespeito ao próximo. Os filmes americanos, em sua maioria, assistidos diariamente em nossos cinemas e em nossas TVs, especializaram-se em mostrar que o outro, o diferente, não vale nada e, portanto, matá-lo, eliminá-lo, é um ato tão simples como comer, beber ou fazer sexo, sem quaisquer consequências éticas ou morais.

O que será que na estruturação de nossa sociedade e em nossa formação moral contribui tanto para o fomento do crime, as condutas infames e a falta de senso de justiça? Tendemos a identificar as raízes da violência apenas nos jovens por eles constarem em maior número das estatísticas de crimes. Mas como fornecer-lhes bons exemplos e oferecer opções e referências de outras formas de agir possíveis e desejáveis?

Cenas de terror e falcatruas escandalosas já fazem parte do nosso dia a dia. No Congresso Nacional, em inúmeras câmaras municipais e assembleias legislativas parece que uma mão suja a outra. Em muitos casos escabrosos – os vários bilhões oriundos da ajuda humanitária aos bancos, por exemplo -, aplica-se a lei do silêncio quanto à real utilização e finalidade desses recursos. Ao mesmo tempo, o despreparo técnico-moral de grande parte de nossas polícias é imoralmente oposto à competência com que se rouba, se desvia, se acoberta, se desmancha e se mata em nosso país.

Um filme de terror se desenrola muitas vezes na vida privada quando aceitamos os comportamentos torpes como formas de conduta normais, uma vez que não ferem a lógica do que vemos todos os dias na televisão e nos jornais.

Na arte grega, destruir ou matar o outro só faria sentido se fosse para almejar a glória. De qualquer modo eram tragédias dotadas de uma profunda dimensão espiritual, mesmo que reprováveis. Não eram ações banais e corriqueiras motivadas por objetivos mesquinhos.

Para Freud, a agressividade e o impulso destrutivo pertencem à esfera do instinto que deve ser controlado pelos valores da civilização. Nesse sentido, como agimos em nosso cotidiano? Os momentos em que somos submetidos a uma pressão psicológica intensa, por exemplo, testam os fundamentos de nossa existência: os nossos valores, a nossa formação moral, o nosso senso de justiça e o nosso caráter. É a prova dos 9. Podemos afundar na lama ou crescer interiormente. A escolha é nossa.

Temos então todos uma responsabilidade séria diante da vida: deixar referências e exemplos que possam frutificar e serem seguidos por quem já veio e ainda virá.


Gestor Cultural, diretor de teatro, dramaturgo e tradutor. Foi gerente na Secretaria de Políticas Culturais do MinC e é sub-secretário da cultura do Espírito Santo.

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