No último sábado (6/8) completou-se dez anos da morte de Jorge Amado. E, na próxima quarta-feira (10/8), serão 99 de seu nascimento. Neste dia, numa “merenda” na Fundação Casa de Jorge Amado, em Salvador (BA), começa oficialmente o ano do centenário do escritor, com a divulgação dos eventos que vão preencher a agenda de comemorações. Antes de 2012 chegar ao fim, Jorge estará por todos os lados: no museu, cinema, teatro e até mesmo em seu amado carnaval.
O ponto alto da celebração será a exposição “Jorge, Amado e universal”. Ela ocupará 400 metros quadrados do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, entre os meses de março e julho e, em seguida, migrará para o Museu de Arte Moderna de Salvador, onde ficará aberta ao público até outubro de 2012.
“É uma exposição em primeira pessoa. Dividiremos o espaço em quatro áreas: Jorge por Jorge, Jorge por terceiros, Jorge internacional e a produção de Jorge, onde o visitante poderá ver documentos dele. Mantendo o estilo do Museu da Língua Portuguesa, haverá muita interatividade e uma elevada porcentagem de ineditismo”, adiantou ao jornal O Globo o curador da mostra e diretor do Instituto Brasil Leitor, William Nacked.
Nacked, que começa a prospectar o acervo do escritor em setembro, planeja uma exposição modular que possa ser ainda mais itinerante. Em seus planos, “Jorge, Amado e universal” também será exibida no Rio de Janeiro, em Brasília, Porto Alegre e no exterior, mas ainda não há acordos fechados para isso. “Ele foi tão embaixador do Brasil no exterior quanto Vinicius de Moraes. O volume de personagens que criou é tão grande, tão representativo do país e tão contemporâneo que assusta. Não há dúvidas de que a exposição será popular. Só em São Paulo, esperamos uns 400 mil visitantes.”
O segundo grande evento do ano Jorge recai sobre sua neta Cecília Amado. No dia 14 de outubro, ela estreia em circuito nacional o longa-metragem “Capitães da areia”. O filme é baseado no livro homônimo de 1937 e tem direção e roteiro assinados por ela.
No teatro, Jorge Amado ganhará vida pelas mãos do diretor pernambucano João Falcão. Em 2012, ele transformará “Gabriela, cravo e canela”, romance de 1958, em musical. “Neste fim de semana vou me reunir com o inglês Kevin Wallace, coprodutor da peça, para afinar os detalhes. A ideia é ser fiel ao livro e estrear no Rio, mas ainda não sabemos onde nem quem será a nossa Gabriela”, diz Falcão, no suspense.
Detentora dos direitos sobre a obra completa de Jorge desde 2007, a Companhia das Letras chega ao ano do centenário lançando uma versão ilustrada das memórias “Navegação de cabotagem” (1992), ao menos dois títulos em formato de bolso (hoje só existe “Capitães da areia”) e uma caixa temática ainda não definida. “Encontrei fotos que a Hildegard Rosenthal (fotógrafa suíça) fez de Jorge Amado. Elas e outras preciosidades garimpadas em Salvador, Rio e São Paulo estarão nessa edição especial de ‘Navegação'”, conta Thyago Nogueira, editor da coleção.
Para Nogueira, 2012 será o ano da revalorização literária do escritor. “Por um tempo, talvez por ter ficado associado à novela, ao universo popular, ou por ter uma posição política forte, Jorge Amado sofreu certo preconceito. Mas ele tem uma importância e uma qualidade indiscutíveis. Trouxe para a literatura personagens que não existiam nos livros, como os meninos de rua de ‘Capitães da areia'”.
Também vai merecer destaque o primeiro volume do “Catálogo fotográfico de Zélia Gattai – A casa do Rio Vermelho”. A obra sai este mês e reúne mais de mil fotos de Jorge com a família, feitas por sua mulher, na propriedade que o casal considerava seu porto seguro, em Salvador. O livro – de onde saíram as imagens desta página – é fruto da digitalização que a Fundação Casa de Jorge Amado realiza do acervo do escritor e de Zélia. “São 20 mil textos de Jorge e 25 mil fotos de Zélia. É uma tarefa árdua, mas bonita”, conta Myriam Fraga, diretora da fundação.
Criada em 1986, a organização não governamental ocupa um casarão azul claro de três andares no Largo do Pelourinho e recebe uma média de cem visitantes por dia. A fundação ainda entra no centenário de Jorge oferecendo, junto com a Academia de Letras da Bahia, o curso “Jorge Amado – Colóquio de literatura brasileira”, de 22 a 27 de agosto. “Serão conferências e mesas-redondas na academia que versarão não só sobre o autor. Temos 200 vagas e já existem 140 inscritos. Vamos repeti-lo todos os anos daqui para a frente”, conta Myriam.
E, como não poderia deixar de ser, Jorge vai virar samba no Rio – no enredo da Imperatriz Leopoldinense – e axé em Salvador, onde a prefeitura decidiu transformá-lo em tema da festa em 2012. “Os personagens de vovô sempre permearam o carnaval da Bahia. Uma morena bonita é sempre Gabriela, uma menina com dois amigos, Dona Flor… Mas, agora, os personagens vão enfeitar postes, árvores, muros. Vai ficar mais lindo”, diz João Jorge Amado Filho, responsável pela folia dos cem anos.
João Jorge é também o homem forte por trás do camarote de 924 metros quadrados que será construído em homenagem ao avô no circuito Barra-Ondina. Nele, receberá mil convidados por dia de carnaval e, apesar de ainda não ter disparado convites, quer reunir Betty Faria (que fez Tieta), Sonia Braga (Gabriela), Edson Celulari e Marcelo Faria (Vadinho), além de outros atores que popularizaram a obra do avô.
A quem – com razão – ficar atordoado com o tamanho da oferta cultural em torno de Jorge, João Jorge sugere uma visita ao portal www.centenariojorgeamado.com.br , que estará ativo na quarta-feira, com a agenda completa dos eventos e informações sobre o autor.
“Nós, da família, montamos uma comissão para avaliar dezenas de projetos. Haverá programa para todos”, explica ele.
*Com informações de O Globo Online