Até ontem, aconteceu o II Congresso de Jornalismo Cultural, no TUCA, no teatro da PUC, em São Paulo. Estivemos por lá, registrando fato, debates, entrevistando alguns convidados do evento. Vamos fazer algumas matérias aproveitando o debate. Fizemos também a cobertura do evento pelo nosso twitter – @cultmerc (veja também pelo @ciadacultura).

Mas aí você se pergunta: O que um congresso de jornalismo cultural, onde a maioria que participa é estudante, pode ter a ver com a nossa pauta sobre cultura, mercado e políticas culturais? Então eu respondo, “Tudo”, e em seguida tento argumentar para que você não pense que estou puxando sardinha para o lado dos jornalistas ou para o lado do evento.

Há muitas discussões sobre o diploma ou não para o exercício do jornalismo. Porém, eu acredito que o que deve ser discutido mesmo é a formação do jornalista, porque é ele quem escreve e forma opinião, sim, sem muitas vezes ter opinião formada, com o perdão do trocadilho. Já sabemos que é preciso ter repertório, é preciso saber escrever e ser crítico ao que recebemos de informação e ao que somos muitas vezes obrigados a informar. Sabemos. Mas, na maioria das vezes a demanda não permite o aprofundamento, a crítica, a revisão ortográfica….. enfim. Fato é que mesmo com toda essa deficiência, o jornalismo ainda assume o papel de  legitimar muitos discursos e produções artísticas (atendendo ou não a interesses) – aí a importância de saber o como faz jornalístico, todos deviam saber. Nossa profissão é muito romanceada.

As mesas mudam, os debatedores são outros, e outros. Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, Revista Cult, Caros Amigos, Uol, Veja vesus UFRJ, USP, Casper Libero, PUC, TV Cultura, artistas visuais, críticos, escritores, folhas de um livro escrito com as visceras, a vaidade, o suor da produção, a expectativa, o cenário onde a cultura faz, é, e pode vir a ser. Ufa.  É isso, entende? A programação do evento (clique aqui) foi intensa. Quatro dias, das 9h às 20h30 – o que não permite um profissional estar presente todo o tempo (que pena). O preço um pouco gordo demais para um estudante ou mesmo para o piso da profissão. Mas valeu. Valeu pela chance de conhecer a sistemática de algumas redações, as brigas dos discursos de alguns meios, o fazer jornalístico de alguns mestres, de ouvir o clichê mais bonito e de desprezar completamente outras informações.

Tenho mais coisas para dizer sobre. Vou compartilhar algumas palestras com vocês. Mas não agora. Não tenho tempo, outras coisas me chamam. (hohoho)


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Repórter. Escreve sobre pessoas, convergência e cultura.

1Comentário

  • Daniele Torres, 11 de maio de 2010 @ 2:19 Reply

    Querida Luana,

    Permita-me comentar seu texto com a pretensão de complementá-lo, costurando um pouco com tudo o que foi debatido no II Congresso de Jornalismo Cultural na semana passada aqui em SP.

    Quando você nos instiga com sua pergunta sobre a relação entre os debates aqui do CeM e os temas cultura, mercado e políticas culturais, me lembro de uma questão muito tratada no Congresso: o temor do mercado – cultural e imprensa – frente às novas tecnologias digitais. Tema recorrente em várias mesas, teve como resposta mais importante a sua própria colocação em pauta: é isto que está empurrando a reflexão, movendo as estruturas e obrigando profissionais de cultura e a grande mídia a se questionar e se reinventar. Beatriz Sarlo, por exemplo, vê nas revoluções das novas mídias um questionamento acerca das formas de leitura: “há uma nova postura frente à leitura: a imposição da velocidade. Não se pode surfar lentamente.” E nos perguntou provocativa: quem é este leitor pela internet? Para ela, a internet “é o lugar da auto-identidade, não da pluralidade democrática”, são os anônimos se multiplicando na rede.

    No embate mais acalorado do Congresso, entre Ivana Bentes (UFRJ) e Carlos Graieb (Revista Veja) com contribuições interessantes de Marion Strecker (UOL), Ivana defendeu que a citada crise – tão sentida em jornais, gravadoras, editoras – se deve a uma mudança no eixo de poder: “existe um meio de produção de opinião e distribuição de informação e conhecimento que põe em cheque a mídia tradicionalmente fordista”. E continua: “o jornalista iluminado deixa de existir”. Enquanto Ivana aposta na “emergência de uma intelectualidade de massa”, alguém da platéia quer saber como encontrar informação qualificada no universo digital se todo mundo pode ser produtor de conteúdo? A pergunta ficou sem resposta…

    Mas outras mesas de debate se dedicaram à questão da informação qualificada, seja nas novas mídias ou nas mídias tradicionais. Muito se falou sobre a formação do jornalista, da necessidade de uma formação complementar para quem pretende ser jornalista cultural. Mais ainda para quem tem interesse em se tornar crítico de cultura. Luciana Villas-Boas, editora da Record, afirmou que “a imprensa se escora na academia e na crítica universitária” e Carlos Heitor Cony disse que “o jornalismo, por essência, não é livre”, ao defender que a opinião do jornalista tem que ser direta e clara, enquanto o escritor é livre.

    Foi quando refletimos juntas que a formação do jornalista que se pretende formador de opinião é um paradoxo tão curioso quanto a cultura se especializar e separar de outros saberes, tema enfocado na conferência proferida por Hervé Aubron. Outra questão muito paradoxal comentada por Hervé é – já que estamos tão aflitos com as novas mídias – a internet trabalhar em nichos super especializados ao mesmo tempo em que permite uma “dispersão global” …

    Quando a discussão chegou ao campo das artes visuais, houve quem defendesse que a mídia gosta de criar tendências, como no caso do grafite. E foi neste debate que se resumiu de maneira mais objetiva e simples (talvez simplista?) a questão da formação do jornalista de cultura: para o crítico de arte e curador Agnaldo Farias, “para entender cultura é preciso viver cultura”.

    Quando você, Luana, nos fala da necessidade do jornalista de ser crítico ao receber a informação e ao informar, me lembro do Chico de Oliveira dizendo que o grande problema da democracia é que “chegamos lá e estamos satisfeitos”. É o sentimento da ausência de uma crítica política que mobiliza a atenção do Chico e de pessoas que como nós, fazem, mantém no ar, lêem e participam de um site como este, por exemplo.

    Marcos Augusto Gonçalves, editor de Opinião da Folha, defendeu a necessidade do investimento em educação para que as pessoas possam ter uma leitura mais crítica e questionou a especificidade do público elitizado do jornalismo cultural. Sobre a questão de legitimar discursos e defender interesses que você levantou no seu texto, o professor de filosofia Vladimir Safatle (USP) não acha que seja o caso de “demonizar o mercado”, mas pensa que “é preciso problematizar a relação entre os dois de maneira profunda”. No debate sobre os limites entre cultura e entretenimento, ele afirmou que é o próprio mercado que estabelece a crítica, fornece o padrão de sua própria crítica. E perguntou o que acontece quando se chega a este ponto? Não descobrimos a resposta neste Congresso, mas é uma pergunta que traz várias reflexões possíveis.

    Para não me alongar mais, sugiro que verifiquem no site do Congresso (sss://revistacult.uol.com.br/home/blogs/congresso) a programação para selecionar temas de interesse e depois acessem o site da CPFL Cultura para assistir as palestras. São muitos temas e ótimos pensadores da cultura e do jornalismo brasileiros. Além de importantes reflexões, existem palestras divertidas, como a que juntou Ruy Castro com Eric Lax (sobre biografias) e a incrível entrevista do cineasta Eduardo Coutinho; imperdível. Aliás, um ótimo presente que João Moreira Salles deu aos participantes do Congresso: como não compareceu, deixou todo o tempo para Eduardo, que deliciou todos os presentes – cansados devido ao adiantado da hora – com um inspirador bate-papo sobre arte. Ninguém desgrudou da cadeira e foi o personagem mais aplaudido do Congresso. E já que falamos em arte, vale conferir a performance de Denise Stocklos sobre Clarice Lispector, porque é preciso um pouco de poesia nesta vida…

    Enfim, se o tempo e a demanda por aqui não permitem a revisão ortográfica, ao menos não impedem que os pensamentos sejam expressos. Espaço é o que não falta no Cultura e Mercado e eventos da relevância do Congresso de Jornalismo Cultural serão cada vez mais acompanhados pelo site; é o que se pretende. Porque é preciso que educação e cultura caminhem juntas (não como acessórias uma da outra, como brilhantemente respondeu Eduardo Saron a uma pergunta no Congresso); porque é preciso pensar até mesmo o que é feito aqui neste espaço. É preciso refletir, criticar, avaliar (e produzir) para que a difusão da nossa cultura possa ser aprofundada e não apenas uma cobertura midiática de eventos rentáveis ao mercado. Xi! Olha aí o mercado de novo… Outro dia a gente conversa sobre este. Já escrevi demais aproveitando uma inesperada insônia. Até!

    Beijos,
    Dani Torres
    Companhia da Cultura

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