O setor audiovisual brasileiro sedimenta um momento de crescente profissionalismo, mas as políticas públicas para o setor precisam ser aprimoradas e os mecanismos de diálogo com o mercado externo, ampliados e fortalecidos. Este é o resumo panorâmico dos cinco dias de discussão do Brasil CineMundi – 1st International Coproduction Meeting, expresso em 13 debates e workshops por profissionais de seis países.

Representantes de alguns dos festivais, fóruns de negócios e emissoras de TV mais representativos do mercado europeu, norte-americano e latino acompanharam intensamente as apresentações de profissionais experimentados na cadeia produtiva audiovisual brasileira e participaram ativamente dos debates, com sugestões e críticas.

Eles ressaltaram a importância de uma “terceira via” no ambiente de negócios da produção independente no país, em complementaridade a eventos de mesmo foco realizados no Rio de Janeiro e São Paulo.

A intensificação dos negócios com o mercado europeu reflete o processo de amadurecimento, a maior compreensão da dinâmica internacional e o acúmulo de massa crítica de produtores brasileiros reconhecidos no exterior. Mas ainda enfrenta problemas crônicos, como a barreira da língua.

A consciência do tipo de produção que se tem em mãos e do perfil de cada festival é determinante na carreira internacional de um projeto. “Um filme só estreia uma vez e os festivais concorrem entre si”, ressalta Fiorin, da distribuidora de filmes latinos Figa Films. “Se você coloca o filme no lugar errado no mercado, ele fica ‘velho’”, acentua Nádia, coordenadora do Industry Office do Festival de Cinema de Locarno, para quem a demarcação de território de um produtor no meio audiovisual internacional “é um caminho longo, realmente longo”.

Nádia chama atenção para a importância de se ter parceiros respeitados, com inserção, poder de influência e visão estratégica. “Levar um filme a um festival sem coprodutor local é perder tempo e dinheiro”.

Gaúcha radicada em São Paulo, Sara Silveira é uma das produtoras mais atuantes nos fóruns internacionais. E mesmo que já circule com naturalidade pelos ambientes de negócios no exterior, se ressente de uma situação menos desconfortável no Brasil. “Tenho um filme com distribuidor internacional, mas não consigo um nacional”, conta. “A distribuição me enlouquece.”

Mineira baseada no Rio de Janeiro, Vânia Catani faz parte desse grupo seleto. Sua produtora, a Bananeira Filmes, circula pelos fóruns internacionais há uma década. Ela reforça a importância da profissionalização do produtor. “Tal qual o ator ou o diretor, o produtor tem que ter talento: é ofício que requer dedicação, estudo, pesquisa, como qualquer outro”. A compreensão da dinâmica do mercado e a antecipação da busca de parceiros, ainda em tempo de se fazer ajustes no desenvolvimento do projeto, é fundamental.

“Os cineastas precisam levar projetos mais cedo a produtores e fundos”, diz o curador Paulo Roberto de Carvalho. “A competição é muito grande e o mercado não suporta.” Também curador do Brasil CineMundi, Helvécio Marins Jr. antecipa uma das principais ambições na continuidade do evento. “A gente quer, ano que vem, colocar os realizadores para sentar direto com os produtores.” A intenção é adotar uma metodologia que permita a identificação prévia de projetos e parceiros potenciais mais interessantes, de lado a lado, de modo a concentrar no que de fato possa prosperar.

O Brasil CineMundi apontou e debateu diversos outros temas cruciais para o posicionamento do filme brasileiro no mercado nacional e estrangeiro: a importância da ampliação do parque exibidor e da exploração de circuitos alternativos no país; a ocupação de janelas pouco exploradas como a da TV aberta; a carência de relatórios de frequência de público confiáveis na prestação de contas do exibidor para o produtor; o refinamento das políticas públicas, com a revisão da taxação sobre envio de cópias ao exterior, o aperfeiçoamento dos editais de financiamento e fundos de investimento e a ampliação do escopo de atuação do Cinema do Brasil (um facilitador da circulação de agentes da cadeia produtiva pelos fóruns internacionais).

Raquel Hallak, diretora da Universo Produção (realizadora da Mostra CineBH, assim como da Mostra de Tiradentes e da CineOP), acentua a importância de fóruns com este perfil na consolidação e compartilhamento de informações que permitam fortalecer o setor, em consonância com as políticas públicas.

A relevância e a boa acolhida ao evento podem ser mensuradas pelo comentário de Lucas Schimidt, gerente de programação da rede pública alemã de televisão, a ZDF. “A partir de agora eu verei os projetos de filmes brasileiros que receber com outros olhos.”


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Jornalista e colaborador de Cultura e Mercado.

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