O Ministério da Cultura, com a publicação da nova portaria 83, em uma ação antidemocrática, desqualifica pareceristas e reduz valores pagos para análise de projetos que pleiteiam recurso com dinheiro público em mais de 400%, induzindo os pareceristas a pedirem descredenciamento e fazendo com que projetos que pleiteiam recursos públicos sejam analisados novamente internamente ou por profissionais não qualificados.

A quantidade de projetos inscritos na Lei Rouanet, vem crescendo ano a ano, até o final de 2009, uma quantidade enorme de projetos através da Lei Rouanet, perderam suas possibilidades de patrocínio em função do atraso na avaliação dos projetos, chegando a demorar mais de 6 meses para sua aprovação.

Existem milhares de projetos já realizados desde 2006, sem qualquer avaliação de sua realização, prestação de contas e para onde foi o investimento do dinheiro público, bem como milhares de projetos que pleiteiam recursos públicos com valores super faturados e proponentes sem nenhuma capacidade de realização.

O Minc através de um edital de credenciamento realizado em 2009 e 2010, selecionou especialistas para montar um Banco de Pareceristas, habilitados a examinar projetos que postulem verbas da Lei Rouanet e com isso ter a disposição os profissionais mais qualificados do setor cultural nas mais diversas áreas e segmentos.

Com o credenciamento de pareceristas, no final de 2009, projetos passaram a ser publicados em menos de 2 meses, bem como centenas de projetos já realizados obtiveram seus pareceres favoráveis ou não.

Com a nova portaria, publicada no dia 12/09 no diário oficial, o Minc entre outras definições, como conteúdo a ser abordado no parecer, prazos de emissão do parecer (10 dias), sanções em caso de descumprimento das regras, numa atitude arbitrária reduziu absurdamente o valor pago para emissão de pareceres técnicos em projetos culturais do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac).

Os pareceristas possuem notória especialização em suas áreas de análise, representam o que mais há de democrático no que diz respeito a avaliação de projetos culturais no Brasil, pois são profissionais do mercado que não tem envolvimento direto com qualquer governo e sim com o zelo do investimento dos recursos públicos e com a cultura, contribuindo para uma análise imparcial, técnica e isenta de influências políticas ou governamentais, o que só vem a contribuir para o profissionalismo e ética da cultura no Brasil, um avanço nas avaliações de projetos culturais que pleiteam recursos públicos, profissionais das mais diversas regiões, contribuindo para a democratização das análises.

Estes profissionais assinaram um Termo de Compromisso com o Ministério da Cultura, vinculados entre outras coisas à uma tabela de valores que foi disponibilizada no ato da inscrição do edital de credenciamento, depois de quase 2 anos em vez um reajuste na tabela, publicam uma queda drástica nos valores.

Edital de credenciamento
Tabela de valores (a qual todos os profissionais foram credenciados)
Nova tabela de valores (com reduções de mais de 400%)

Uma análise de um projeto requer horas e horas de concentração e além da carga horária é um trabalho de desgaste mental, pois trata se de análise criteriosa sobre conteúdo, objetivos, justificativa, democratização do acesso, acessibilidade, ficha técnica, documentação e histórico do proponente, marketing e planilha de custos.

Depois de quase dois anos com pareceristas se especializando, o Minc com uma redução drástica da tabela de valores em uma atitude arbitrária, fecha o cerco a pareceristas, induzindo os ao descredenciamento, fazendo que com isto projetos na Lei Rouanet voltem a sofrer um atraso enorme em suas avaliações, volte a acumular milhares de projetos já realizados e principalmente o dinheiro público seja gasto em treinamento de novos profissionais e seja avaliado por pessoas não qualificadas.

Uma aparente economia que poderá levar o desperdício do dinheiro público, com projetos inadequados ou com valores irreais. Um risco a qualidade das avaliacões e dos projetos. Uma ação temerária que coloca em risco um dos mais importantes instrumentos de desenvolvimento cultural do país. Um retrocesso  de graves e irreparáveis danos ao dinheiro publico e a cultura do país.

Projetos com valor de 700 mil, tiveram seus valores de análise reduzidos de R$660,00 para R$120,00 mais encargos, livros por ex: os quais 99% dos projetos possuem valor inferior a 700 mil e que demoram as vezes dias para ser diligenciado e avaliado o valor a ser pago é de 120,00 (deduzidos impostos e postagem do projeto)

Muitos dos pareceristas qualificados, com esta nova tabela irão desistir do seu trabalho, pois fica inviável, para que os bons profissionais dediquem horas e mais horas para avaliar projetos de extrema importância e valores para o Brasil e receber quantias irrisórias, chegando a ser um valor menor do que diárias de qualquer profissional no Brasil.

PAUTA DE REIVINDICAÇÕES 2011 – MINC E VINCULADAS

Os pareceristas, durante todo o período de análise de projetos, sofreram atrasos absurdos em seus pagamentos e mesmo com a falta de informações, aprenderam a lidar com o sistema, estudaram leis, normas, instruções normativas, súmulas, foram se adaptando frequentemente as novas regras e com centenas de pareceres emitidos foram se especializando e cada vez mais seguros em seus pareceres.

Reinvindicações:

– Cumprimento dos contratos e pagamentos nos valores especificados na tabela a qual foi amplamente divulgada no ato de inscrição do edital e da renovação do Termo de Compromisso.
É inadmissível a redução de valores deste porte, ainda mais se tratando de avaliações das verbas que utilizarão recursos públicos.

Diligência – projetos arquivados por não atendimento à diligência pelo proponente não gerarão direito a pagamento ao perito.
Dias e dias analisando 1 projeto, conteúdo, custos, democratização do acesso, valores de ingressos, acessibilidade, equipe, 10 itens à serem questionados e incluídos numa diligência, com o intuito da transparência do investimento das verbas públicas, o proponente não responde a diligência, não é justo o parecerista não receber por isto, o trabalho dele foi realizado, não se trata de trabalho voluntário.


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16Comentários

  • Jaime Lerner, 11 de outubro de 2011 @ 17:04 Reply

    É realmente inacreditável, não sei nem como qualificar esta ação do MINC que resultou na portaria (alcunhada por muitos de “porcaria”) 83. criaram uma Secretária de Fomento,investiram um monte de energia e recursos para criar e qualificar um banco de pareceristas, e agora querem botar isso tudo água abaixo.

  • Wilmar Ferraz, 11 de outubro de 2011 @ 18:03 Reply

    Quero aproveitar o tema do artigo para fazer um questionamento, que nada tem a ver com o motivo do artigo do Chico, muito pelo contrário. Acho que mudar a regra de um jogo se faz necessário muito diálogo e respeito a todos os envolvidos em qualquer processo.
    Acontece que como, proponente de projetos no Minc, acho absurda as atitudes de pareceristas, incógnitos, que permeiam pareceres com frases do tipo “para adequar ao porte do projeto” e “para adequar aos valores de mercado”.
    São comentários genéricos que não guardam, necessariamente, relação com a realidade do projeto. No meu ponto de vista, é um absurdo um parecerista fazer um corte em uma despesa “x” de, por exemplo R$5.000,00 (cinco mil reais) para R$3.500,00 (três mil e quinhentos reais) “para adequar ao porte do projeto”. O parecerista conhece o projeto? Qual é o porte desse projeto? o porte de um projeto está ligado ao município em que ele é executado? Pequenos municípios, projetos de pequenos portes? ele já esteve em alguma edição dele ou de um similar? Ele conhece a realidade dos vários mercados a que faz parte o projeto que analisa?.
    Já lí pareceres benevolentes e creio, apenas creio, que as origens dos projetos funcionam como definidoras de boas e más propostas.
    Sabendo que cada palavra de um parecer vai estar à disposição do público, o que é imprescindível para a transparência da utilização dos recursos públicos, o parecerista deveria ser criterioso com o que vai escrever. Isso pode definir o sucesso ou o fracasso de uma idéia e ainda queimar um profissional, ou que se pretende profissional.

  • Patrícia Helena, 11 de outubro de 2011 @ 20:24 Reply

    É, se continuarmos assim, iremos voltar ao tempo em que as pessoas tinham a cultura e as expressões culturais como um hobby. E precisavam de um “trabalho fixo” para ter seu sustento….

  • Alexandre Krug, 12 de outubro de 2011 @ 3:41 Reply

    Se a verba pública para a cultura fosse distribuída via editais nacionais e regionais por áreas artísticas, com regras claras e comissões paritárias e conhecidas, o processo todo seria bem mais democrático e transparente. Na verdade tudo isso é uma falsa questão: encobre o fato de que o mecanismo da renúncia fiscal (leia-se Rouanet e congêneres) é um vale-tudo competitivo e perverso em si, pois abre margem a todo tipo de fraude, esquema, compadrio e apadrinhamento, além de transferir aos departamentos de marketing das empresas recursos públicos e o poder de gerir os rumos da cultura brasileira. Até quando esse absurdo?

  • Ana Paula Pontes, 13 de outubro de 2011 @ 10:31 Reply

    Muito triste essa situação! Desanimador! Como dói ler e saber disso tudo!

  • Moacir, 13 de outubro de 2011 @ 13:10 Reply

    Como parecerista me sinto roubado. Sim roubaram meu tempo, minhas energias, meu conhecimento, minha dedicação, interesse… Não bastasse o enorme atraso no pagamento de meu trabalho, também me sinto lesado por um órgão que sempre respeitei e que se comprometeu comigo para a realização de um trabalho, e sem qualquer consulta ou justificativa reduz drasticamente os valores que me são devidos, sem qualquer respeito a um Termo assinado com cláusulas para ambas as partes. Seria incompetência minha, desmerecimento, baixa qualidade nas análises dos projetos? Não sei, só sei que estou indignado com uma portaria ditatorial que me faz parecer um “bosta insignificante”, devido a atitudes do tipo ” é assim e cale a boca, pois quem manda sou eu” e ” Se quer, quer, se não quer tem quem quer”. Como confiar num órgão público, a maioria deles está totalmente sem qualquer crédito, que não cumpre o que assume. Sou um profissional que merece respeito enquanto parceiro e prestador de serviços ao MínC. Se no MinC são irresponsáveis e incompetentes, quem perde é a cultura do país. Acordem pareceristas.

  • Silvia, 13 de outubro de 2011 @ 15:57 Reply

    Enquanto parecerista, tenho um dever ético de responder aos comentários colocados acima. Acredito que a Lei é muito falha em diversos aspectos. O treinamento que recebemos também não pode ser elogiado.
    No entanto, a chegada dos pareceristas não melhorou apenas a velocidade das aprovações ou reprovações. Buscamos entender a lei e instituir debates dentro da secretaria sobre a aplicação de diversos artigos.
    Para avaliar um parecer temos alguns parâmetros que incluem: as próprias regras estabelecidas em lei e decretos; manuais distribuídos pelas unidades vinculadas ao Minc; discussões dentro do próprio grupo de pareceristas; nossas próprias vivências (pois cada parecerista é especializado em uma área); e orçamentos que nós mesmos fazemos junto a empresas das regiões onde os projetos serão realizados.
    Em meus pareceres tenho como maior preocupação, não o orçamento do projeto, mas o entendimento das ações, principalmente, às que se referem à democratização do acesso. Questiono muito os preços de ingressos praticados por projetos já totalmente viabilizados pelo mecanismo de incentivo, por exemplo. E arrisco dizer que as perguntas feitas ao proponente, muitas vezes, o auxiliam a organizar o projeto.
    As necessidades de corte de custos vêm de limites estabelecidos em lei, manuais e orçamentos. Por outro lado, a atenção para o entendimento do projeto como um todo, junto à possibilidade de diligências, nos permite entender diversos custos. Ao entender os custo, podemos adequar as quantias, justificá-las e, até, impedir que cortes sejam feitos simplesmente por erros ou confusões de denominação.
    Indagações, como as feitas aqui, são muito importantes para nosso trabalho conjunto para a melhoria das políticas públicas para a cultura.

  • ROBERTIHHO DOMINGUES, 14 de outubro de 2011 @ 8:51 Reply

    CONVOCO A TODOS OS PARECERISTA A UMA GREVE GERAL NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS.

    A um tempo atrás tinha proposto uma GREVE DE EMISSÃO DE PARECERES o que isso quer dizer os pareceres iriam ficar rodando e os projetos acumulando depois dessa arbitrariedade;

    CONVOCO!

    EU CONVOCO A TODOS OS PARECERISTAS A REPENSAREM E NOS COLOCARMOS A DISPOSIÇÃO PARA RELAIZA-LA A GREVE GERAL DOS PARECERISTAS, MAS TEM QUE SER TODOS!!!

    RECEBER 120,00 E NÃO RECEBER ELES VÃO CONTINUAR COM ISSO QUEREMOS O RETORNO DA TABELA ANTIGA E COM REAJUSTE.

    PARECERISTAS EM GREVE “TODOS PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA CULTURA”.

    GENTE TEM QUE SER TODOS POIS SE TODOS ELES NÃO VÃO DESCREDENCIAR TODOS, PENSEM BEM, ISSO SERIA NUM ATRADO EM ANÁLISE AINDA MAIS PERTUBADOR, DEPOIS DISSO ME COLOCO A DISPOSIÇÃO PARA O TAL E ENCABEÇO O MOMENTO!

    ROBERTINHO DOMINGUES
    PARECERISTA – FUNARTE

  • Bobby, 14 de outubro de 2011 @ 12:31 Reply

    Alguém me diz onde estão esses pareceristas tão qualificados assim?? Trabalho em uma produtora com mais de 20 anos de atuação no mercado e com profissionais especializados na formatação de projetos, com notável experiência na área de produção. Não raro recebemos pareceres com análises de conteúdo equivocadas, sobre “não caráter cultural da proposta” por ex, pareceres com erros de português, análise de custos baseadas em custos que não existem (especialmente no eixo Rio-SP). Se antes do tal decreto esses “pareceristas qualificados” existiam, imagine agora.

    • JEANE, 16 de outubro de 2011 @ 10:23 Reply

      Caro Bobby,
      concordo, em parte, com você. Realmente, no quadro de pareceristas existem sim, aqueles que nem sequer sabem escrever o próprio nome. Isto é lastimável, lamentável e reflexo de que em nosso país, a educação é o último item a ser considerado com a seriedade que deveria. E esta desqualificação, não se encontra apenas no quadro de pareceristas, mas em todas as áreas. Encontramos médicos, engenheiros, advogados e professores desqualificados. Mas este quadro lamentável de nosso país não lhe dá o direito de generalizar e desqualificar TODOS os pareceristas do Minc. Felizmente, ainda há uma boa parcela de pareceristas com excelente qualificação e competência e, graças a estes, é que o processo de análise e aprovação de projetos caminha a contento. O que não se pode aceitar é o fato de que, devido à incompetência de alguns, os competentes acabem sofrendo e sendo punidos, como está acontecendo com esta nova portaria. Que se descredencie os inaptos para que os competentes possam trabalhar em prol da cultura do país. E, lembre-se: generalizações são sempre reducionistas, simplistas e não podem levar a discussões mais aprofundas sobre os reais problemas de uma situação.

  • Wander, 15 de outubro de 2011 @ 10:54 Reply

    Parabéns pela matéria, pois a muitos interessa saber.
    Pareceristas são pessoas comuns que trabalham com cultura de modo específico ou generalizado, e possuem experiência e qualificação atestadas por vasta documentação exigida pelo Minc, no ato de inscrição.
    Na avaliação dos projetos, o parecista busca entender (mesmo os projetos onde o proponente não situa bem a apresentação, os objetivos, a metodologia e outros pontos, confundindo-os às vezes), todo o conteúdo e relacionar itens vitais que são estipulados por leis, bem como os custos com pessoal, das compras, aluguel e serviços, se estão condizentes ou não com a região e com o projeto em si.
    Isso inclue muitas observações e consultas e, em muitas vezes, questionamentos (diligências) ao proponente, a fim de esclarecimentos e finalização da análise. Há também gastos não só de tempo, mas também com correios, para enviar documentos, impressão, etc.
    A decisão do Minc foi arbitrária porque contratou os proponentes, inicialmente, sob uma proposta de valores para remuneração e agora resolve mudar critérios e valores, prejudicando e muito, a continuidade dos serviços.
    Gostaria muito também de mudar salários e critérios na forma de trabalhar dos deputados, senadores e ministros, no que não seria tão cruel.

  • Fátima Ricco Lamac, 17 de outubro de 2011 @ 12:55 Reply

    Sem dúvida, a contratação dos pareceristas “especializados” agilizou muito o processo de aprovação de projetos, porém constato uma falta de conhecimento jurídico geral para a análise dos tributos incluídos na planillha orçamentária. Se o parecerista é especialista no mérito do projeto (dança, teatro, artes visuais, etc), quem analisa a planilha orçamentária e anda fazendo cortes em tributos, afirmando que compõem 0s 15% limite para custos administrativos, quando a Instrução normativa é clarríssima no sentido de que somente os tributos relacionados ao pessoal a ser contratado para serviços administrativos é que compõem os 15% máximos? Como um parecerista pode sem fundamento legal cortar tributos relativos ao pessoal que executará o projeto? Também concordo com um dos manifestantes acima quanto à falta de fundamento para cortes no valor do projeto com a justificativa de “adequação ao porte do projeto”, sem conhecer a realidade (em amplo sentido) deste.

  • Alexandre Krug, 17 de outubro de 2011 @ 14:20 Reply

    Gente…

    vamos nos ligar: a questão NÃO É se os pareceristas são bons ou ruins. A questão NÃO É se os projetos demoram mais ou menos a serem analisados. A questão é que o mecanismo de renúncia fiscal é perverso EM SI, pois transfere dinheiro público (impostos não recolhidos) para os departamentos de marketing das empresas, ou então para relações de compadres privadas, sujeitas a todo tipo de abuso. A dimensão gigantesca dessa distorção só toma sua verdadeira clareza quando consideramos que a MAIOR PARTE do dinheiro público gasto em cultura é canalisado por esse mecanismo, pela Rouanet. Ou seja: não temos uma política pública para a cultura, apesar dela ser um direito constitucional, e sim um grande faroeste, um vale-tudo movido a dinheiro público. Esta é a nossa “política” atual para a cultura. E não venham dizer que estou sugerindo um dirigismo estatal aprisionador; trata-se tão-somente de de democratizar de fato a produção e a distribuição dos bens culturais. Enquanto não houver um planejamento nacional, uma política pública de fato para a cultura, independente dos governos de plantão, viveremos nessa prisão dos interesses do mercado, disfarçada de liberdade.

  • Jeane, 17 de outubro de 2011 @ 19:09 Reply

    Querido Krug,

    eu somente respondi ao colega sobre a questão dos pareceristas. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa…
    É claro que sei que este sistema é perverso e falido. E concordo com tudo o que vc disse…Mas como dá pano prá manga este assunto e tô apertada de costura, paro por aqui.
    Sorte.

  • Marino Galvão Jr, 18 de outubro de 2011 @ 21:08 Reply

    Um grande problema na internet de hoje é publicar algo que merece atenção e o assunto acabar sendo desviado para o lugar comum. O lugar comum neste caso é discutir a Rouanet, empresas, marketing cultural, mérito, etc.

    Costumamos criticar a Rouanet. Ou melhor o FINANCIAMENTO PÚBLICO INDIRETO À CULTURA como se fosse exclusivo do Brasil. E não é. Na verdade apenas importamos um modelo de renúncia fical que está presente em várias economias. No mundo ocidental em particular existem dois tipos de financiamento à cultura que podem ser estudados.

    1 – Oferta de bens, produtos e serviços culturais que é feita através de recursos via fundo com financiamento direto do estado através de incentivo fiscal com financiamento indireto do estado tendo o mercado como elemento regulador.

    2 – Demanda por bens, produtos e serviços culturais onde que é financiado é o consumidor final da cultura. Geralmente é feita através vouchers como o vale cultura, mas até mesmo a meia-entrada pode ser considerada um financiamento à demanda. Também pode ser em níveis diretos neste caso um tipo de meia entrada subsidiada pelo estado (seria o sonho dos artistas no Brasil que costumam ser a cortesia do chapéu alheio) ou indiretos (vale cultura com isenção fiscal).

    Em qualquer uma das situações acima o modelo indireto é o mais descentralizado, pois a decisão de acesso ou financiamento fica nas mãos dos privados sejam eles os “mecenas” ou os “consumidores” da cultura.

    Quando falamos em DEMANDA no modelo INDIRETO, temos um triângulo regulamentador: a EMPRESA que beneficia o CONSUMIDOR através do abatimento FISCAL.

    Em geral os modelos 100% DIRETOS, como a França, são mais reféns do aparelhamento político do estado já que fica tudo nas mãos do poderoso Ministério da Cultura. Uma das formas de amenizar este efeito é a descentralização. Repasses entre fundos nacionais, regionais e municipais. É o sistema consorcialista, parceria entre ente local (estados e municípios) e ente federal (o ministério). Isso acontece muito na Alemanha por exemplo.

    Já nos modelos 100% indiretos como os Estados Unidos a descentralização é chamada de pluralista. Mistura recursos em todas as esferas de governo mas trabalha com a decisão nas mãos de privados. Porém nos USA não tem projeto aprovado por CNIC, pareceristas, etc. Todas as entidades “no-profit” que atuam com caridade, educação, saúde, cultura e religião além de não serem tributadas ainda estão aptas a receber todo o tipo de doação. O trabalho de investigação e fiscalização fica por conta de um forte e atuante Ministério Público.

    Na Inglaterra o sistema totalmente descentralizado. Chamado de “Arts Council” atua como um braço do governo: Uma agência semi-pública com governança própria administra e distribuí os recursos da cultura no país. Este papel no Brasil até certo ponto é feito pela FUNARTE e seus editais. Só que esta não se enquadra no modelo “arms Lenght” já que é um ente 100% público com todos os problemas genéticos pertinentes a política brasileira.

    Dito isso fica claro que não tem modelo ideal. Cabe a nós sabermos o que vai funcionar melhor no Brasil, e o assunto proposto no post é grave. Os pareceristas garantem sim a legitimidade dos processos aprovados. Merecem condições que lhes garanta isenção no seu trabalho.

    Porém devem também ser coerentes com sua missão e com as particularidades da cultura brasileira. Nosso país está cheio de gestores públicos da cultura que primam pela “qualidade”, e pela “excelência artística”. Mas tudo isso é subjetivo. É nestas horas deveríamos nos perguntar: onde estão os analistas para os impactos econômicos, sociais e culturais?

    Quando fazemos estas perguntas fica claro que certas distorções da Rouanet não serão barradas por parecerista algum. Ainda mais em um país tão diversificado e onde tanta gente entende do mercado cultural baseada apenas pelo gosto pessoal.

  • Humberto Augusto, 25 de outubro de 2011 @ 7:01 Reply

    É inacreditável. Quem sofre com isso, é o pequeno produtor …

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