Reconhecidos como patrimônio cultural imaterial, griôs são tema de projeto do Ministério da Cultura
BRASÍLIA – Os Griôs são os contadores de histórias. A cada geração, carregam na memória essa ilha de edição: a tradição da história oral. Já reconhecido como patrimônio cultural imaterial, agora o Ministério da Cultura (MinC) lança o projeto Ação Griô que decorreu da discussão no I Seminário Nacional de Políticas Públicas para as Culturas Populares, realizado em janeiro de 2005, e anunciado na realização do II Seminário, em setembro de 2006, em Brasília.

O secretário de Programas e Projetos do MinC, Célio Turino, explica que o projeto funcionará como um incentivo para que os mestres griôs da cultura popular transmitam seus conhecimentos nos Pontos de Cultura do Programa Cultura Viva. Inicialmente 50 pontos participarão do projeto, através de edital lançado no dia 18 de setembro.

Os griôs e os griôs aprendizes receberão, durante o período de 1 ano, bolsas de trabalho no valor de R$ 350,00 mensais. O repasse será de até 500 bolsas. “Nosso sonho é tornar a tradição oral mais do que um projeto nacional, mas uma política nacional de fortalecimento da identidade das crianças, adolescentes e jovens brasileiros vinculados à sua ancestralidade”, revelou Lílian Pacheco, do Pontão Ação Griô, de Lençóis, na Bahia.

O canto, a dança, o cordel, os mitos, os repentes, as quadras, ou apenas as contações de histórias farão parte das expressões incentivadas. E os griôs aprendizes podem ser educadores, pesquisadores, artistas, ou qualquer um. “A intenção não é interferir na realidade e nas tradições populares. Nenhum técnico do MinC ou do MEC vai interferir. Quem escolhe o que vai fazer e como são os próprios pontos de cultura. Nós apenas damos o dinheiro para que isso seja facilitado”, explica Turino.

Outra questão em destaque no Ação Griô é a nova política do Cultura Viva que, além da difusão em rede, incentiva experiências sugeridas através de um ponto de cultura para toda a rede. “Griô é todo o saber popular. O saber popular de origem africana, indígena, ucraniana, japonesa, todos são griôs, todos entram na mesma roda. E assim funciona o Cultura Viva. O conhecimento, a sabedoria de um passa para outro”, explicou Célio Turino.

Pedagogia Griô – Na tarde do dia 16, a Tenda Mestre Eugênio, na Funarte, foi tomada por uma grande roda. O aprendiz de griô Márcio Caíres liderou o grupo de futuros griôs em uma oficina para mostrar a experiência da comunidade de Água Boa em Lençóis. A primeira cantiga fazia referência a um chapéu decorado que caía no chão para que os participantes o botassem na cabeça e recitassem alguns versos. De cabeça em cabeça, as histórias eram contadas e escritas.

Márcio Caires, que trabalha com pedagogia griô há 10 anos, aprendeu as práticas com os mestres Seu Izidoro e Seu Zé Herculano. A expressão griô, segundo ele, foi tirada de uma antiga tradição de alguns países africanos. Lá, os griôs são contadores de história, que viajam de cidade em cidade levando informação e cultura à população.

Protesto – Alguns mestres griôs protestaram durante a conferência “Tradição e Invenção nas Culturas Populares”, no dia 16 de setembro. Assim, o encerramento do I Encontro Sul-Americano das Culturas Populares e II Seminário de Políticas Públicas para as Culturas Populares, realizado em Brasília, entre 14 e 17 de setembro, foi marcado por uma conferência com mestres dos 27 estados brasileiros com o secretário da Diversidade e Identidade Cultural do MinC, Sérgio Mamberti, sobre a realidade cultural de suas regiões.

Liberação de recursos financeiros para as culturas populares; reconhecimento e respeito às raízes culturais; participação de mestres na elaboração de outros seminários; espaço para apresentações culturais de cada estado; visibilidade dos mestres em vida; criação de um selo de qualidade para trabalhos artesanais e regulamentação de um curso de licenciatura para professores na área de culturas populares e do folclore foram as reivindicações apresentadas pelos representantes das culturas populares ao MinC.

Sérgio Mamberti disse que o objetivo é dar espaço para todas as vozes. “Há uma carência muito grande. Muitas questões não sem nossa responsabilidade, como os índios que pedem demarcação de terras. O nosso orçamento é muito pequeno. Por isso continuamos lutando por mais verbas. Há a compreensão de que estamos no caminho certo. Mas também sabemos que temos muito por fazer”, pontuou o secretário.

Fonte: Carta Maior

Carlos Gustavo Yoda


editor

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