Encravado no coração do centro antigo do Rio de Janeiro, o Morro da Conceição é desconhecido por boa parte dos moradores da cidade. Seus vizinhos são ilustres: o Cais do Porto, a Praça Mauá e a Avenida Rio Branco, polo financeiro e comercial da capital fluminense. Com o objetivo de chamar a atenção de turistas e principalmente de cariocas, o local, escolhido por dezenas de artistas plásticos para morar e trabalhar, abriga neste fim de semana a oitava edição do Projeto Mauá. O público pode visitar os ateliês da região e conhecer um pouco mais a história da cidade.
A iniciativa é uma pareceria dos próprios artistas com o Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), localizado no mesmo morro.
O organizador do movimento, Carlos Rabaça, explica que as atividades representam o resgate da história local aliado à promoção da arte e da cultura genuinamente cariocas.
“O carioca em geral desconhece essa história, mas a cidade foi fundada em torno de quatro morros: o do Castelo e o de Santo Antônio, que já foram demolidos; e o morro do São Bento e o da Conceição, que ainda podem ser visitados. Por isso, o nosso objetivo é mostrar os tesouros que este morro esconde, permitindo aos visitantes conhecer o processo de criação do artista e o modo pacato e agradável de vida na região, valorizando a cultura carioca”, afirmou, acrescentando que cerca de 3 mil pessoas visitaram o morro na edição do ano passado do Projeto Mauá.
Segundo Rabaça, escondido atrás das grandes e modernas edificações típicas do centro de uma metrópole, o Morro da Conceição exerce verdadeiro fascínio sobre quem percorre suas escadarias, becos, largos e ruelas de nomes curiosos, como Ladeira João Homem, Rua Jogo da Bola e Travessa do Sereno.
Quem mora ou frequenta o local garante que é possível caminhar sem pressa pelas ruas não muito íngremes que guardam construções históricas e um modo de vida particular, à moda dos tradicionais bairros portugueses, alheio às transformações urbanas ao seu redor.
O artista plástico Paulo Dallier, o mais velho da região, conta que, para quem está de passagem, é possível conversar com um morador dentro de casa, ocupado com seus afazeres ou entretido em alguma criação cultural. Com 78 anos de idade e 40 de arte, ele se orgulha de viver e produzir no local.
Seu ateliê, que funciona na casa construída pelo avô nos primeiros anos do século 20, é um dos que estão abertos ao público neste fim de semana. Logo na entrada, a sala principal chama a atenção dos visitantes por ter uma parede descascada, deixando à mostra o tipo de construção da época, com pedras e óleo de baleia.
Para a atriz Waleska Saddock, que mora na cidade, mas nunca tinha visitado o Morro da Conceição, a experiência foi “encantadora”.
“Vim porque um amigo, que mora aqui perto, me convidou e estou achando tudo maravilhoso. Este é o segundo ateliê que visito e estou encantada, não só por causa das obras, cada uma mais bonita do que a outra, mas também pela geografia do local. Valeu o programa de domingo”, disse.
O projeto foi criado em 2002 e faz parte das ações de revitalização da zona portuária, um dos últimos espaços remanescentes da colonização do Rio de Janeiro.