Foto: Robvini
É verdade que existe uma parcela do chamado “mercado cultural” dependente da Lei Rouanet. E óbvio que essa parcela luta e resiste, não pelo modelo, que todos compreendem ultrapassado, mas por um mínimo de segurança jurídica, por um debate produtivo e pela construção coletiva de um novo modelo de financiamento à cultura, que não seja oportunista e que vise, antes de qualquer arroubo poético em torno da diversidade, o aprimoramento de um sistema que se mostrou efetivo e contribui sobremaneira à produção cultural brasileira.

Dentre os 3 mil projetos que conseguem superar o obstáculo de uma nova burrocracia governamental, que  persegue e concentra poder, dialogar e negociar com a agenda privada corporativa, que muitas vezes não compreende a complexidade da cultura e a transforma em mero produto a serviço do mercado, encontramos de tudo. Desde iniciativas estatais competindo com artistas (e que concentram e abocanham a grande fatia dos investimentos), até projetos de indiscutível viabilidade comercial, como o espetáculo de Caetano Veloso, motivo da mais recente polêmica envolvendo MinC, mais perdido que cego em tiroteio. 

Todos sabemos e apontamos, há pelo menos uma década, os perigos e desvios que o mecanismo propicia, e que poderiam ser minimizados e até mesmo superados por uma gestão competente, republicana e contemporânea do mecanismo. Longe disso, a Lei Rouanet caminha para uma insustentabilidade fabricada por um misto de insensatez, incompetência e oportunismo político dos dirigentes do MinC. Torno-me repetitivo e às vezes agressivo, por minha indignação com esse descaso. Mas não é isso que desejo abordar neste artigo.

Refiro-me aos milhares de artistas, empresas e técnicos, que desenvolveram seus empreendimentos, qualificaram-se profissionalmente para atuar e desempenhar suas funções pública e privada nesse sistema, e assumiram compromissos em torno de uma lógica de financiamento que está muito longe de ser ideal, mas é real e efetivo. Não traz a dignidade necessária à sobrevivência da arte em nossa sociedade, mas é a sobrevivência para muito do se realiza em termos de indústria cultural pelo Brasil afora. 

Atendo muito desses empreendedores em minha consultoria, que lutam cotidianamente contra o preconceito das corporações, que ainda enxergam cultura de maneira muito restrita e simplista. E custa-me considerá-los, mesmo os do eixo Rio-São Paulo, como privilegiados, membros de uma elite econômica, que só pensam em si e desprezam a diversidade cultural e a cultura popular.

Não consigo compreender a fúria e a indignação do Ministro da Cultura e sua equipe, que não hesitam em responsabilizar esses heróis da resistência por problemas que fogem ao raio de atuação da atividade intrinsicamente cultural e artística. Nos últimos anos, o MinC transformou a vida de artistas e gestores culturais num verdadeiro inferno, publicando portarias e decretos ilegais, estúpidos e anti-democráticos. Gerando dificuldades para “vender” facilidades.

Essas dificuldades burocráticas só fizeram fortalecer os intermediários e afastaram os artistas e os agentes menos privilegiados do acesso direto ao mecanismo. A instabilidade jurídica é tamanha, que torna-se impossível acompanhar as regras e procedimentos alterados semanalmente pelo MinC. Quase tudo para complicar a vida do pequeno produtor. O grande é o menos afetado, pois tem assessores, advogados e conseguem fazer valer o direito de acesso democrático ao mecanismo, subtraído covardemente do pequeno produtor.  

Esse mercado em formação não quer a manutenção de privilégios, talvez um ou dois espertalhões, mas não a esmagadora maioria dos proponentes, que produz ações culturais de pequeno porte. Lembro que 65% dos projetos captados são de pequeno e médio porte, até R$ 200 mil.

A não existência da Lei Rouanet seria, realmente, a melhor solução para todos. Mas ela existe e é realidade pra muita gente aguerrida, consistente e compromissada com a democracia, com a diversidade e com a justiça social. E a luta dessa gente é por dignidade e não por manutenção de privilégios. Não há nada de errado em resistir a um desmanche de um instrumento público da envergadura e importância da Lei Rouanet. Os que buscam o seu esvaziamento em nome de uma dita “diversidade cultural”, ou estão sendo manipulados ou possuem uma agenda oculta ou escusa.

Segundo informações que temos difundido insistentemente aqui em Cultura e Mercado, a Lei Rouanet é o principal instrumento de financiamento à cultura do Brasil. O segundo maior instrumento existente, o Cultura Viva (agora engolido pelo Mais Cultura) não consegue dar conta de 10% dp volume de projetos do mecenato.

Seria lindo imaginar um mundo em que a atividade cultural brasileira não dependesse do setor privado. Mas é polianismo puro acreditar que a criação de cinco fundos resolveria esses problemas. Simplesmente porque esses fundos são na verdade “sacos sem fundo”. Não existe dinheiro para lastrear a vontade (verdadeira, corajosa, porém impetuosa, e até mesmo irresponsável) do MinC. 

E outra, o dinheiro do mecenato não concorre com o dinheiro do fundo. Na verdade o mecenato não concorre com nada. Nunca chegou perto de atingir o limite de renúncia disponível para a cultura. Não há porque esvaziar este mecanismo sem antes termos uma garantia efetiva de orçamento.

Todos sabemos que o Ministério não tem capacidade operacional para controlar a Lei Rouanet, sequer o FNC. Falta funcionários, qualificação. A situação é realmente preocupante. A execução do Mais Cultura, do próprio FNC e mesmo do Cultura Viva, demonstram claramente isso. Ou seja, mesmo se tivesse dinheiro em caixa, não conseguiria gastar.

Não sou descrente do Fundo. Pelo contrário. Luto aqui, todos os dias, por um fundo público para as artes, que seja  autônomo, gerido e controlado pela sociedade. O exemplo da Inglaterra poderia ser aprimorado e incorporado às instâncias de participação geradas nesta mesma gestão do MinC, que são, sem dúvida, verdadeiros avanços.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

10Comentários

  • Cury Heluy, 21 de junho de 2009 @ 15:48 Reply

    Pode reparar: Acho que ainda se confunde muito cuidar da CULTURA de um povo, de forma geral, com liberar dinheiro público para bancar shows, apresentações, CDs ou DVDs particulares de artistas ou grupos de artistas, num processo de preocupação apenas com seu SUSTENTO e SOBREVIVÊNCIA, imaginando que se ele artista tá comendo e trabalhando (e às vezes “ganhando algum” com a bilheteria), então a CULTURA do Povo tá salva.

    Fala-se muito, e muito se está preocupado em “arranjar trabalho para o artista”, a verdade é essa. O desenvolvimento Cultural do Povo, a essa altura, já foi pras cucuias.
    O brasileiro não é um povo culto, muito por herança, e em função da quase total dificuldade que tem pra ler e entender muitas coisas. Não tem acesso aos meios de comunicação como deveria, e não é estimulado a debater assuntos que são de suma importância para ele.

    Em Janeiro deste ano tive aprovado um projeto de Interação Musical, no Estado do Maranhão. É um projeto feito para durar 18 meses. Não é uma apresentação para arrecadar bilheteria. São 4 Festivais de modalidades distintas, com 80 apresentações, e performances de aproximadamente 400 músicos, cantores e artistas maranhenses, já previamente produzidos, apresentando-se de GRAÇA, para o público, em praças e locais livres. A intenção é que os vencedores possam viajar para o Rio de Janeiro, e lá participar de uma gravação de um disco verdadeiramente profissional, feita em estudios de primeira linha, interagindo com músicos de primeira linha, com técnicos e produtores de vasta experiência, não para que possa em função disso vender depois no mercado “um disco maravilhoso” e botar seu dinheirinho no bolso. Nada disso. Vai servir como aprendizado, uma espécie de estágio, em que – embora inevitavelmente vá haver uma importante troca de cultura musical – mais importante será a Cultura GERAL do aprendizado de como aplicar técnicas novas de gravação, desenvolver o conhecimento e utilização de equipamentos novos, visitar Gravadoras, e inteirar-se dos procedimentos para edições de música e arrecadação pelo ECAD, etc.,e quando voltar para sua terra poder mostrar e demonstrar os procedimentos aos outros (povo), REPASSANDO – como professores – a CULTURA (conhecimento) que adquiriram. E então “crescer”.

    Não consegui verba para o Projeto em questão, infelizmente. Aliás, nem consegui sair do lugar. Fui informado que grandes empresas como Petrobrás e outras estatais de peso só patrocinam se o Proponente for “Pessoa Jurídica Sem Fins Lucrativos”. Sou apenas uma Pessoa Física (embora tenha 40 anos de experiência de Produções, Composições Premiadas e Estudios Profissionais no Rio de Janeiro).

    Discordo da maioria das pessoas. Confio bastante no FNC para essa tarefa (se mais à frente desmerecer a confiança, um Colegiado de notáveis tratará de substituí-lo). Não é assim com relação aos árbitros de futebol? Não é assim com relação ao Presidente da República, de 4 em 4 anos?
    Já ouvi histórias de pessoas que foram solicitar patrocínio e a empresa falou que “infelizmente aquele não era o seu público alvo”.

    Penso da seguinte forma (e já publiquei isso várias vezes):

    Acho que o caminho mais simples é fazer uma estimativa de quanto se arrecadaria se TODAS as pessoas (Físicas e Jurídicas) do País resolvessem participar em sua totalidade dos incentivos da Lei Rouanet. Quanto seria arrecadado? X Reais? Então solicita aos setores financeiros do Governo que, na hora do recolhimento do imposto de renda, separe aquela parte para o Fundo Nacional de Cultura, a ser composto de pessoas escolhidas de forma administrativamente criteriosa, que demonstre ter sensibilidade e comprometimento com o POVO, mas que não seja meramente artístico, como muitos parecem querer, cada um defendendo seu quintal).

    Ao ser aprovado, o projeto já viria coberto financeiramente, e a fiscalização de retirada para pagamento e prestação de contas continua do mesmo jeito. O critério de escolha seria o de medição de maior qualidade e alcance popular de CULTURA GERAL (afinal, não é essa a idéia?)

    Entendo que a Arte é o “meio de transporte” mais importante da CULTURA. Portanto, sem confundir as coisas, devem ser criadas políticas, não culturais, mas Artísticas e de Entretenimento, para dar subsistência aos artistas e a partir daí poder levá-los – como diz a música – onde o povo está. Assim a cultura ARTÍSTICA chegará até lá, e através da ARTE outros conhecimentos (cultura) então chegarão.

    Portanto, na área Cultural “Artística”, digamos assim, não seria autorizado nada que vise proporcionar renda de bilheteria ou lucro com venda de discos ou ingressos. O material final deverá ir de graça para o povo (foi feito com dinheiro dele). O ganho de cada participante já estará embutido nos salários discriminados no Projeto (em uma peça de teatro, por exemplo, já estará acertado o aluguel do teatro, o salário do diretor, dos artistas, pessoal de apoio, gastos com confecções de roupas, etc., e meio de transporte para apresentações em vários lugares). Não é justo fazer o povo pagar por aquilo que está sendo feito com o dinheiro dele.

    Separar claramente os vários setores que compõem a cultura é muito importante:
    – Criação de Bibliotecas e estímulos para leitura através de prêmios (até familiares, para incentivar a familia a ler juntos). Se possível, criar Bibliotecas itinerantes com ônibus que possam ficar uma semana em cada cidade, fazendo palestras. Isso também é cultura.
    – Procurar (de verdade) todas as instituições nacionais e internacionais que ajudam a conservar o PATROMÔNIO CULTURAL FÍSICO (edificações): Isso é URGENTE.
    – Na maior parte do País as MANIFESTAÇÕES FOLCLÓRICAS (também importantíssimo Patrimônio Cultural) são praticadas por pessoas de pouco poder aquisitivo. Pode ser criada uma linha de patrocínios para que haja galpões de ensaio, contratação de costureiras para confecção das fantasias, coreógrafos para enriquecimento dos movimentos, desenvolver um setor específico que possa pesquisar, entrar em contato e promover viagens para o exterior de pequenos grupos que levem nossa CULTURA POPULAR para apresentações em Festivais na Europa, Estados Unidos e Canadá (nclusive com o patrocínio das passagens – geralmente a estadia, em colégios, e a alimentação são por conta dos Organizadores de lá), e também possam trazer de lá alguma coisa para mostrar aqui, como Curiosidade CULTURAL.

    Acho que o conceito de CULTURA deve ser repensado e principalmente subdividido em áreas, para que a apresentação dos Projetos não fique concentrado demais em shows de música e teatro (que geralmente acontecem somente nas capitais), e gravações muitas vezes baratas de CDs e DVD que JAMAIS chegam até a população e beneficiam de todas as maneiras somente o próprio artista ( geralmente nem isso, se quer saber)
    É só uma opinião.
    Mas é minha.

    JOSÉ DE RIBAMAR CURY HELUY
    PRODUTOR
    (98) 3226-8991

  • Daggi Dornelles, 21 de junho de 2009 @ 23:51 Reply

    Grata Brant, por ora, apenas isto. Há tanto mais por declarar, esclarecer, refletir, que as palavras escapam, talvez, assustadas por nossas necessidades desesperadas de seu uso, mesmo sabendo que tudo será pouco para descrever a situação deste país. Ainda assim, o texto é um compacto de muito daquilo que é essencial.

    Transitando sobre o quase impossível território de quem faz arte, muitas vezes desejei escrever, mas a tarefa torna-se impossível: a falta de tempo, a falta da fala ante a velocidade com que os absurdos desfilam ante nossos atos cansados, e a própria falta do mínimo de segurança em vida.

    Diante disso, sim, sou grata aos que organizam as palavras e tornam-se voz de muitos. Daqui, do impreciso onde oscilamos exaustos e mudos, agradecemos àqueles que nos emprestam sua voz.

  • daniela castro, 22 de junho de 2009 @ 12:29 Reply

    Olá a Todos,
    Disponibilizo um link do relato crítico que escrevi para o Forum Permanente: museu de arte; entre o público e o privado, que se trata da criação do recém criado Instituto Brasileiro de Museus. O Ibram é uma autarquia federal com um orçamento que pode chegar até 120 milhões de reais só esse ano. Essas questões debatidas aqui encontram equivalências importantes com as propostas do Ibram e abrangem discussões sobre mecanismos de incentivo fiscal à cultura, desde a criação de novas políticas públicas até elaboração de novos editais de fomento às artes visuais.
    Essa é uma iniciativa do MinC que promete ‘desburocratizar’, democratizar e atualizar os mecanismos de administração e incentivo à cultura. É importante que estejamos à par dessas propostas e negociações para garantirmos que as ações não fiquem só nas promessas.
    Aqui: sss://www.forumpermanente.org/.event_pres/encontros/criacao-do-ibram-1/relato-2013-politica-cultural-para-as-artes-visuais-no-recem-criado-ibram-instituto-brasileiro-de-museus

  • Denise Mattar, 22 de junho de 2009 @ 13:37 Reply

    Caro Leonardo,

    Reconfortador ver o seu texto. Creio que há uma confusão realmente muito grande no Minc.
    Organizo projetos de artes plásticas de porte médio para grande.
    No ano passado, por exemplo,apresentei o Nippon – 100 anos de Integração Brasil-Japão no CCBB-RJ.
    A exposição, com entrada franca, teve um público de 478.000 pessoas em 1 mês e meio. Um público de todas as idades e classes. Era emocionante ver todas aquelas pessoas apreciando a exposição, de velhinhos a crianças.
    Mais de cem pessoas trabalharam para a realização do evento,e trabalhamos duro!Todos ganharam pouco – o que era permitido pelo orçamento, um orçamento, com cifras altas, mas justíssimo para o porte do evento que pegou todos o três andares do CCBB-RJ e todo o espaço do CCBB-Brasília.

    Fico pasma em pensar que, dentro do atual discurso do Minc, eu seria classificada como uma das tais privilegiadas! Parece que ninguém pensa que os artistas, empresas e técnicos têm a maior parte de seu trabalho assegurada pelos produtores culturais. Viramos os vilões, nós somos o INIMIGO…

    E só nos resta aguardar o chumbo grosso que vem por aí!!!

    Parabéns por seu texto. Denise Mattar

  • Carlos Henrique Machado, 22 de junho de 2009 @ 13:50 Reply

    O problema Leonardo, é o que a Lei Rouanet não é um modelo de financiamento da cultura.

    Além disso, existem milhões de razões para deixar o grande capital bem longe do universo cultural. Este grande capital, para salvar os seus investimentos em certos tipos de cultura, tratou com pesado armamento bélico tudo o que não fosse do seu restrito mercado, ou seja, passamos o século XXI construindo um mercado cultural em nome das grandes multinacionais absolutamente artificial. Aquilo não era mercado, e nem exatamente uma imposição de marketing, como muitos creem. Houve no século XX, durante o desenvolvimento da indústria cultural e do entretenimento uma gama de práticas de um jogo de bueiro. Os caras trabalharam, não na construção dos seus modelos, mas na surdina, foram entupindo todos os canais que pudessem dar acessibilidade a seus concorrentes.

    No caso da Lei, isso é piorado, pois agora este grande capitalista conta com o dinheiro publico, nem investidor é mais.

    A Lei Rouanet é uma espécie de cachaça para aliviar uma dor, mas ela levou a cultura a esta cirrose que estamos vivendo.

    Grande abraço.

  • Leonardo Brant, 22 de junho de 2009 @ 21:36 Reply

    Cury, muito interessante sua contribuição. Há realmente uma confusão muito grande entre as diversas dimensões da cultura. Em consequência temos um remédio único para todas as nossas “doenças”. Mas o remédio não é necessariamente ruim. Ele cabe apenas para certos tipos de produção. Mas não podemos abrir mão desse remédio, tampouco dessa lógica, antes de estabelecermos uma nova (e necessária) ordem na cultura.

    Daggi, Daniela e Denise, é uma pena termos que apresentar uma defesa desse tipo, diante de um ataque inescrupuloso do órgão oficial da Cultura, que deveria se ocupar de resolver os milhares de problemas já existentes. “Se não vêm ajudar, por favor não atrapalhem!”

    Carlos, cachaça é pouco. Como disse acima, Lei Rouanet é purgante vendido aos quatro cantos como xarope adocicado (escrevi isso em 2001 no meu livro Mercado Cultural). O organismo cultural brasileiro já tem esse componente químico nas veias. Seria assassinato coletivo promover um desmanche desse tipo no setor cultural. Acredito, no entanto, que esse remédio tb cure demagogia e talvez essa proposta vazia e oportunista seja substituída por algo mais realista. Oxalá!

    Abs, LB

  • Maria Tereza Penna, 23 de junho de 2009 @ 13:35 Reply

    Sou artista plástica e publicitária.
    Tenho um projeto aprovado na LEI Rouanet.
    Mas para aprová-lo passei por penitências até ser notificada no último dia de 2008, (com patrocínio na mão), que os projetos, …patati patatá..assim assado poderiam ser arquivados.
    No dia 2 de janeiro de 2009, sob a alegação que não havia atendido ‘as diligências fui informada que o mesmo havia sido arquivado.
    Chorei, pela perda do investimento financeiro e emocional, pelos últimos 10 anos, pelas mulheres envolvidas e por mim…
    Se não fosse uma senhora de nome Valverde, maravilhoso nome por sinal, que se prontificou a conferir os meus documentos estaria arquivada e talvez excluída.
    Perdi meu patrocinador que me reivindicava a todo instante a publicação… Agora com essa tal crise, só Deus sabe.
    Venho lutado todo esse tempo com recursos próprios para manter sonhos…
    Trabalhado em troca de sonhos…
    Montei uma ONG, fiz parceria com entidades e ” Desde iniciativas estatais competindo com artistas (e que concentram e abocanham a grande fatia dos investimentos), “.me deparei com oportunistas, espertalhões e trapaceiros…
    Comecei a ter medo dos “SS” do governo…pois em se tratando de autoria de projetos Filho feio não tem Pai, e quando é Saudável nem precisa de DNA.
    As parcerias não são biunívocas são leoninas ou unilaterais..
    Eles captam as verbas por que seu projeto deu certo e começam a fazer discrepâncias com o dinheiro público.
    Por que não investem em quem realmente já provou que têm compromisso, nas entidades que realmente estão trabalhando e acreditam e já conhece os resultados e benefícios que poderão obter?
    Nós estamos junto às comunidades, sabemos e conhecemos seu “modus vivendi” e já fazemos parte dela.
    Além de sofrermos a censura prévia das empresas ainda temos que competir com estatais que, em cujo quadro de funcionários existe pessoas que agem de má fé ou não sabem o que estão fazendo, ou ainda, sabem perfeitamente o que estão fazendo e o fazem.
    Temos que assistir “Bancos” dizendo que não podem receber recursos da Lei Rouanet por não ter pessoal capaz de lidar com as contas em suas agências.
    É aviltante e constrangedor…Me sinto uma mendiga, literalmente uma mendiga…ou me sentindo uma usurpadora às vezes…
    Me dispus dos meus recursos e de meu tempo por acreditar que poderia ser uma gestora de sonhos e de cultura.
    Fazer das tradições meio de trabalho e renda, informar sobre a Economia Solidária, identificar novos talentos e implantar um Circuito Turístico para escoar a produção…Tudo com os residuos sólidos do principal produto regional, cujo artesanato (palhas, fibras, doces, polo de moda com estampas características, mascotes, suvenires, informativos, etc).
    Um projeto Cultural economicamente viável…O produto seria o gancho (são 200 anos de cultivo e portanto Patrimônio Imaterial)sss://br.geocities.com/yesnostemosbananas/ para uma “movimentação social” e preservação ambiental, pois estamos assistindo a destruição das áreas rurais, das matas ciliares e em seu lugar surgindo chacreamentos clandestinos e conglomerados de pobreza.Estamos sucateando nossas riquezas, perdendo nossas raízes e tradições…e nos tornando um verdadeiro produto da globalização, nós somos um grande exemplo e resultado da globalização e prosseguiremos sem identidade e compromisso…
    Prosseguiremos até que Deus ou alguém tiver piedade de nós…
    Assinado:
    A Megalomaníaca…
    PS: Que está prestes a desistir de seus sonhos grandiosos que só ela acredita que um dia existiu…

  • Cristina Ruiz, 23 de junho de 2009 @ 14:32 Reply

    Caro Leonardo,
    Sou escritora, artista plástica, produtora cultural e brasileira.
    Li o projeto da nova Lei de Incentivo à Cultura. Sempre penso que tudo o que é feito para melhorar, lapidar e facilitar um mecanismo é bem vindo. Confesso que me assusta bastante esse empenho do ministro Juca Ferreira em modificar e aprovar a nova lei. Há um cunho pessoal e um empenho voraz, quase insano, em promover a nova lei e fazê-la passar a todo custo. Por que será? Nunca me lembro de ter visto um Ministro da Educação ou da Saúde tão empenhado, fazendo campanha nacional de estado em estado, dando palestaras e passando os feriados interiros em reuniões e programas de televisão divulgando com tanto afinco e paixão um tema, como o Ministro tem feito. Nos leva a desconfiar, sem dúvida. Vou opinar um pouco sobre a nova lei, falando sobre cada ponto que me chamou a atenção.
    VALE-CULTURA: Acho que a cultura é a base de um povo, mas de um povo estudado, bem alimentado e saudável. Não adianta dar vale-cultura de R$ 50,00 reais para quem ganha pouco, pois em poucos dias, todos nós poderemos comprar esses vales nos camelôs, por R$ 40,00 (eles terão pago R$ 30,00 para o trabalhador que o recebeu) ao lado de vale-transporte e vale-refeição. Quem ganha pouco transforma esse vales em dinheiro, levando marmita de casa, indo a pé, de bicicleta ou até pulando catraca. Dificilmente alguém irá ao cinema ou ao teatro, se estiver com fome ou precisar comprar remédio para o filho pequeno. Este ônus a mais para as empresas, vai ser repassado para o consumidor final e não vejo grandes chances de realmente dar acesso cultural ao povo em geral. Deve-se pensar em outra forma de aculturar o povo, além de um ensino descente. Talvez um cartão personalizado com foto, que dê o direito a desconto de 50% a 100% em eventos culturais pré-determinados, seja teatro, cinema, circo, show de música ou exposição de arte, mas que de forma alguma se torne moeda de troca.
    GESTÃO GOVERNAMENTAL – Muitas mudanças, novas diretrizes, boas intenções, mas na prática nos assombra um medo muito grande, pois exepriências anteriores mostram e provam que ao gerir verbas públicas, o próprio governo direciona para seus “protegidos”, o que nos leva a crer que as grandes fundações culturais das grandes empresas que hoje são os 3% que detém os 80% de todo o patrocínio concedido, manteriam seus lobistas trabalhando junto ao MinC e continuariam sendo os grandes receptadores das verbas para seus projetos, conseguindo, inclusive, que seus projetos fossem aprovados em 100%, dentro da nova tabela de incentivos. Vamos continuar vendo as grandes empresas patrocinando grandes eventos e o povo continuará de fora, como de costume. Citando o clássico caso do Cirque du Soleil, que tem o patrocínio milionário em 100% e a classe média financia o ingresso em dez vezes no cartão de crédito, pelo preço exorbitante que se pratica neste país de terceiro mundo. Ingresso que se pode comprar bem mais em conta em qualquer espatáculo da troupe na América do Norte ou Europa. A classe baixa nem sonha com o espetáculo. E a classe alta pode ir assistir em Las Vegas, Montreal ou Barcelona o último espetáculo no momento que bem entender.
    TABELA DE INCENTIVOS – 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100% – Nós, os produtores independentes, que num trabalho de formiguinha realizamos projetos menores, com verbas pequenas, mas interessantes e básicos, não seremos nem ouvidos dentro do MinC. O MinC terá, de acordo com o nova lei, o repasse integral de 4% de todo o Imposto de Renda das empresas de lucro real em geral. Todos sabemos que muitas delas, por preconceito, medo, desconfiança, desconhecimento ou simples falta de boa-vontade, não incentivam projetos de forma alguma, deixando de liberar para o mercado cultural mais de R$ 2 bilhões de reais. Com esse repasse integral, sabemos que os valores disponíveis quase duplicarão. O que de um lado é maravilhoso, mas de outro, quem garante que nós possamos desfrutar dessa verba? Vamos lá, vamos pensar positivo: apresentamos um projeto muito bom, somos analisados e temos o nosso proejto aprovado em 80% do seu valor, ou seja, o MinC nos dará 80% do dinheiro, desde que consigamos os 20% (não incentivados) na inciativa privada. Devemos sonhar que a empresa vai adorar o nosso projeto, irá com a nossa cara, pegará o dinheiro bom de seu lucro e nos dará. Nunca!!!! Isso não vai acontecer nunca!!!! Ninguém vai tirar dinheiro de seu caixa (nem de seu Caixa 2) para incetivar projeto nenhum. Nem 10%, quanto mais 70%. E essa será a desculpa que o MinC terá para não nos repassar a verba. Mas as Fundações e Institutos Culturais das grandes empresas aprovarão seus projetos, “fingirão” que estão complementando suas alíquotas (claro que o dinheiro não entrará de verdade) e continuarão fazendo seus projetos grandiosos, que lhes permite mascarar uma porção de coisa, por trás da cultura.
    Hoje, da maneira como a lei funciona, as empresas encaram a verba da Lei Rouanet como verba complementar de marketing, uma forma barata (ou gratuita) de por seu nome em projetos bons e de grande visibiliadde. Se são empresas que tem suas próprias Fundações ou Instituos Culturais, contam as lendas, que esses mecanismos são utilizados para práticas menos patrióticas. Na verdade, ninguém está muito preocupado com a cultura do povo.
    Resumo da Ópera: se com incentivo de 100% no artigo 18 é quase impossível para os produtores independentes conseguirem verba, com a tabela de isenção progressiva, será impossível. As empresas não vão nem nos ouvir. Continuarão conseguindo patrocínios para suas Fundações e Institutos, pois continuarão tendo “força política” dentro do MinC. Isso não muda. O passado prova.
    AVALIAÇÃO – Como se avalia um projeto cultural? Não vemos gente de real competência e conhecimento cultural profundo avaliando esses projetos nos setores do MinC. Utilizam valores orçamentários defasados e irreais, médias nacionais que excluem preços de SP e Rio, fazem cortes pelo simples fato de terem que cortar verba e pronto, sem nem analiasar realmente aquela rubrica no contexto. Nada é muito claro desde já, imagine quando a verba pertencer toda ao MinC. Quais são os parâmetros usados para classisficar e julgar um projeto? Existem bases de dados suficientes que classifiquem este ou aquele projeto dentro de diretrizes estaduais ou federais? Qual a real responsabilidade do Governo na difusão da cultura no país? Que procedimentos deveremos ter para obtermos a aprovação e consequentemente o financiamento do MinC para os projetos apresentados? Quão claras serão essas regras? Como se modificarão as regras subjetivas que regem as aprovações futuras?
    Ao ler o Projeto, vemos que muitas mudanças serão regulamentadas depois. Como podemos confiar numa lei que será inconstitucionalmente regulamentada após aprovação? Quem irá regulamentar uma lei já aprovada e em que bases? Não devemos ter todas as regras bem claras ANTES da aprovação final? Não se assina um contrato com cláusulas que serão inseridas depois, portanto, a meu ver, deve-se apresentar um texto de lei completo, com todas as cláusulas, regulamentações, emendas e regras antes de se aprovar. Depois de aprovada, coloca-se ali o que bem se quiser e toda a classe cultural ficará à marcê dessas decisões.
    REGIÕES E PRECONCEITOS – Pesos de 0,5 a 2,5 – Por que o preconceito com o Sul e Sudeste? Por que o preconceito ainda maior com São Paulo e Rio? Percebe-se uma raiva contida, por uma região que trabalha de verdade, trabalha incansavelmente. Por que dar pesos diferentes para as regiões de um mesmo país? As outras regiões são ociosas, não apenas em termos culturais, mas em termos educacionais, de saúde, infra-estrutura e empresariais também. Sabemos que a verba do MinC virá em grande parte dessa região sudeste e será dirigida para todas as outras regiões, numa clara atitude de mais uma vez retirar daqui, para se dar lá. Prática antiga em outros setores governamentais ao longo de todos esses anos com Sudans, Sudenes, Sudepes, Imposto Verde e outras idéias mirabolantes de esvaziamento de verba da região mais rica do país. São Paulo e Rio são ativos na cultura e captam 80% de toda a verba, por que aqui se concentra mais de 80% das empresas pagadoras de impostos no Brasil. Devemos repartir? Sim. Mas com regras claras e sem pré-conceitos ou artifícios. A intenção é esvaziar a cultura do sudeste em prol de outras regiões, muitas inclusive sem público suficiente para prestigiar ou compreender o evento que se apresenta? Claro que todo mundo tem dirteito à cultura e entretenimento, mas devemos ter bom senso para não dar Sheakespeare ao jardim da infância ou Picasso a cegos. Não seria mais básico uma preocupação igual ou superior dos Ministros da Educação e Saúde, antes do bem-intencionado Ministro da Cultura?
    Podemos dar um exemplo: nós somos uma pequena produtora do sudeste, estamos com um projeto literário aprovado que aborda um tema do nordeste. Estamos captando no nordeste (o que não é fácil, pois no estado em estamos realizando o projeto, apenas três empresas pagam IR suficiente para terem um bom saldo de Rouanet), contratando profissionais no nordeste, utilizando empresas do nordeste para a execução e vamos distribuir o produto de nosso projeto (livro) em todo o Brasil. Qual a diferença de sermos do sudeste? Por que temos peso 0,5 contra um peso 2,5 do Amazonas? Achamos que esse tipo de rótulo só vai dar ocasião a mais falcatrua e maracutaia. Os grandes produtores vão dar um “jeitinho” de estar nas regiões privilegiadas rapidinho com suas fundações, institutos e filiais. E mais uma vez seremos passados para trás.
    Se as regiões ociosas começarem e produzir projetos, obterão incentivos de 100% e não haverá meios de se fiscalizar o sumiço dessa verba toda nas mãos dos mesmos de sempre, através de artifícios políticos, inclusive eleitoreiros.
    A classe artística teatral e cinematográfica, por exemplo, por ter seus empregadores maiores no sudeste (as grandes redes de televisão), desenvolvem seus projetos lá, captam lá e realizam primeiro lá, as suas peças teatrais e filmes. Os filmes são distribuídos para todo o Brasil e se não chegam a certos lugares, é por que nem cinema exitse no recanto. As peças de teatro viajam o Brasil e muitas necessitam de uma infra-estrutura mínima para serem realizadas e muitos lugares não oferecem esse mínimo, muitas são encenadas sob velhas lonas de circo. Quando saímos desse eixo Rio-São Paulo, caem as produções teatrais e artísticas, por que fora daí não existem “empregadores” televisivos que os mantenham, para que possam se dedicar ao antigo ofício grego do teatro.
    Devemos observar que graças a Lei Rouanet, cresceram muito as manisfestações populares e folclóricas, muitas inclusive com forte cunho religioso, o que em tese, não pode ser aprovado pelo MinC, como Festas de São João, São Pedro e Santo Antonio, passando por Bumba-Meu-Boi, Festas do Divino, Reizadas e Festas de Yemanjá. Não há nada errado nisso, pois cultura popular, religiosa ou não, é mais cultura para o povo que circo canadense e é a cultura que a região compreende, admira e quer.
    Pode-se mudar a Lei Rouanet, desde que seja para melhor e não para engessar ou acabar com a cultura de um país. O Governo não pode passar para a iniciativa privada a responsabilidade que cabe única e excluisvamente a ele. Ninguém vai nos dar os 10, 20, 30% complementar e o MinC vai ficar sentado em cima mais de R$ 4 bilhões de reais, para fazer o que bem entender com a verba. Dá para ficar desconfiado.
    Na verdade, do ponto de vista simplista e otimista, saber que todas as empresas passariam os 4% para o MinC e que ele faria a gestão da verba, distribuindo de forma igualitária para todos os produtores culturais que apresentem projetos bons, seria um lindo sonho, mas infelizmente, sabemos que não é isso que vai acontecer. Pesadelos vêm aí.
    Abraços
    Cristina Ruiz

  • Carlos Henrique Machado, 23 de junho de 2009 @ 15:38 Reply

    Isso, Leonardo! A demagogia é a grande mascote da nossa olimpíada civilizatória trazida pelos nossos ilutres jesuitas e readaptada agora por essa febre de prussianismo rude, da pior das virulências cristianizadas que é a cultura como óleo de cobra, principalmente na salvação da bacia das almas da nova economia gerada pela esquizofrenia pedagógica.

    A arte do ensino ou o ensino da arte é produto velho de guerra em que, literalmente, a ordem dos fatores não altera o produto.

    Essa megalodemagogia trouxe um dos mais agudos vícios da nossa tropical civilização. Daí em diante Leonardo, virou tourada.

    Venho falando disso há muito, meio pregando no deserto. Toda a sorte em que vive a cultura brasileia é filha desse caroção de angu que é devorado pelos conselheiros das culturas universais que não conseguem sequer ser locais.

    O mercado cultural, pelo menos aqui no Brasil, é o único em que nunca o freguês tem razão. É normal os transformadores de almas classificarem as escolhas da sociedade como coisa primitiva. Nós, com nossos feudos gerenciais, com nossos guetos artísticos, com as nossas obediências cívicas, religiosas, plasmamos este arquipélago de republiquetas desconectadas dentro do país e, ao invés de multiculturalidade, contruimos a multilateralidade.

    Não tem jeito, Leonardo, temos que zerar a conta e buscar um mínimo de sinceridade na hora de examinar a própria sociedade e construir de forma compartilhada um mecanismmo que possibilite ao menos um pouco de autonomia. A demagogia é generalizada.

  • Regina, 23 de junho de 2009 @ 19:59 Reply

    Na última sexta estive em um debate sobre mecanismos de financiamento, com a presença do Manevy e do Secretário de Cultura de Minas Gerais.Com todos os problemas que Minas enfrenta na área de cultura, eu acredito que fiquei mais feliz com o Paulo Brant, que sem nenhum pudor sempre se colocou como alguém inexperiente para as questões e necessidades da cultura, que quer encontrar formas de ajudar e que na sua verdade mais simples, se expressou dizendo “Que todo mundo quer ganhar dinheiro e que mal têm” e acho que começo meu comentário por aqui.
    Vivemos em um país capitalista de regime presidencialista, onde as leis de mercado determinam a economia, com as devidas intervenções do estado. E um quadro minimamente estranho, onde nossos governantes ainda não se deram conta que ser artista, ator, produtor, bailarino, músico é uma profissão como outra qualquer, que demanda investimento, estudo, mercado, que estas pessoas são seres normais que precisam comer para viver, que precisam de casa para morar, que tem filhos, familia. Porque a sociedade como um todo imagina o artista na televisão, que parece ser um conto de fadas, que nada existe e aí fica dificil convencer os leigos que o que está sendo proposto não nos atende, já que não existimos.

    Outro fato interessante e já apontado em outros comentários é que o grande problema está em tratar tudo dentro do mesmo bojo, a Lei Rouanet hoje tem problemas talvez por este fator. E o governo politicamente tem seus interesses pessoais, eleitorais, sei lá quantos mais. Cultura e suas diversas dimensões, duas importantíssimas , cultura popular, produção artística profissional.
    Não existe mecanismo, politica pública que dê conta de tamanha falta de visão, ou visão condicionada.
    Bernardo Mata Machado citou Gilberto Gil muito bem, existia e existe no MINC uma cesta de opções, e talvez seja isso mesmo que tenha que ser valorizado.
    Como dar conta de um país de muitos países? de uma diversidade imensa.
    Onde o sudeste é diferente do nordeste, que por sua vez difere do sul que difere do norte. Culturas diferentes, que muitas vezes nem precisam de investimento direto para sobreviver, estão dentro de ações governamentais de preservação do patrimônio.
    Numa reunião que estive recentemente, disseram assim , sem nem ao menos ter lido a proposta de mudança da lei, “Se o sudeste está se articulando contra, vamos nos articular a favor”, como assim? Estamos numa guerra velada? Quando foi que viramos os vilões e nem nos avisaram.

    Manevy em seu discurso bem pontuado, tem um poder de convencimento digno dos grandes ditadores. Usa palavras fortes como o apartheid da cultura, numeros são apresentados, quadros estatísticos, quase me convenci e fiquei morrendo de inveja que a gente não tenha cacife pra fazer o mesmo.

    Mas o principal quadro apresentado onde ele coloca, não vou conseguir aqui repetir de forma fiel, mas ele fala, por exemplo, que 70% da população nunca assistiu a um espetáculo de dança e por aí segue…este quadro não é um resultado de 18 anos de lei rouanet, é resultado de 500 anos de ingovernabilidade, de ditadura, de falta de investimento em educação, em cultura, em moradia, em saúde…
    Como foi feita esta pesquisa, eles foram no vale do Jequitinhonha? Deveriam ter perguntado quantas vezes a pessoa comeu carne na vida, talvez chegasse ao mesmo número, infelizmente.

    Então, como pode servir este quadro de parâmetro para avaliação e sugestão de mudança na lei?

    Pensando em nossas diferenças geográficas, penso que fundos podem dar certo em instâncias municipais, estaduais talvez, porque o controle social pode dar certo através de conselhos, ou até mesmo de comissões, e ir pessoalmente cobrar é tb mais fácil.
    Mas pensem que atualmente não conseguimos sequer ser atendidos pelo telefone no MINC, nossos projetos levam seis meses para serem aprovados, liberar uma conta de livre movimentação mais de um mês e existem alguns que podem ir até Brasília e acompanhar os projetos pessoalmente, mas isso é um em cinqüenta. E porque devemos ir? Esta é a pergunta. A Resposta, é a perda de documentação, a morosidade, a falta de vontade de trabalhar e política. Se as regionais tivessem alguma outra função que não fosse a de “correio” e nem sempre esta funciona, se elas fossem responsáveis pela primeira parte do processo, que é a avaliação documental, quem sabe estivéssemos avaliando e criticando outras coisas. E qual o custo para se manter uma regional aberta? Alguém tem este dado?

    Imaginem vocês tudo concentrado em Brasília, nossa nem consigo imaginar.
    Aliás posso, não se anda mais, não se produz.
    E os conselhos, comissões, como poderão realmente ser representativos? Se a área cultural não tem sindicatos, que sejam setoriais, que possa dar alguma tranqüilidade que estamos sendo representados? E estes conselhos serão criados como e onde? Deveria ser dentro de uma conferência nacional, ou não? E o que resultou da primeira conferência?

    O nosso novo relator, se diz feliz pela tarefa, que julga ser um pioneiro, mas a PEC 150 tem pelo menos 5 anos que está no congresso, porque de repente seria importante votar?
    E será que a nova lei será votada antes? Por que?
    Quantos gabinetes foram visitados para apoiarem a nova lei? Mas quantos foram visitados para votar na PEC 150?
    Palavras como contingenciamento não assustam mais?
    E porque no Cultura as empresas não podem receber incentivos para serem investidoras? Porque em todas as outras situações, o governo até interfere e se torna salvador e na cultura estão querendo é inviabilizar que o investimento aconteça?

    Não consigo compreender a negação de um mecanismo com tanta determinação, porque reinventar a roda?
    Quantos acordos já foram feitos para que a lei passe no Congresso? Aqui em Minas, não quero ser leviana, mas virá uma emenda de 50 milhões para o patrimônio cultural, porque agora, justamente neste momento?
    Não me assustaria nada, se a copa de 2014 virasse projeto cultural e o recurso viesse do FUNDO DA LEI ROUANET.

    Bom, no final das contas, me entristeço que na verdade é uma luta de um lado só, não temos força, dinheiro para ir para Brasília e acamparmos no congresso. Estamos vencendo cada dia, fazendo nossa arte e ainda enriquecendo o Brasil culturalmente e tornando o seu retrato cada dia melhor no exterior…
    Abraços a todos.
    Regina

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