No artigo anterior eu mostrei o mercado cultural como um conjunto de elementos do espaço, objeto de estudo da Geografia. Introduzido este primeiro ponto de vista, venho agora explanar sobre como a Geografia faz uma análise espacial e, utilizando esta perspectiva, pode-se entender as características espaciais do mercado cultural.

Segundo Milton Santos, não é possível chegar a uma apreensão empírica do espaço total. Em termos práticos, ele se apresenta apenas em nível conceitual. Para fazer uma análise do espaço total, é necessário utilizar um recorte espacial, uma fração representativa dessa totalidade, que seja constituída por elementos espaciais organizados em uma estrutura espacial. Neste sentido, “o espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerado isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá” (Santos, 2008, p.63). Explicando de uma maneira simplificada, sistema de objetos é o conjunto de agentes que interagem no espaço – sejam eles humanos ou não – e sistema de ações, como o próprio nome diz, são as relações e as interações entre os objetos espaciais.

Portanto, a arte, como importante parte integrante da cultura, é uma categoria de objetos que formam o espaço, e a dinâmica de produção e de consumo da arte constitui um sistema de objetos próprio, objetos estes que possuem uma funcionalidade para além do valor simbólico.

Quando as ações permitem que vários objetos se organizem a fim de se inter-relacionar – tendo ou não uma estrutura de comunicação entre eles –, há indícios de que esses objetos podem estar constituindo uma rede.

Ainda de acordo com Santos (2008), para a ciência geográfica, as redes são definidas como um conjunto de relações entre agentes espaciais que pode ou não ter uma infraestrutura territorial para a interligação de pontos. Estes podem ser quaisquer dos elementos do espaço.

Diante disso, fica ainda mais claro porque que ao falar em “espiral cultural”, Brant (2004) apresenta uma forma de organização do mercado cultural que é espacializada e pressupõe uma rede de relações entre os agentes da espiral.


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Produtora Executiva, Cantora e pesquisadora da área cultural.

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