Nenhum elemento é tão importante para a definição de um projeto ou negócio cultural quanto o financiamento. Se levarmos essa afirmativa às últimas consequências, diria que mesmo a linguagem e a referência estética de uma obra são fortemente influenciados pelo mercado. Uma afirmação difícil de ser feita, mas fácil de ser observada.

Foto: Miemo Penttinen Há uma cultura de patrocínio que molda cada vez mais projetos para atender a interesses e públicos determinados por investidores, há editais que definem ideologias com suas linhas de ação pré-estabelecidas, há contratantes que imprimem seu jeito de fazer e pensar a cultura no país.

Isso sem contar com o gosto do público que financia esta ou aquela ação cultural de acordo com critérios individuais, de grupos e tribos específicos, que muitas vezes criam a sua própria cultura de consumo e financiamento, formando mercados de nicho cada vez mais potentes e independentes da lógica da indústria criativa e do mainstream.

Em constante movimento, o mercado se reinventa, se recria a cada dia. Há menos de uma década não havia smartphones, tampouco o mercado de aplicativos com seus adolescentes milionários, não havia Netflix e as demais plataformas de vídeo on demand. Imagine tudo o que ainda pode ser pensado e desenvolvido para responder à necessidade básica dos cidadãos por conhecimento e por experiências transformadoras.

Já que podemos pensar o mercado como fenômeno cultural, não é errado imaginar que um setor cultural forte e ativo seja capaz de criar seus próprios mecanismos de financiamento, ajudando a construir o próprio mercado onde está inserido. Ou seja, devemos pensar em pesquisa e inovação não apenas para gerar projetos e conteúdos interessantes, mas também para desenvolver tecnologias de gestão e negócios, capazes de favorecer todo o ambiente de mercado.

Um bom exemplo para ilustrar isso são as plataformas de publicação online de livros. Além de inovar com um novo e rentável modelo de negócios, favoreceu o lançamento de novos autores que não teriam chances de publicar dentro do mercado tradicional, gerando uma nova cadeia econômica, com novos agentes de mercado.

Todo mercado estabelecido é sangrento, configura-se como um oceano vermelho, cercado de tubarões, como nos ensinam W. Chan Kim e Renee Mauborgne, autores de A Estratégia do Oceano Azul. Eles mostram que ao lado desse ambiente sangrento e competitivo há sempre baías de águas límpidas e fartura de fauna e flora, ambientes mais propícios para a geração de novos negócios. Mas nos alertam sobre a necessidade de gerarmos uma proposta clara de valor em torno dessas descobertas.

*Leonardo Brant ministra, nos dias 25 e 26/1, no Cemec, o curso Mercado Cultural. Clique aqui para saber mais.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

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