Esperei baixar a poeira para escrever estas linhas sobre a polêmica com a aprovação da Lei Rouanet para Caetano e todos os questionamentos a favor e contra o projeto. Demonstrarei nas próximas linhas que o ministro estava absolutamente correto, certo, exato em aprovar o projeto. Desta análise tenho certeza que o Ministro Juca estava olhando a Lei Rouanet de maneira a reforçar os pontos positivos para aprimorar a Lei: vale cultura e a setorização dos Fundos com o seu conseqüente fortalecimento, mas mantendo os bons resultados que o atual modelo da Lei permite.
Não tenho procuração nem de Caetano apesar de já ter produzido inúmeros dos seus shows gratuitos, nem da Paula Lavigne, sua empresária, mas ela precisa da Lei para que a tournê não dê uma bruta prejuízo e eles resolvam não levar o show para todo o Brasil.
Vamos fazer duas planilhas para shows do Caetano em São Paulo e em Criciúma onde ele estará se apresentando no Siso’s Hall – 3.000 lugares.
Caetano se apresentou aqui no Credicard Hall, nossa maior casa de espetáculos com 3.600 lugares.
Apresentou-se dois dias, portanto foi assistido por 7.200 pessoas. A casa tem suítes já vendidas, lugares para patrocinadores e muitas vezes não se consegue vender todos os ingressos. Vamos supor que sejam vendidos 80% dos ingressos (sucesso!!) assim sendo:
– 7200 ingressos x 80% = 5760 ingressos vendidos.
Os preços de inteira variavam de R$90,00 a R$170,00 – preço médio, portanto de R$130,00, (o valor é mais baixo pois nesta casa há muito mais lugares a R$90,00 do que a R$ 170,00)
Vamos supor 50% foram vendidos com carteira de estudante – meias (este numero em São Paulo e Rio é ainda maior) e 50% inteiras. Teremos então:
2.880 lugares a R$ 65,00 dando uma receita de R$ 187.200,00 e
2.880 lugares a R$ 130,00 dando uma receita de R$ 374.400,00.
Receita Total : R$ 187.200,00 + R$ 374.400,00 = R$ 561.600,00
O Credicard Hall cobra 40% de aluguel e em alguns casos 50%. Vamos supor que para o Caetano cobrou com desconto: 35%.
Então teremos as despesas para tournê de Caetano:
– Aluguel da casa: 561.600,00 x 35% = R$ 196.560,00
– Ecad: 10% da bilheteria = R$ 56.160,00
– ISS: 5% de bilheteria = R$ 28.080,00
– Custo da empresa que vende ingressos 4% = R$ 22.464,00
– Custo do cartão 5%: (só para 50% que compraram c/cartão) = R$ 14.040,00
– Passagens para 20 pessoas do RJ = R$ 16.000,00
– Passagens para 2 pessoas de Salvador = R$ 2.400,00
– Hospedagem em quartos duplos: 12 pessoas x R$ 250,00 x 3 dias (Caetano em sgl) = R$ 9.000,00
– Diária de Alimentação músicos e técnicos: 22 pessoas x R$100,00 x 4 dias = R$ 8.800,00
– Cachês dos músicos/banda: 8 x R$1500,00 x 2 dias = R$ 24.000,00
– Cachês dos Técnicos: 14 x R$1500,00 x 2 dias = R$ 42.000,00
– Transporte Terrestre : 3 Vans x R$ 450,00 x 2 dias = R$ 2.700,00
– Transporte Equipamentos/Banda: (aquele que roubaram junto com o seu violão de estimação) = R$ 2.500,00
– Som do Credicard Hall: 2 dias x 3.000,00 = R$ 6.000,00
– Iluminação do Credicard Hall:2 dias x 3.000,00 = R$ 6.000,00
– Mídia Jornal c/desconto = R$ 30.000,00 (se não fizer mídia lembrem-se não venderemos os 80% desta planilha)
– Mídia Rádio = R$ 8.000,00
– Pró-rata de criação de cenários: R$2.000,00 x 2 = R$ 4.000,00
– Pró-rata de Figurinos: R$2.000,00 x 2 = R$ 4.000,00
– Diretor do show: R$2.000,00 x 2 = R$ 4.000,00
– Assistente de Imprensa por praça = R$ 5.000,00
O show de Caetano custou nestes 2 dias no mínimo R$ 491.704,00 (acreditem que estes custos são conservadores).
A produtora do Caetano ganhou, portanto, na praça onde ele pode cobrar mais caro – São Paulo,numa das maiores casas do Brasil a quantia de R$ 561.600,00 – R$ 491.704,00 receita bruta de R$ 69.896,00.
Receberá isto com uma nota fiscal e pagará impostos pelo sistema de lucro presumido de 16.5%. Receita liquida: R$ 69.896,00 – R$ 11.532,84 = R$58.363,16.
Custo do escritório para cuidar da turnê do Caetano, administração, telefonemas, celulares, produtor executivo, negociação com a mídia, contratação de funcionários, ensaios ( pagamento do estúdio), locação de equipamentos, catering, etc,etc. etc. Vamos supor 10% da receita ou R$ 56.160,00. Ops! O escritório ficou então com R$ 58.363,16 – R$ 56.160,00 = R$ 2.203,16.
Paula se senta no final de uma semana na maior casa de show do Brasil e na sua praça mais rica e faz um cheque de R$ 2.203,16 para o Caetano.
Caetano que adora cinema convida-a para assistir a Mulher Invisível e foram felizes para sempre.
Alguém duvida que em praças outras deste imenso Brasil com casas e preços de ingressos menores Paula se sente no final da semana em Criciúma e peça a Caetano um cheque. Caetano diz que não tem pois agora vive só de shows, as vendas de CDs caíram muito. Paula convida Caetano para ir ao cinema ver Jean Charles e fecha o escritório para sempre.
Será justo que um dos nossos maiores compositores, cantores e interpretes, orgulho de todos os brasileiros, exilado pela ditadura, tenha sofrido pela pátria e que nos ajuda em todas as nossas horas pela sua música, pela sua estética, tenha que pagar para nos mostrar o seu trabalho?
Não tenho procuração para defender a legitimidade do pedido do escritório da Paula, não tive acesso aos borderôs, mas tenham certeza que os números são muito próximos destes.
Não analisei o processo mas sei que todos são iguais perante a lei e que o pleito de Caetano era justo. Não vou entrar no mérito da CNIC que analisou subjetivamente o pedido e o negou (sic) mas a analise financeira é esta. Lembremo-nos disto quando apreciarmos o novo texto da Lei a ser enviada para o Congresso.
Sergio Ajzenberg é diretor-presidente da Divina Comédia
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