Quase dois anos depois da regulamentação da lei que estabeleceu novas regras para os serviços de TV por assinatura no Brasil, muito se fala sobre os benefícios no que diz respeito ao aumento do espaço e do número de projetos desenvolvidos por roteiristas e produtores. Mas em termos de qualidade de conteúdo, a lei também trouxe bons resultados?
“Por enquanto o cenário para os produtores ainda está se formando. Para os que já trabalhavam com TV houve um crescimento de número de projetos. Entretanto a falta de conhecimento sobre formatos tem dificultado a inclusão de novos produtores no mercado”, afirma Hermes Leal, diretor de conteúdo do canal CinebrasilTV e criador e editor da Revista de Cinema. “Talvez as linhas de financiamento para desenvolvimento de projetos de TV venham a corrigir esse problema. No entanto, o resultado desses editais surgirão daqui três ou quatro anos.”
Leal estará no Cemec dia 20 de maio, para a primeira aula da Jornada TV a Cabo, assinada por Cultura e Mercado, justamente para falar sobre esse mercado. Já Goyo Garcia, diretor de aquisições e novos conteúdos da Rede TV! – que apresenta no curso o módulo sobre estratégias de conteúdo -, acredita que gradualmente, pela própria concorrência, os produtores independentes entenderam a necessidade de adequação de seus projetos às necessidades dos canais.
“Além disso, com o mercado de forma geral ganhando experiência, a tendência é haver um aumento de qualidade. O fato das TVs por assinatura terem que exibir conteúdo brasileiro em suas grades não quer dizer que elas vão buscar qualquer conteúdo, e sim conteúdo que vá agradar seu público”, afirma.
Tanto Garcia quanto Leal apontam os telefilmes como um formato ainda pouco explorado. “Ainda não estamos com uma boa linha de telefilmes, que é um formato bem característico da TV. Assim como ainda não estamos explorando o gênero ‘Mundo Natural’, que tem sido explorado com bastante frequência pelas produtoras internacionais”, indica Leal, lembrando que no caso da ficção estamos começando a caminhar para um mercado sólido, especialmente as comédias.
Para Garcia, talvez a demanda de atores e atrizes para telenovelas, séries e mesmo cinema possa ser uma das causas para que haja poucos exemplos de telefilmes nas TVs em geral. “Mas acredito ser um bom filão para produção de produtos com bom potencial comercial e de audiência.”
O que os canais esperam – Quesitos técnicos como duração dos episódios, cronograma de produção, orçamento, gênero do programa e profissionais envolvidos são informações que os responsáveis pelas emissoras esperam ter de quem chega com um projeto. “Mas ao mesmo tempo deve haver flexibilidade por parte dos produtores para que os projetos possam ser facilmente adaptáveis às necessidades de programação dos canais, como adequação temática a alguma faixa horária, ou mesmo a inclusão de determinados talentos, passando ainda por ajustes orçamentários condizentes com a realidade do canal”, explica Garcia.
Segundo ele, os principais critérios de avaliação para que um projeto entre na programação são: adequação do programa à estratégia do canal; qualidade técnica e estética do material; capacidade de entrega da produtora dentro dos prazos estabelecidos; e entender se o programa pode alcançar os objetivos de audiência ou comerciais do canal para a faixa a que se destina.
Leal simplifica: “São dois critérios básicos: a qualidade do projeto e a sua adequação ao perfil do canal”.
Ele diz que o canal espera um piloto que mostre com clareza o que trata o programa ou um projeto bem desenvolvido, roteirizado, de forma que seja possível perceber o potencial do produto. “Uma ideia ou uma apresentação de como será explorada essa ideia não é o suficiente. É preciso mostrar a abordagem real de como o público verá esse programa”, finaliza.