O maestro Roberto Minczuk, o gerente artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira, Leandro Carvalho, e três músicos da orquestra estiveram em Londres nesta semana, para selecionar os instrumentistas que irão substituir os 33 músicos demitidos após disputa com Minczuk.

O maestro quer profissionalizar a orquestra, ampliar o número de horas trabalhadas e cobrar resultados. Para isso, exigiu que todos os 82 contratados da orquestra passassem por uma avaliação: 35 concordaram e os demais pediram a cabeça do maestro, acusando-o de autoritarismo.

Em Londres, 67 músicos foram ouvidos, de 99 convocados. O boicote pedido pela Federação Internacional dos Músicos, em protesto contra as demissões, pode explicar a falta dos outros 32. “O boicote teve efeito, é claro. Mas estou contente com o resultado. Ouvimos pessoas muito talentosas que têm condições de estar na orquestra”, disse Minczuk.

A fase londrina do giro internacional em busca de talentos acabou na quarta-feira (18/5). De hoje a segunda-feira, acontecem audições em Nova York. Na semana que vem, serão no Rio de Janeiro. Os salários vão de R$ 9 mil a R$ 11 mil.

O maestro diz que o nível médio dos candidatos ouvidos no exterior é melhor que o encontrado no Brasil. “Muitos são brasileiros, mas estudaram aqui. E a formação na Europa é muito melhor. Às vezes, aparece no Brasil um supertalento, mas que precisa ser polido.”

Para sorte do Brasil, a crise econômica mundial ajuda a OSB a ficar mais atraente. “As orquestras na Europa estão sofrendo com os cortes de gastos governamentais. Estão cancelando viagens e concertos. É hora de ir para o Brasil”, afirmou Javier Forner, 34, trompista da Sinfônica de Bilbao.

Questionados pela Folha de S. Paulo sobre a crise na OSB, os candidatos fogem de declarações fortes, que podem prejudicá-los. “Li alguma coisa, não entendi direito os argumentos dos dois lados”, disse a clarinetista Cristina Martins, 26, de Madri.

Em entrevista ao jornal, Roberto Minczuk diz que ainda não dá para comparar a Orquestra Sinfônica Brasileira com as europeias. O modelo são as asiáticas, que também passaram por avaliações dos músicos para melhorar.

Folha – Quantos músicos serão contratados agora?
Roberto Minczuk – Não tem urgência. Há posições que estão abertas há três anos. Algumas orquestras passam anos sem ter uma primeira flauta, por exemplo.

Por que os músicos se revoltaram?
É novidade para o músico brasileiro esse regime de trabalho que vamos adotar, com maiores salários, mas também com mais trabalho. Eu regi a Filarmônica de Liverpool e foram sete ensaios, três concertos e uma viagem em uma semana. Nossa orquestra nunca trabalharia com essa carga.

Por que quiseram fazer avaliações individuais? Não é possível ver a qualidade em ensaios e concertos?
Alguns instrumentos ficam muito expostos, como a primeira flauta, então você consegue ouvir o desempenho do músico. No caso de violinos, às vezes, 16 tocam juntos. Só se eu parasse o ensaio e pedisse que um músico tocasse sozinho para avaliá-lo. Não há esse tipo de avaliação na Europa. Não estamos em condições de nos compararmos com a Filarmônica de Berlim. Estamos mais para Seul, na Coreia do Sul, ou Kuala Lumpur, na Malásia. A Orquestra de Seul foi toda reformulada com avaliações.

*Com informações da Folha de S. Paulo


editor

3Comentários

  • Torres, 24 de maio de 2011 @ 10:49 Reply

    Este condutor vaidoso tera uma resposta da Sociedade ,a altura de toda soberba no qual vem humilhando os musicos Brasileiros.

  • Jesuina Passaroto, 30 de maio de 2011 @ 23:22 Reply

    Agora a proposta é modificar nossas leis trabalhistas.
    Nenhuma orquestra brasileira pode trabalhar com esta carga horária porque fere toda a legislação trabalhista e a lei federal que regulamenta a profissão de músico, isto é trabalho escravo e pior ainda, o músico estrangeiro não fica respaldado pelas nossas leis.
    Alterar a carga horária do músico é contra lei federal que regulamenta a profissão.
    A demissão em massa de músicos brasileiros e a sua respectiva substituição por músicos estrangeiros, despesperados por trabalho e se sujeitando a qualquer condição, alem de ser totalmente antiético nos mostra claramente a falta de comprometimento destes novos músicos para com a nossa cultura. Trabalho mercenário.

    Antes ele falava que não conseguia avaliar o músico durante os ensaios e os concrtos, agora afirma que não consegue avaliar os mpusicos dos violinos, porque então submeter toda a orquestra a este exame fajuto de avaliação.
    Em cinco anos de trabalho, caso fosse assíduo, o maestro não conseguiu avaliar seus músicos, mas o faz em 4 minutos de prova.
    Tudo conversa fiada.
    Encontrou nestas justificativas um álibi para as demissões.

    Se ele quer trabalhar com esta novidade que burla as leis do nosso país e se ele é tão competente, porque não vai trabalhar no exterior?

    Será que é porque no exterior não terão patrocínios milionários para copa do mundo e olimpíadas?

    A sociedade deveria se envergonhar e não permitir desta nova proposta de trabalho.

  • Paulo Sergio Santos, 31 de maio de 2011 @ 12:37 Reply

    Eu nao faria prova coisissima nenhuma se ja tivesse atuando na orquestra ou se fosse convidado a tocar nela por quem quer que seja. Eles poderiam me mandar embora na hora que quizessem mas que pagasse os meus direitos trabalhistas. Uma vez fui sondado pra tocar na OSB e disse que seria um prazer mas que o meu salario teria que ser 15.000 reais liquidos. Agora ele foi atualizado: para trabalhar nesse “sistema” proposto pela direcao da Fosb e sabendo das ultimas informacoes, o meu salario aumentou para R$ 250.000,00 reais e mais 5% do lucro liquido da fundacao. To me lixando pro que acontece no Japao, China, Estados Unidos, Europa e encaro qualquer um japones, chines ou coreano especialmente fazendo a musica que corre nas minhs veias. Quem ee musico e artista se preocupa com o que acontece na sua cabeca e alma. Cronometros, metronomos, sondas lambda, analisadores de espectro, decibelimetros, etc sao muito uteis quando sao utilizados em determinadas situacoes em uma aboprdagem tecnica. Tecnica ee um instrumento e nao um fim. O medo do subdesenvolvimento atinge aaqueles se se veem inseridos nele. Ee muito facil reger orquestras no exterior quando se tem um padrinho como Curt Mazur. O descaso com os musicos
    brasileiros e o desdem pela cultura brasileira seriam muito mais apropriados a um marciano do que um brasileiro que andava de onibus e pegava carona e tinha um instrumento todo cheio de esparadrapos. Quem apoia essa ideia soo pode ser maluco ou desinformado. Pegar uma orquestra de 70 anos e agir como estao agindo ee uma irresponsabilidade inacreditavel!

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