Passados sete meses e cinco dias, mais de dez assembleias no sindicato dos músicos, duas propostas, duas contrapropostas, mesas-redondas no Ministério do Trabalho e páginas e páginas de jornal noticiando o caso, ainda não se chegou a um acordo.
Mesmo assim, com 12 vagas em aberto, 59 músicos no palco – contra os 85 de sua formação original – e sem a presença de convidados ilustres que estavam previstos, como Nelson Freire e Joshua Bell, a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) começa, enfim, sua temporada 2011. Amanhã (10/8), dando início ao Festival Beethoven, a orquestra sobe ao palco do Teatro Municipal sob a batuta do americano Lorin Maazel.
O maestro foi diretor musical da Filarmônica de Nova York entre 2002 e 2009, acaba de completar sua quinta e última temporada no mesmo cargo na casa de ópera de Valência e assumirá posto semelhante no ano que vem na Filarmônica de Munique. Maazel estará à frente da OSB em sete concertos: amanhã e quinta, no Municipal; domingo, na Sala São Paulo; e nos dias 16, 18, 20 e 21, novamente no Municipal. A série seria originalmente regida pelo maestro Kurt Masur, mas ele cancelou sua vinda, alegando problemas de saúde. Alertado sobre a crise que o conjunto atravessa desde o começo do ano, Maazel prefere enfatizar o desafio de reconstituir o equilíbrio da orquestra a partir de um mergulho “numa obra que é o ponto mais alto do repertório clássico”.
“Até onde eu soube, a orquestra estava enfrentando problemas, mas me disseram que as partes estavam se encontrando para achar uma solução. Aceitei o compromisso de lidar com uma situação muito difícil, mas construtiva. Ensaiei com eles por três dias, e a atmosfera era extremamente positiva e profissional. Em pouco tempo notei que estão motivados. É uma honra estar aqui”, diz Maazel.
Os insurgentes agora estudam a resposta da OSB à contraproposta feita por eles, que trata da reintegração de 33 demitidos (outros três que haviam sido desligados já retornaram à orquestra) em um novo corpo orquestral. “Os dois lados evoluíram, e estamos empenhados nesta reconciliação. Tivemos um período longo de negociações, e acredito que agora é a reta final de soluções para encerrar esse momento, que é difícil para todo mundo. Acho que todos querem voltar ao trabalho”, diz Eleazar de Carvalho, presidente da Fundação OSB (FOSB).
A proposta de reintegração diz respeito ao retorno dos músicos em um novo corpo orquestral, sem a regência de Roberto Minczuk e sem as polêmicas avaliações de desempenho. Os instrumentistas permaneceriam com regimento e salários antigos, sem contrato de exclusividade com a OSB. A contrapartida dos demitidos faz algumas exigências, como a garantia do emprego até 2016 e a escolha de um terceiro nome para a direção artística do conjunto, hoje a cargo de Fernando Bicudo e Pablo Castellar. Além disso, os rebelados pedem a nomeação de um membro para o conselho fiscal da orquestra.
A criação de um segundo conjunto é algo inédito nos 70 anos da OSB. Não se sabe a qual batuta os reintegrados ficarão submetidos, mas a existência de outra orquestra vai demandar, segundo Eleazar, mais dinheiro. “Se a situação se concretizar, vamos atrás de patrocínios. A existência de mais de um conjunto é comum, mas é claro que tudo vai depender de quantos músicos irão voltar. De repente não será necessário um regente fixo”, pondera o presidente da Fundação OSB.
A solução de formar o que os demitidos têm chamado de “orquestra lado B” lembra, em alguns aspectos, o modelo adotado por John Neschling na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), em 1997, quando também realizou testes. Os reprovados formaram um novo conjunto, extinto alguns anos depois.
*Fonte: O Globo Online