Participantes da Rede Internacional demonstram preocupação em criar estratégias locais, nacionais e globais para a proteção da diversidade frente à expansão da indústria cultural no mundoPor Fábio Cesnik, enviado especial à Cidade do Cabo

Estamos passando por um panorama mundial de dificuldades para a cultura e diversidades regionais. A cultura se tornou a grande indústria do século XXI. Com a globalização os grandes países entram com suas indústrias culturais nos países em desenvolvimento e já ocasionam hoje de 40 a 60 anos de atraso de desenvolvimento cultural para esses países.

Para se ter uma base de dados da indústria cultural e sua importância nas exportações mundiais, de acordo com contribuição trazida por Rafael Segovia, do México, em 1980, 2,8% das exportações mundiais se referiam à cultura. Em 1990 esse número chegou a 3,8%. No ano de 2000 já ultrapassa os 5%. Quando esses números são avaliados do ponto de vista de indústria mundial, temos que esse crescimento é simplesmente espetacular.

Nos Estados Unidos a indústria cultural era a maior do país até 1996. A partir de então ela passou a ser a segunda, em virtude do investimento nas indústrias de guerra. Com o mundo todo consumindo a indústria do entretenimento, o Estados Unidos exerce verdadeira penetração nas culturas dos países em desenvolvimento. O Sr. Bruce Paddington, representante da Universidade das Antilhas (Trinidad Tobago) disse que é possível uma televisão do seu país comprar o filme do ?Tom Cruise? a trezentos dólares e questiona ?por que a indústria local iria investir no artista nacional, tendo artistas famosas por tão baixo preço??. Em Trinidad não se tem política de cotas ou qualquer outro tipo de restrição ou proteção da cultura nacional.

Os países em desenvolvimento precisam possuir políticas para distinguir cultura de comércio. Para tanto a Declaração da Cidade do Cabo tem sua importância, pois pode ser um acordo internacional que auxilie e respalde os governos para preservação das identidades culturais locais. Um acordo desse tipo pode criar, inclusive, cooperação entre países para uma troca sadia e preservadora da identidade cultural.

Para Danny Yung, representante de Hong Kong, ressalta a importância das associações e fundações não governamentais. Na Ásia foi criada uma rede dos diretores artísticos das cidades asiáticas, que congrega onze países, que está negociando com os governos uma agenda para ampliar os espaços para a cultura. Ressalta ainda a força que pode ter o quarto setor, composto basicamente pelos trabalhadores independentes, para o cumprimento dos objetivos da Rede. Em Hong Kong ele destaca dois projetos ?Imagem da Ásia? e ?Indústrias Criativas?, importantes para esse trabalho.

Para Avril Jofre, representante na África do Sul da Organização Internacional do Trabalho, é fundamental o investimento na pequena e média empresa cultural, para que os criadores possam viver de sua própria arte e talento. Isso é fundamental, segundo ela, na preservação da diversidade.

Uma das conclusões a que chega o Congresso é que a cultura pode ser uma saída mundial para a redução da pobreza. Para tanto precisamos aumentar o ?status? do setor nos governos, no geral visto como tema de segunda importância.

No sábado o Ministro das Artes, da Cultura e da Ciência e Tecnologia da África do Sul, Dr. Bem Ngubane anunciou a criação de ?Observatório de Cultura? em seu país, para ampliar as discussões iniciadas pela Rede Internacional para a Diversidade Cultural.

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