Há quatros fundei o Conexão Cultural, uma organização que promove acesso e conteúdo na área cultural, por meio da integração entre as mais diversas formas de arte. O intuito é integrar cultura no cotidiano das pessoas, aproximá-las da cultura brasileira, dos espaços culturais e espaços públicos, oferecendo novas dinâmicas de sociabilização, valorizando a troca de experiências, estimulando a curiosidade e a criatividade.

Quando fundei a empresa, o propósito maior sempre foi esse questionamento: Como integrar espaços culturais e públicos no dia a dia das pessoas? Tirar, pelo menos um pouco, estas dos bares, restaurantes e shoppings? Como nos conectar mais com as nossas cidades? Andar pela cidade, fazer picnic em uma praça, encontros e bate papos em parques, utilizar o museu como um espaço de entretenimento, troca, congregação…

A resposta sempre veio por meio da cultura. Acredito muito no papel da cultura para “ativar” esses espaços, muitas vezes abandonados, sem vida, que não atraem pessoas. Agora com um mobiliário urbano bacana, um showzinho, comidinhas com preços acessíveis, artistas pintando ao vivo, rodas de conversas, leituras, poesias, aí sim conseguimos ver o USO do espaço, aí conseguimos conectá-los com a cidade e com as pessoas. E não precisa ser somente com grandes e médios eventos. O cidadão mesmo pode transformar esses espaços dando novos usos a eles, como por exemplo, uma festa de aniversário em uma praça pode ser mais inspiradora, lúdica e trazer uma sensação de bem-estar do que um buffet infantil todo fechado com brinquedos de plástico. Uma roda de conversa ao ar livre, compartilhar histórias, comidas, também podem trazer essa sensação de bem-estar com a cidade e, consequentemente, de pertencimento.

O cenário agora, de uns três anos para cá está mudando. A quantidade de coletivos que estão olhando para as cidades e os espaços públicos, promovendo algumas micro-transformações, está realmente crescendo. O que é excelente, pois cidades realmente conectadas, na minha opinião, só conseguem surgir de pessoas que estão de alguma forma se conectando com elas mesmas, buscando esse sentimento de bem-estar. Acredito que as cidades onde moramos têm um papel muito importante nessa busca.

Minha resalva, que comentei em entrevista para este Cultura e Mercado, é que precisamos tomar cuidado para essas ações não virarem ocupações pontuais, de pequenos grupos, que convidam amigos, amigos de amigos, ocupam praças, ruas, pintam muros, fachadas, faixas de pedestres, porém numa ação que envolve pouco a comunidade. Assim, a ocupação não se torna perene, e sim pontual, de curto prazo e com um engajamento muito pequeno do entorno.

Passei quase um mês trabalhando na ONG Project For Public Spaces, com o apoio do Ministério da Cultura. A PPS é um hub global que fomenta a criação de espaços vitais para a sociedade, através da conexão de ideias, pessoas e instituições. Já realizaram mais de 3.000 projetos em comunidades em mais de 43 países e de todos os 50 estados dos Estados Unidos. É a primeira instituição que desenvolveu um centro para as melhores práticas, informações e recursos sobre placemaking. Mais de 600 pessoas em todo o mundo são membros de seu Conselho de Liderança placemaking.

O placemaking trata de observar o uso dos espaços públicos, assim como perguntar e ouvir as pessoas que vivem, trabalham ou visitam um local para descobrir suas necessidades e desejos para aquele espaço. Essas informações são usadas para criar uma visão comum de lugar, que possibilita a implementação de mudanças rápidas, levando benefícios imediatos para o espaço público e para as pessoas que o frequentam.

A palavra placemaking pode ser traduzida para o português como “fazer lugares”. Os “lugares” mencionados aqui são espaços públicos que estimulam interações entre as pessoas em si e entre as pessoas e a cidade, promovendo comunidades mais saudáveis e felizes.

Após a imersão com a PPS, publicamos alguns artigos como: Onze princípios para criar bons espaços públicos, Melhores casos de cidades que se transformaram via placemaking, Estratégias simples, rápidas e baratas para transformar espaços, entre outros. Além dos artigos, publicamos o guia do espaço público, uma ferramenta que criamos (eu e a Jeniffer Heemann da ONG Bela Rua) para contribuir com ideias práticas para ajudar cidadãos a construir melhores espaços públicos nas cidades brasileiras.

Acredito que para continuar evoluindo no movimento do placemaking no Brasil, e conseguirmos realmente criar cidades e cidadãos mais conectados, há um desafio de encontrar um modelo de trabalho realmente coletivo, colaborativo. Estão surgindo pequenas e micro empresas, coletivos, associações, que estão trabalhando o tema cidades, em pequenos grupos de duas, três pessoas, com sonhos em comuns, porém, não conseguindo realmente desenvolver um trabalho mais amplo. Conectar todos esses movimentos, para ganhar força junto ao poder público, por exemplo, ou para juntar as comunidades, pode ser uma solução.

Apesar de ver um desafio em juntar verdadeiramente as pessoas que estão trabalhando em prol das cidades, ainda fico muito feliz e surpreendida com a quantidade de pessoas que estão desenvolvendo projetos para uma cidade mais humana e mais conectada com as pessoas.

*Paola Caiuby participará do Seminário de Inovações Urbanas, que acontece dias 21 e 22 de julho, na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Confira a programação completa no sitewww.inovacoesurbanas.com.br.


contributor

Fundadora do Conexão Cultural (www.conexaocultural.org)

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