Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o ex-presidente de gravadoras André Midani, o homem que lançou os principais nomes da bossa nova, da Tropicália e do rock brasileiro dos anos 80, fala de seus novos e ambiciosos projetos, defende a criminalização do jabá, critica o ministro da Cultura e reclama das ações judiciais que têm proibido a circulação de biografias como a sua, tirada das prateleiras logo após o seu lançamento.

Prestes a completar 78 anos, na próxima semana, André Midani, um dos principais executivos da indústria fonográfica entre os anos 1960 e 1990, não consegue manter-se distante do meio. Depois de lançar sua autobiografia há dois anos, foi num dia tranquilo e típico na vida de um aposentado que lhe ocorreu a dúvida: onde estariam as preciosas gravações feitas pelo amigo Jorge Karam, já morto, a partir dos anos 50? Após investigar o paradeiro da relíquia, descobriu um acervo de mais de 600 horas, contendo registros de nomes como Dolores Duran, Johnny Alf, Maria Bethânia e João Gilberto ou do famoso concerto inaugural da bossa nova, na Faculdade de Arquitetura da UFRJ, em 1960.

Às voltas com a preparação do material, que será reunido em 30 CDs, possivelmente pela Sony BMG, Midani planeja o lançamento de uma premiação musical na França, onde foi criado, que levaria o nome do cantor, violonista e compositor Henri Salvador, morto há dois anos. Para completar uma aposentadoria nada bucólica, ele também está à frente da organização de uma noite em homenagem a Tom Jobim, que marcará o retorno da música brasileira ao Festival de Montreux, em 2012. Entre as atrações cogitadas pelo homem que lançou os principais nomes da bossa nova, da Tropicália e do rock brasileiro dos anos 80, estão Diana Krall e Chico Buarque.

Na entrevista, Midani fala do seu livro, “Música, Ídolos e Poder – Do Vinil ao Download” (Nova Fronteira), retirado das prateleiras por um processo movido pela família de Enrique Lebendiger, ex-dono da RGE. Diz que “as gravadoras estão quebradas. Conseguiram tornar seu público-alvo, a juventude, seu maior inimigo”.

Midani, que atuou como comissário-geral do Ano do Brasil na França, a convite do então ministro da Cultura, Gilberto Gil, avalia o compositor como o maior ministro da Cultura que este país já teve, sobretudo como embaixador do Brasil no exterior. Mas não poupa o seu sucessor. “O tal do Juca [Ferreira], pode ter seguido os seus preceitos. Mas não sei qual é a cor da sua alma. Se por um lado aparenta ser bom executivo, por outro é autoritário, um animal político de ambição desmedida dirigida não sei a que”, alfineta.

Clique aqui para ler a entrevista na íntegra.


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Jornalista e colaborador de Cultura e Mercado.

1Comentário

  • Carlos Nepomuceno, 24 de setembro de 2010 @ 7:26 Reply

    Alberto, o que gostei nesse entrevista é o dna da crise das gravadoras, quando ele respondeu:

    Valor: O senhor apostou na carreira de artistas de várias tendências, da bossa nova à Tropicália, passando pelo rock dos anos 80. Hoje, poucas novidades surgem no showbiz. Por quê?

    Midani: As gravadoras estão quebradas. Conseguiram tornar seu público-alvo, a juventude, seu maior inimigo. As novidades tecnológicas, e não mais a música, são as responsáveis por impactar o comportamento das pessoas. Com a crise e a necessidade do lucro instantâneo, passaram a vender o hit, em vez do artista. Houve momentos em que não sabia quais músicas do Chico Buarque ou do Caetano estávamos lançando. Interessava-me muito mais o próprio Caetano, o Chico, o Raul. Trabalhei mais a "Sociedade Alternativa" como um conceito mercadológico do que a música em si. O artista como espelho dos desejos, ambições e tristezas do público paira muito acima de seu trabalho musical.

    Muito bom!

    Abraços,

    Nepomuceno

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