“Em breve, não será mais aceita a possibilidade de uma empresa manter todos os parâmetros de qualidade, mas deixar que seus esforços institucionais e culturais sigam critérios abstratos e descomprometidos com a modificação dos cenários com os quais interage”

Para responder a esta pergunta, talvez seja melhor, inicialmente, invertê-la: Por que a cultura deve receber investimentos?

Embora os meios de comunicação, cada vez mais, tratem cultura como sinônimo de entretenimento, e se perceba nas ações culturais e artísticas principalmente seu valor como fonte de distração e lazer, é preciso entender a cultura em seu sentido amplo, em seu real papel. A cultura é o elemento que garante a todos – criadores, artistas e platéias – o direito à celebração de sua identidade, à manifestação de sua sensibilidade e emoção, desenvolvendo, a um só tempo, o espírito crítico, a imaginação e o sentido de coletividade, num processo de conscientização, sociabilização e transformação social. Até porque, toda transformação social tem mesmo seu começo no interior de cada indivíduo. Num mundo cada vez mais fragmentado, violento e sem rumos definidos, nada poderia fazer mais sentido.

Assistir a uma peça de teatro, entrar no universo de um filme, participar de um show musical, ler um livro: experiências culturais são viagens no tempo e no espaço, são mergulhos no fundo da alma, que recuperam memórias e sensações, evocam as próprias vivências e abrem espaços para novos aprendizados. Viver as potencialidades da cultura equivale a participar de uma época, de uma história, de um povo, de um país, de um momento específico do mundo. É celebrar, individual ou coletivamente, a experiência humana sobre a terra.

Vista por esse prisma, a cultura passa a merecer recursos da empresa mais do que pelos falados atributos da arte e dos eventos artísticos em prol das corporações, tais como permitir a utilização de incentivos fiscais, viabilizar a execução de estratégias alternativas e qualificadoras da comunicação empresarial ou mesmo ser um instrumento para a demonstração de sua Responsabilidade Social. Elementos preciosos e valorizados, especialmente num momento em que a competitividade entre as empresas aumenta; os diferenciais dos produtos concorrentes e a comunicação utilizada por eles se igualam; as estratégias empresariais exigem mais resultados com menos recursos; e os acionistas não só cobram maior retorno por seu capital investido, mas também o fazem exigindo como condição para seu investimento empresas mais bem administradas e bem vistas nas comunidades em que atuam.

Analisando o real papel e potencialidade da cultura, o que justifica o investimento empresarial é seu aspecto social, sua capacidade de transformar o mundo à sua volta. E é exatamente isso que deve perceber a empresa que investe ou que tem interesse em investir em cultura.

Já vai longe o tempo em que o retorno buscado ao se patrocinar eventos restringia-se à veiculação da marca da empresa em cartazes, anúncios e demais materiais gráficos voltados para divulgá-los e a criar uma empatia junto aos chamados “formadores de opinião”. Vai longe também o tempo em que acertar numa ação de Marketing Cultural era investir recursos, antes do concorrente, na nova peça teatral do ator da telenovela de maior audiência do momento. Do mesmo modo, está com os dias contados a lógica que avalia o sucesso das ações culturais empresariais apenas pelo número de pessoas que ocupam as platéias dos eventos.

Em breve, não será mais aceita a possibilidade de uma empresa manter todos os parâmetros de qualidade, eficácia e foco em resultados quando o assunto é a produção e comercialização de seus produtos, e deixar que seus esforços institucionais e culturais sigam critérios abstratos e totalmente descomprometidos com a modificação dos cenários com os quais interage.

Pelo contrário, vem aí um momento em que as ações culturais empresariais – tendo como foco a real transformação dos públicos aos quais se dirigem – serão mais do que um reflexo da competência exigida e praticada em todos os setores da empresa. Serão, isto sim, um referencial sobre a visão e os compromissos da instituição, junto a seus diversos públicos, demonstrando a todos a postura que norteia aquele grupo de seres humanos – repletos de emoções, sentimentos, memórias e identidades – que conhecemos por Empresa.

(Extraído do livro “Do Marketing ao Desenvolvimento Cultural”. O download gratuito da obra pode ser feito pelo endereço  s://www4.overmundo.com.br/banco/livro-do-marketing-ao-desenvolvimento-cultural-167-paginas)

Marcos Barreto Corrêa


Marcos Barreto Corrêa tem atuado nos diversos campos do mercado cultural ao longo dos últimos quinze anos, oito dos quais como Gerente de Marketing Cultural da Telemig Celular. É autor do livro "Do Marketing ao Desenvolvimento Cultural”, no qual analisa o relacionamento entre empresa e cultura. Nos últimos anos, tem apresentado sua experiência profissional e suas reflexões em palestras, cursos e encontros, em cidades de todo o Brasil. Contato: desenvolvimentocultural@hotmail.com

7Comentários

  • lucas, 11 de agosto de 2006 @ 1:14 Reply

    bravo!

  • Rosãngela Teixeira de Oliveira, 11 de agosto de 2006 @ 18:00 Reply

    Genial!

  • keyla Monadjemi, 11 de agosto de 2006 @ 19:01 Reply

    Parabéns pelo trabalho! Vai ser ótimo acompanhar pela cultura e mercado os seus textos. sucesso.

  • Cleber Camargo Rodrigues, 14 de agosto de 2006 @ 17:47 Reply

    As pessoas são as empresas ou vice-versa? O que seria do marketing da Telemig Celular sem a prática pregada por Marcos Barreto e sua equipe? Em termos de marketing cultural, existem dois tempos em Minas Gerais: antes e durante o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Telemig/Marcos Barreto e equipe – com todas as ousadias, sucessos, erros e acertos de quem acredita no que faz. Novos horizontes existem, para os olhos de todos, à luz dos dias, todos os dias. Acho até que é por isto que “a porca torce o rabo”, “a onça bebe água”, “a giripoca pia…” Renascendo a cada dia, a cultura faz isto com a gente: muda/move/vira e larga de ser/estar entre aspas. Quando a gente não fica no meio do caminho, paira uma pergunta por fazer: O que vem? O que virá?

  • Eliane Parreiras, 15 de agosto de 2006 @ 17:09 Reply

    Maravilhoso esse espaço para a visão da iniciativa privada que investe em cultura de maneira responsável. Parabéns.

  • Claudia Tadei, 25 de agosto de 2006 @ 11:59 Reply

    Não conheço o Marcos Corrêa, mas já virei admiradora. A participação da empresa privada nas políticas públicas me parece imprescindivel. A grande leva de institutos e fundações de origem empresarial que surgiu no Brasil na última década é sim indicio de que as empresas estão, se não mais sensíveis a questão social, no mínimo mais preocupadas com suas consequências – e por diversos motivos. O curioso é que este mecanismo incrivel chamado Terceiro Setor parece estar sendo cada vez mais usado para fins privados e não públicos. Gostaria que alguém me explicasse como a área privada pode contribuir de maneira consistente com o desenvolvimento social e econômica do país sem estabelecer a menor conexão que seja com as políticas públicas? Alguem poderia me explicar o que fizeram com as PPP’s (parcerias público-privado)? Sim é verdade que o sistema político brasileiro anda mal (muito mal) das pernas, mas há algo que falta nas instituições públicas que a área privada poderia, ao menos em alguma medida, contribuir; com a construção de um modelo de gestão pautado pela meritocracia. Tem sim por onde começar.

  • José Junior, 25 de agosto de 2006 @ 16:50 Reply

    Um importante espaço pra que os vários pontos de vista sobre a área cultural sejam colocados e debatidos.
    A participação responsável e compromissada da Telemig Celular e de outras empresas no fomento à ação cultural é de fundamental importância.
    Há vários anos que sentimos na parceria com a Telemig Celular este “desejo de mudar o mundo à sua volta” e a mudança “dos cenários com os quais interage”.

    Ótimo espaço e o discurso reflete a prática.

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