Movimento contrário à reforma, iniciado ano passado, se expande e provoca dúvidas. Alcançando mais de 113 mil assinaturas com um abaixo-assinado contrário ao acordo e liderado pelo tradutor e ex-deputado Vasco Graça Moura, movimento “Manifesto em defesa da língua portuguesa contra o Acordo Ortográfico” foi apreciado por uma comissão parlamentar e recomendando a apreciação pela Assembleia Nacional daquele país.
O movimento aposta nas eleições legislativas de setembro para conseguir força política e forçar a revisão.
Já os maiores grupos editoriais de Portugal – Leya e Porto Editora – ainda não têm planos de adotar a nova ortografia.
Principal crítico do acordo ortográfico em Portugal, o tradutor Vasco Graça Moura diz que o grande número de assinaturas que conseguiu reunir já era esperado. “Não se esqueça de que dispomos de nove pareceres qualificados contra o Acordo, não havendo nenhum a favor dele”, afirmou em matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo.
Graça Moura diz que a petição antirreforma continua aberta à subscrição e calcula que dentro de alguns meses as assinaturas terão duplicado. “É sintoma da indignação geral que o Acordo vem causando.”
O político acha que a discussão está longe de terminar. “Considero que é possível evitar a adopção [ele pediu para manter o “p” mudo na grafia da palavra] de um documento absolutamente aberrante em Portugal”, disse. “É certo que o acordo não foi adoptado em Angola, nem em Moçambique, nem na Guiné-Bissau, pelo que não vale nada como acordo internacional e não pode considerar-se em vigor. Sem contar que adoptá-lo nessas condições seria estimular o fosso ortográfico que tanto se dizia querer evitar.”
O tradutor declara ainda que o acordo é inconstitucional e beneficia sobretudo o Brasil, já que as adaptações são menos numerosas aqui. Para o tradutor, “o Brasil quase não teve de fazer cedências e vê abrir-se a porta de grandes mercados à sua indústria editorial e a um reforço de influência política e cultural no plano transcontinental”.
O professor de linguística portuguesa e de fonologia António Emiliano, da Universidade Nova de Lisboa, diz que a publicação do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa neste ano, pela Academia Brasileira de Letras, contraria o segundo artigo do acordo assinado em 1990, que previa uma edição comum aos países.
Diante das críticas, a Academia das Ciências de Lisboa divulgou em 25 de junho um comunicado se comprometendo a lançar uma edição portuguesa do “Volp” até o final do ano.
“Isso não satisfaz. O “Volp” brasileiro e o que a Academia das Ciências de Lisboa tenciona elaborar até ao fim do ano não cumprem os quesitos do acordo”, diz Emiliano. Segundo Graça Moura, “a edição do “Volp”, se chegar a ser feita, não pode escamotear a questão do vocabulário científico e técnico também exigido pelo Acordo”.
* Com informações do jornal Folha de S. Paulo – Marcos Strecker
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