Pesquisa realizada pelo Ipea registra uma preferência das empresas em investirem em ações sociais voltadas para as crianças e indica uma concentração dos projetos no SudestePara menores de idade
Matéria publicada no jornal Valor, de 5 de junho, indica que a criança é o principal destino das ações sociais voluntárias que mobilizam 59% das empresas do país, segundo a pesquisa “A ação social das empresas privadas no Brasil”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Quase 500 mil companhias aplicam 0,4% do PIB (R$ 4,7 bilhões) em projetos sociais, percentual próximo ao que investe o país em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Segundo a matéria, neste universo, apenas 6% utilizam incentivos fiscais em seus projetos, como doações para entidades ou para atividades culturais. A maioria das empresas – 62% – atua em projetos de assistência social; 40% em projetos de alimentação e abastecimento e, 27%, em planos de educação e alfabetização, principalmente. Para Ana Maria Peliano, coordenadora-geral do Ipea, esta preferência sinaliza um entendimento generalizado entre os empresários do país de que esse grupo etário é o mais vulnerável e necessita de atenção especial. “O problema da criança atinge o inconsciente, o imaginário dessas pessoas”. As ações envolvem programas na área de educação e saúde ou são feitas por repasse de recursos a instituições.
Ana observa, porém, que nas empresas com mais de 100 empregados a tendência é estender também este voluntariado ao grupo de adolescentes e jovens, apesar deste grupo exigir planos mais estruturados de amparo. Mesmo assim, 48% dessas companhias já estão fazendo isto. Por setor de atividade, o comércio disponibiliza para a criança 79% de seus recursos em ações sociais, ante 53% da indústria e 46% do setor de serviços, que inclui instituições financeiras.
Distribuição
Ela chama a atenção para outro aspecto da pesquisa: a concentração das ações na região Sudeste, a mais rica do país. “A desigualdade regional que perpassa o Brasil está presente também na pesquisa”, informa Ana ao jornal. Dos R$ 4,7 bilhões aplicados em 2000, 83% foram desembolsados por empresas da região, onde vivem 18% dos indigentes (pessoas que ganham abaixo da linha de pobreza). No Nordeste, que concentra 63% dos indigentes do país, apenas 6% desses recursos foram empregados pelas empresas locais. Na região Sul, foram aplicados R$ 346 milhões. O valor cai no Centro-Oeste para R$ 125 milhões ou 3% do total e, no Norte, para R$ 51 milhões, ou 1% das aplicações totais.
Tamanho
Segundo a matéria, o perfil dos investimentos muda também no porte de empresas nas respectivas regiões. No Sudeste e Sul, mais de 90% são empresas de maior porte que desenvolvem projetos sociais. Nas demais, a participação cai para 60% das companhias desse perfil. Para Ana, estas diferenças regionais ocorrem porque no Sudeste as questões sociais e culturais estão mais presentes. “Há uma ação mais pró-ativa e agressiva no social do que nas demais regiões”. Das 300 mil empresas que atuam no Sudeste em algum tipo de ação social, 59% estão em São Paulo, 22% em Minas, 16% no Rio e 3% no Espírito Santo. “Proporcionalmente, dentro de cada estado, as mineiras ganham das paulistas. Ou seja, 81% delas têm alguma atuação social, contra 66% das empresas de São Paulo”. Ana acredita que a tendência é deste tipo de atuação empresarial aumentar. As dificuldades da conjuntura econômica não afetam as grandes empresas, que mantêm seus projetos. Entretanto, as pequenas e médias, observa a coordenadora, se retraem quando a atividade econômica desacelera.
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