Um dos maiores desafios do jornalista nos dias de hoje – além de todos aqueles que sempre tivemos – é acompanhar o que vou chamar aqui de “caminhos da vida digital”. Aqui no Cultura e Mercado, por exemplo, estamos sempre às voltas com dilemas sobre como tornar o texto mais atraente e como usar as redes sociais de maneira que a comunicação com quem lê a gente seja cada dia melhor.

Em mais uma tentativa de entender o que de novo está surgindo e como usar da melhor maneira, dezenas de nós – jornalistas e estudantes de jornalismo – estivemos durante três dias, na semana passada, no Itaú Cultural, para a 5ª edição do MediaOn – Seminário Internacional de Jornalismo Online.

“O jornalismo continua no seu modelo de checar as informações, de seriedade, o que mudou foram as ferramentas”, disse a britânica Meg Pickard, diretora de Estratégias para Mídias Sociais (Digital Engagement) no grupo Guardian News & Media. Como inspirar as pessoas a reagir e compartilhar o conteúdo que produzimos é a grande questão. Dar novos formatos aos conteúdos, ser relevante num mundo em que o consumo de notícias é tão intenso, interativo e livre, “fazer com” e não “fazer para”.

Para Fábio Altman, editor executivo da revista Veja, “o jornalismo hoje não é tão bem feito, mas é interessante como a quantidade e variedade de informação hoje é muito maior e mais rica que antigamente”.

Isso, para Mino Carta, diretor de redação da Carta Capital, pode ser um problema. “Falta conhecimento sobre a cultura e o passado da sociedade pra se escrever bem. Eu não ignoro a importância da internet, mas o pobre que vive do Bolsa Família não vai saber a realidade, ele vai acreditar no que escreveram na internet”.

De acordo com dados divulgados por Alex Banks, diretor-executivo do Brasil e vice-presidente para América Latina da comScore Inc – líder global em medição de audiência e pesquisas no mundo digital – a internet no Brasil é a 8ª no mundo em número total de visitantes únicos (45,2 milhões). Em se tratando de procura por notícias e informações, o país só perde para os Estados Unidos: 99,2% dos brasileiros buscam isso quando se conectam.

Segundo Renato Meirelles, sócio diretor do Data Popular, um novo estudo a ser lançado em 2012 indica que a internet influencia mais no desenvolvimento do brasileiro do que a educação, por promover ampliação do repertório e da rede de relacionamentos, elevando a capacidade de ascensão social. Polêmico, mas com sentido.

Gerente de expansão do Facebook no Brasil, Ricardo Sangion apresentou diversas formas práticas de relacionamento na rede. Não há volta: para fazer negócio, é preciso estar nas redes sociais da internet.

Mas enquanto o Facebook começa a ser ferramenta de lucro para empresas, o Twitter já virou negócio muito rentável para pessoas físicas. Pelo menos para aquelas que estão na televisão.

O apresentador do programa CQC, Marco Luque, contou que ganha cerca de R$ 20 mil por tweet patrocinado (R$ 20 mil por 140 caracteres!). Supervalorização das palavras de um ou as palavras de outros andam muito desvalorizadas?

Já Sabrina Sato, do Pânico na TV, definiu a internet como “um auto-merchan”, e lembrou que na vida off-line “ninguém ia chegar na minha cara e dizer que minha franja estava ridícula”.

Ambos disseram que seu trabalho tem mais vínculo com humor do que com a comunicação social. “Nem eu nem a Sabrina fomos convidados para um trabalho de jornalista, o que temos de forte é a comédia, o humor”, disse Luque.

Marcas – Por tudo isso, gerar conteúdo relevante não é mais uma escolha, é uma necessidade, como bem lembrou o diretor de marketing da Nissan, Murilo Moreno. “Com a internet, o mundo se fragmentou. Com o excesso de conteúdo, o consumidor vai atrás apenas do que lhe interessa, ao contrário do processo passivo da TV.”

E para produzir conteúdo (apesar de muitos não gostarem desse termo) para marcas, jornalista ou publicitário? “Na Nissan, o publicitário cria o conceito, mas o jornalista produz. É muito mais fácil o jornalista saber se o consumidor vai receber bem ou não o conteúdo”, disse Moreno.

Para Gian Martinez, gerente sênior de excelência criativa da Coca-Cola, é importante que quem produza o conteúdo entenda de cultura. “Dentro de um cenário onde todo mundo produz conteúdo, as pessoas que estão por trás das marcas deverão ser grandes editores, trazendo à tona assuntos que realmente valem a pena ser divididos e compartilhados.”

E como ficam as campanhas impressas e em rádio? “Impresso e rádio não estão mortos, as redes sociais vieram para complementar. 85% do conteúdo sobre a Coca-Cola produzida no mundo é feito pelos próprios consumidores”, disse Martinez.

“A principal diferença é que nas mídias sociais você tem um termômetro mais rápido do que as pessoas estão achando da sua marca e do seu conteúdo. Como marca, a gente entende melhor como o consumidor está reagindo às nossas ações na internet”, completou Moreno.

Nas empresas e nos movimentos sociais. Para Muzammil Hussain, pesquisador do Centro para Comunicação e Engajamento Civil e instrutor de Departamento de Comunicação da University of Washington, a intersecção entre mídias digitais e tradicionais é o que faz a divulgação de eventos como os da Primavera Árabe ser maior e melhor. “No Oriente Médio, a internet faz as pessoas se sentirem livres para expressar o que pensam”, afirmou.

A pergunta que ainda fica é: sabemos ser livres?

Leia matéria sobre a mesa que tratou de música na era digital, escrita pela participante do workshop de jornalismo do Cultura e Mercado, Paula Carvalho.

Os vídeos de todas as mesas estão disponíveis na íntegra no site do evento: www.mediaon.com.br.


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

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