O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou no dia 17 de novembro o Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), que mostra como a população avalia os serviços de utilidade pública e qual é o grau de importância deles para a sociedade.

No SIPS sobre cultura, os dados mostrados foram sobre a organização urbana para a prática cultural, com a parcepção sobre os espaços verdes, equipamentos culturais e esportivos, comércio e locais de encontro; as disposições culturais para o uso do tempo, com dados sobre o que a população gostaria de fazer no tempo livre; a oferta cultural, com a percepção sobre preço, distância, horários, interesse e público; e a frequência com que a população tem práticas culturais, com a divisão por tipo de atividade.

A grande maioria, 71% dos consultados, afirmou que os preços altos são obstáculo ao acesso à oferta cultural, e 25% discordam e acreditam que os preços não são um problema.Segundo a pesquisa, outro desafio apontado como obstáculo foi a barreira social imposta pelo perfil do público que frequenta espaços culturais. Um número alto de entrevistados (56%) concorda que existe essa barreira no acesso à cultura. Não veem esta questão como problema 38%. Na verdade, já é conhecido o argumento de que há discriminação de classe social quando da frequência a equipamentos públicos.

Já em relação à localização dos equipamentos culturais, o grau de concordância entre os entrevistados não é muito menor, sendo que 62,6% percebem o equipamento como distante do lugar onde moram. Para 35,3% a localização do equipamento não se constitui em problema significativo.

Quanto à atratividade, 42,8% dos respondentes acham as atividades enfadonhas, percentual pouco menor dos que veem as atividades com certo interesse (51,8%). Distribuição similar, porém invertida, pode ser encontrada entre os que consideram os horários dos eventos inadequados: 51,8% concordam, contra 42,4% que discordam.

Um dado que surpreende refere-se à percepção a respeito da periculosidade da região de localização dos equipamentos. Apenas 41,2% concordam que a região do equipamento é perigosa, enquanto 54,1% discordam com a hipótese de que a localização do equipamento é perigosa.

As práticas culturais desdobram-se em padrões distintos a depender de serem práticas domiciliares ou não, isto é, que envolvam saídas. A experiência cultural mais usual refere-se a práticas relacionadas ao audiovisual, especialmente a assistência à televisão ou DVD, o que por si expressa o aumento da densidade desse tipo de aparelho nos domicílios brasileiros. Grande maioria dos entrevistados, 78%, afirmou assistir tevê-DVD todos os dias, e 11% adicionais, várias vezes por semana. Portanto, somados, o conjunto de pessoas desses dois grupos representa 89% de entrevistados praticantes intensivos ou habituais de televisão.

A audição de música é outra prática bastante disseminada. Dos entrevistados, 58,8% afirmaram que a frequência da prática é diária, e outros 25,5% ouvem rádio/música pelo menos uma vez por mês.

A frequência é menor para teatro, circo e shows, que oscila entre pouco frequente (59,2% nunca vão) e raramente (25,6%). Padrão análogo se verifica na saída para apresentações de música, mas aqui se deve apontar que 10% fazem essa prática pelo menos uma vez por mês.

Quanto à visitação a museus e centros culturais, apesar do número alto daqueles que nunca a realizam, tem-se 4,2% de pessoas que o fazem pelo menos uma vez por mês. A questão a respeito dos níveis de penetração do cinema nas práticas cotidianas, sob a forma de assistência a salas, apresenta resultados surpreendentes. 54% dos brasileiros nunca vão ao cinema, outros 26% vão raramente. No entanto, em torno de 9% dos brasileiros vão ao cinema pelo uma vez por mês, número que revela o potencial econômico da arte ou do cinema como simples entretenimento. 9,4% dos entrevistados afirmam que vão ao cinema entre todos os dias (0,8%) e duas a três vezes por semana (4,2%).

As variáveis econômicas e sociais (renda, idade e escolaridade) compõem as experiências e formatam diferentes lógicas que motivam ou desmotivam as práticas, o que pode ser descrito pelos diferenciais de frequência e disposição para praticar ou fruir a cultura e os espaços de lazer.

O acesso à cultura, entretanto, não é apenas sintoma de outras desigualdades, ela mesma produz distâncias sociais e culturais. Longe de imaginar que a consciência distorce, a ideologia oculta ou as percepções se constituem em maus juízes do entendimento. Fica  claro por essa primeira aproximação dos dados gerados no âmbito do SIPS do potencial das pesquisas de percepção na produção de índices próprios para o acompanhamento de políticas e seus resultados.

A pesquisa é feita presencialmente, com visitas aos domicíclios. Para a elaboração do novo indicador, foram ouvidos 2.770 brasileiros em todos os estados do País. A técnica usada é a de amostragem por cotas, que garante representatividade e operacionalidade e mantém a variabilidade da amostra igual à da população nos quesitos escolhidos. A margem máxima de erro por região é de 5% e o grau de confiança é de 95%.
Sobre o IPEA
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) atua como importante agente no cenário das políticas públicas. O Instituto assume o compromisso de articular e disseminar estudos e pesquisas, subsidiar a elaboração de planos, políticas e programas governamentais, assessorar processos decisórios de instituições governamentais, além de cooperar com governos e entidades internacionais no seu campo de atuação.

O novo sistema vai permitir ao setor público estruturar as suas ações para uma atuação mais eficaz, de acordo com as demandas da população brasileira. Além dos indicadores de justiça e cultura, haverá, nas próximas edições, percepções sobre segurança pública; serviços para mulheres e de cuidados das crianças; bancos; mobilidade urbana; saúde; educação; e qualificação para o trabalho.


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Atriz, pós-graduada em gestão da cultura.

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