Poucos teatros e salas tradicionais e mal construídas. Essas são duas das principais queixas dos produtores de teatro no Brasil. É o que mostra reportagem do jornal o Estado de S. Paulo, publicada nesta quarta-feira (2/3). A peça de maior sucesso no mundo hoje, “August: Osage County”, já foi vista em Chicago, na Broadway, na Europa , em Lima, Montevidéu e Buenos Aires. Mas o Brasil deve ficar fora da lista.

Eduardo Tolentino, diretor do grupo Tapa, foi convidado a assinar uma versão nacional de “August”, mas não aceitou por conta da falta de estrutura para a montagem. ‘Iria ficar capenga, mambembe. O cenário são três andares de uma casa. Não dá para montar e desmontar todo dia. Seria preciso uma sala fixa, que ficasse só com essa peça. E isso, atualmente, é impossível.”

Em São Paulo, sobram produções, faltam espaços – os teatros passaram a abrigar diversas montagens ao mesmo tempo e as temporadas ficam mais curtas – e poucas salas têm condições técnicas para atender à demanda.

Nem espetáculos de sucesso têm garantia de permanecer em cartaz, como contou à reportagem do Estado Aniela Jordan, produtora dos musicais da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho. “A temporada de A Noviça Rebelde estava lotadíssima, mas tivemos que sair. O teatro já estava programado e não tínhamos mais como prorrogar a temporada.”

Conseguir estrear em São Paulo também não é tarefa fácil. Segundo Aniela, é preciso marcar com bastante antecedência. “Às vezes, o musical está indo bem no Rio, a gente tem que prorrogar a temporada, mas aí perdemos a agenda em São Paulo. É desesperador.”

Os musicais precisam de uma infra- estrutura mais elaborada – incluindo um fosso de orquestra -, daí o número de opções fica ainda mais restrito: três ou quatro salas na cidade. “A situação está tão difícil que já estamos planejando construir nossos próprios teatros, tanto no Rio quanto em São Paulo”, diz Aniela.

A diretora superintendente do Alfa, Beth Machado, diz que atender à demanda “é como montar um quebra-cabeças”. O primeiro semestre é geralmente reservado para um grande musical, e o segundo para temporada de dança. “Não sei se faltam espaços, mas estamos vivendo um momento particularmente difícil, com o Municipal e o Cultura Artística fechados.”

E não são apenas as produções comerciais que sofrem com a precariedade da estrutura cênica. Um dos símbolos do teatro alternativo, a Cia. do Latão demorou três anos em processo de pesquisa para criar seu trabalho mais recente, Ópera dos Vivos. Deve conseguir fazer pouco mais de 20 apresentações da montagem em São Paulo.

Dividida em quatro atos, a peça precisa de pelo menos duas salas que possam receber diferentes configurações. Segue em cartaz até o dia 13 no Sesc Belenzinho – um dos únicos locais na cidade planejados para receber criações dessa natureza -, mas depois não tem para onde ir. “Há muito se sabe que o palco italiano é uma estrutura moribunda”, analisa o diretor Sérgio de Carvalho. “A grande maioria das produções experimentais ou mais inventivas precisam de mobilidade na relação entre palco e plateia. E isso não existe. É raro. As pessoas continuam construindo teatros tradicionais e malfeitos.”

Diretor técnico do grupo Corpo e um dos especialistas da área no país, Pedro Pederneiras concorda. “Nossa principal deficiência é a forma de pensar os teatros. O erro acontece desde a hora de conceber o projeto. Os arquitetos, geralmente, não pedem ajuda a uma pessoa da área para definir o programa. Nossas salas já nascem aleijadas, engessadas. Estamos construindo teatros no Brasil tendo em mente modelos dos anos 1940, 1950”, “, diz ele, que também é engenheiro.

*Com informações do jornal O Estado de S. Paulo


Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

1Comentário

  • Geovane Barone, 5 de março de 2011 @ 16:24 Reply

    Prezada Mônica,

    O teatro no Brasil precisa ser encarado como um integrante importante da economia criativa. Desta forma, terá mais investimentos. A fórmula parece simples, mas não tem jeito. Ser não for encarado como agente econômico, ficaremos esquecidos e renegados, sendo taxados como “alternativos” “loucos” e coisas do tipo.

    Respeito ao trabalhador da Cultura.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *