No Brasil, o orçamento público para a cultura nem sempre fica aquém do desejado. Ainda mais quando entra em campo uma vitrine com porte de Virada Cultural.

A maratona de 24h de programação –que começa às 18h de sábado, dia 15– deve arrastar quatro milhões de participantes, diz a prefeitura. Lista cerca de mil atrações e orçamento de R$ 8 milhões. Um salto em relação aos R$ 600 mil da primeira edição, de 2005.

Até alguns hotéis da cidade entram em promoção para atrair turistas. Por tradição, as apresentações de teatro, dança, música, cinema e exposições ficam concentradas no centro, onde haverá dezoito palcos, além de apresentações de rua.

A expansão de R$ 3 milhões em relação a edição de 2009 torna inevitável a pergunta: tornou-se a festa moeda eleitoral? “Não tem como associá-la a uma questão política”, responde Carlos Augusto Calil, secretário municipal de Cultura, tentando pôr ponto final na questão. “Os políticos não sobem nos palcos. E nas campanhas para prefeito nenhum candidato falou em mudar ou não fazer a Virada.”

Política cultural

Os programas da secretaria –de manutenção de corpos artísticos a patrocínio– somam, em 2010, R$ 73 milhões. Produtores culturais ouvidos pela Folha estimam que, desse valor, no máximo R$ 10 milhões se destinem à programação.

Ou seja, a Virada consome, em um dia, o que outras áreas têm para gastar no ano todo. “É claro que uma coisa que acontece uma vez por ano não pode ser chamada de política cultural”, diz o cineasta Ícaro C. Martins. “A Virada se solidificou como acontecimento popular. Agora, a prefeitura poderia pensar, para o resto do ano, eventos de menor porte, como jornadas culturais.”

À parte a sugestão, Martins faz boa avaliação da iniciativa, seguindo uma aprovação expressiva da classe artística. “Numa cidade em que nem o Carnaval existe mais, a Virada chega como uma festa aberta e democrática”, defende.

A importância de seu caráter popular ecoa na voz de outros artistas. “Pelo número de pessoas que o evento reúne, acho muito positivo”, diz o escritor Marcelino Freire, que viu como ponto alto da edição de 2007 o show “antológico” de Cauby Peixoto, com gente cantando suas canções em coro.

Para Calil, a Virada é, ainda, um incentivo para revitalizar o centro. “Ela promove a reurbanização humana da região.”

O superintendente da associação Viva o Centro, Marco Antonio de Almeida, confirma a importância do evento, mas considera que ele só vale dentro de um pacote de ações das esferas pública e privada. “Sozinha, a Virada não faz nada. Mas ela tem, sim, uma importância grande na divulgação do Centro como um lugar a ser visitado. Traz pessoas que normalmente não vêm para cá.”

Outro ponto que a Virada tem cumprido “bem”, aponta o maestro Jamil Maluf, é seu papel na formação de público.

“De uma edição para outra, parece que cresceu a demanda por apresentações de música erudita”, argumenta, citando um diferencial para este ano: a criação do palco das orquestras na Estação da Luz, que tem como um dos pontos altos a apresentação da Osesp.

Fonte: Folha Online/Ana Paulo Sousa e Gustavo Fioratti


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Repórter. Escreve sobre pessoas, convergência e cultura.

1Comentário

  • Daniele Torres, 16 de maio de 2010 @ 2:29 Reply

    Postei no meu blog uma crítica sobre a Virada, longa demais pra reproduzir aqui como um comentário, mas a quem se interessar pelo assunto, pode gerar algumas reflexões, daí enviar o link:
    sss://ovelhadani.blogspot.com/

    O site do Estadão tem uma matéria sobre um debate promovido por eles com o título “vitórias e impasses no gigantismo da virada cultural”.

    Inté!
    Dani Torres

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