Pesquisa mostra que apesar de baixo acesso à cultura de elite, paulistas têm vida cultural.

Se o limite entre cultura e entretenimento anda cada vez mais tênue, principalmente nas grandes metrópoles, como definir o que são práticas culturais? Quais os fatores que interferem no chamado lazer cultural, ou então no entretenimento puro e simples? O que norteia as escolhas das pessoas em seu tempo livre? Buscar respostas a essas questões e trazer luz a essa fronteira pouco definida foram os objetivos do estudo “O uso do tempo livre e as práticas culturais na Região Metropolitana de São Paulo”, realizado pelo Centro de Estudos da Metrópole, dos pesquisadores Isaura Botelho, premiada no programa Rumos, do Instituto Itaú Cultural, com o trabalho “Romance de Formação”, e Mauricio Fiore. A pesquisa de Botelho e Fiore foi mapeada pelo Observatório Itaú Cultural em “Mapa das Fontes”.

 “Apesar dos números pouco expressivos em relação a acesso à cultura erudita, a pesquisa mostra que as pessoas em São Paulo têm vida cultural”, garante a pesquisadora. A primeira parte do estudo foi feito por meio de sondagem realizada num universo de 2002 pessoas residentes na região metropolitana de São Paulo, conta Isaura. “Os resultados apontaram uma enorme desigualdade de acesso à cultura tradicional e o peso de algumas variáveis, como níveis de escolaridade e de renda, faixa etária e localização domiciliar”.

A distribuição dos equipamentos culturais na cidade é outro fator determinante para o lazer cultural. Morar no Centro representa 160% a mais de opções e atividades culturais em relação a outras regiões. “Isso não significa que não há cultura nas periferias, pelo contrário, prova disso é o hip-hop, é o grafite e tantas outras expressões que ganham cada vez mais força”, observa Isaura. “Jovens hoje preenchem suas práticas culturais com atividades diversas”, acrescenta.

Para ir mais fundo na relação entre as atividades culturais e as condições nas quais elas ocorrem, os pesquisadores optaram por realizar uma segunda etapa qualitativa. Foram realizadas cerca de cem entrevistas com praticantes representativos da diversidade encontrada na primeira fase. “Este segundo momento teve o intuito de propiciar condições para um melhor entendimento sobre os valores atribuídos pelas pessoas a suas atividades, bem como alargar nossa percepção sobre os mecanismos de transmissão de gostos e hábitos culturais”.

Foi produzida ainda uma terceira etapa, em audiovisual, com o filme “Diversidade de vivências culturais”, com direção de Mônica Simões. Oito personagens com diferentes perfis foram entrevistados.

No conjunto, a pesquisa mostra que a intensidade da cena cultural e da vida da população não está relacionada exatamente ao tipo de cultura que preocupa gestores culturais cidade afora, e sim por recursos, equipamentos e produtos da indústria cultural, sobretudo, eletrônicos.

Cultura de apartamento

O estudo de Isaura Botelho e Mauricio Fiore mostra também que as práticas domiciliares predominam em São Paulo. Ou seja, no lugar daquela ópera, um DVD ou um filminho na TV. “Consideradas as diferenças econômico-sociais em relação ao chamado Primeiro Mundo, pode-se imaginar que o peso relativo dessa “cultura de apartamento” talvez seja até maior na região metropolitana de São Paulo, devido às várias ordens de dificuldade (sejam econômicas, sociais ou urbanas) de acesso à “cultura paga”.

O estudo é amplo e analisa com riqueza de informações e uma boa quantidade de gráficos uma extensa relação de atividades, segmentos e práticas culturais. Mais informações podem ser obtidas no espaço Mapa das Fontes no site do Observatório Itaú Cultural ou no site do Centro de Estudos da Metrópole.

Por Carlos Minuano


Repórter de cultura. Além dos trabalhos em reportagem, dedica-se atualmente à produção de dois livros: Memórias Psicodélicas e a ficção Cigarro Barato.

1Comentário

  • Sueli, 30 de novembro de 2008 @ 8:11 Reply

    Oi,eu fiquei sabendo sobre a Lei Rouanet quando pedi patrocínio para uma empresa ,na verdade pedi para o colégio em que trabalho ,apesar das dificuldades trabalhamos com muitos projetos,e a procura do patrocínio é para manter esses projetos. Moro em São Simão -Goiás e trabalho no Colégio Estadual de São Simão,a partir de 2009 assumimos o compromiso de Escola de Tempo Integral,o que nos proporciona o desenvolvimento de muitos projetos ,além da Escola Aberta no final de semana com atividades para a comunidade.Gostaria de saber como posso incluir o Colégio e contribuir para que a comunidade possa se beneficiar deste programa .Aguardo respostas.

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