Em Austin, no Texas, a música é o motor da economia criativa que o governo ajuda a desenvolver e que gera milhões de dólares para a cidade anualmente
Matéria publicada originalmente pelo “The Independent Weekly” (www.indyweek.com), da Carolina do Norte/ EUA, e traduzida e reproduzida com a autorização do veículo
O que a cidade de Austin faz pela sua cena musical é surpreendente. Primeiramente, há Jim Butler, que trabalha para a cidade como um elo entre a comunidade musical e o governo. O trabalho dele é manter felizes os mais de cem locais para música ao vivo existentes em Austin. O departamento de marketing para a música também promove esses locais junto aos organizadores de eventos, e uma convenção oferece o “Contrate um programa musical de Austin”, um diretório online de pesquisa com cerca de 1.500 músicos locais. Uma apresentação ao vivo de uma banda local abre todos os encontros do conselho da cidade.
“Eu não acredito que houve aqui algum grande evento em especial a partir do qual todos perceberam que a música passou a ser um ótimo negócio”, afirma Butler. “Isso foi crescendo organicamente ao longo dos anos”.
Em 1976, a emissora PBS começou a transmitir ao vivo o programa musical Austin City Limits para uma audiência nacional. Em 1989, a cidade fundou uma comissão musical que ainda se encontra uma vez por mês. O festival de música South By Southwest, que durante uma semana atrai centenas de bandas e milhares de visitantes a cada ano, foi fundado há vinte anos.
Organizações não lucrativas têm um papel central, como a Austin Music Foundation, que realiza seminários sobre como colocar uma canção no rádio e como lidar com impostos e questões contábeis. Há uma cooperativa de alojamento para músicos e ainda um plano de saúde específico.
Mas há questões que só podem ser resolvidas na esfera governamental, pequenas coisas nas quais você nem pensaria a não ser que conversasse com as casas noturnas sobre seus problemas. Esse é o trabalho de Butler. Ele fez com que as casas noturnas passassem a receber licenças especiais que são entregues às bandas, para os carros dos músicos não sejam multados enquanto eles descarregam os equipamentos. O serviço de eletricidade da cidade faz verificações gratuitas nas casas noturnas, para ajudá-las a conservar energia e reduzir as contas.
Há ainda um programa de empréstimos para a indústria musical que reserva uma verba de US$225.000 por ano para investidores privados, para ajudar as empresas do setor de música que queiram contratar mais funcionários ou aumentar suas facilidades. Esse programa foi depois expandido para a área audiovisual e outras indústrias criativas da cidade.
Austin tem a determinação de investir mais dinheiro no setor por que sabe que a música cria empregos e movimenta a economia local. Um estudo encomendado pela cidade e publicado em 2003 revelou que a indústria musical gerou mais de US$616 milhões anualmente para a atividade econômica, cerca de 11.200 empregos e mais de US$11 milhões em impostos e receita pública. “Talvez ainda mais importante são os impactos que não podem ser facilmente mensurados, especialmente a conexão entre a tecnologia e as artes”, aponta o estudo. A indústria tecnológica em Austin tem crescido em boa parte por que os geeks (1) querem estar onde a música está.
O estudo também verificou o que acontece por trás da cena musical. Austin tem tantas bandas e casas de shows que seus 700.000 habitantes mal conseguem privilegiar, o que significa uma forte competição entre os músicos e uma necessidade de atrair turistas. Outro problema é o aumento crescente no valor de imóveis e aluguéis (devido ao crescimento da indústria tecnológica), que estão reduzindo as margens de lucro dos proprietários de casas de shows.
Outro problema: “O impacto total de certas leis não é sempre considerado, e seu cumprimento já gerou conseqúências não intencionais”. O estudo cita como exemplo um stand de um grande selo musical no festival South By Southwest que teve que ser fechado devido a uma lei de ocupação máxima que leva em conta números baixos, e recomenda que “as necessidades da indústria musical deveriam ser consideradas tanto no desenvolvimento como na implementação de políticas municipais”.
Confira o estudo e saiba mais sobre a indústria musical de Austin: s://www.ci.austin.tx.us/music/default.htm
(1) Nota da redação: Segundo a Wikipédia, geek é uma palavra associada a subculturas ligadas aos computadores e à internet. Nestas subculturas, um geek é uma pessoa com um talento e um interesse
Fiona Morgan