Considerado para ocupar a cadeira de Ministro da Cultura de Dilma Rousseff, coube a Emir Sader o convite para a presidência da Casa Rui Barbosa, organização de pesquisa vinculada ao MinC. Após a desastrosa entrevista concedida à Folha de S.Paulo no último fim-de-semana, em que chamou a ministra Ana de Hollanda de autista, Emir Sader foi demitido antes mesmo de esquentar a cadeira.

A ministra Ana de Hollanda soltou a seguinte nota oficial hoje: “Comunico que o senhor Emir Sader não será mais nomeado presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa. O nome do novo dirigente será anunciado em breve”. A decisão de não empossá-lo veio da Presidência da República, que tem adotado postura de intolerância com críticas privindas de integrantes do governo e dos partidos aliados.

Ao ser informado da demissão sumária, Emir Sader soltou a seguinte nota à imprensa:

Consultado sobre a possibilidade de assumir a direção da Fundação Casa de Rui Barbosa, elaborei proposta, expressa no texto “O trabalho intelectual no Brasil de hoje”. No documento proponho que, além das suas funções tradicionais, a Casa passasse a ser um espaço de debate pluralista sobre temas do Brasil contemporâneo, um déficit claro no plano intelectual atual.

Como se poderia esperar, setores que detiveram durante muito tempo o monopólio na formação da opinião pública reagiram com a brutalidade típica da direita brasileira. Paralelamente, o MINC tem assumido posições das quais discordo frontalmente, tornando impossível para mim trabalhar no Ministério, neste contexto.

Dificuldades adicionais, multiplicadas pelos setores da mídia conservadora, se acrescentaram, para tornar inviável que esse projeto pudesse se desenvolver na Casa de Rui Barbosa. Assim, o projeto será desenvolvido em outro espaço público, com todas as atividades enunciadas e com todo o empenho que sempre demonstrei no fortalecimento do pensamento crítico e na oposição ao pensamento único, assumindo com coragem e determinação os desafios que nos deixa o Brasil do Lula e que abre com esperança o Governo da Presidente Dilma.

Rio de Janeiro, 2 de março de 2011
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro


editor

14Comentários

  • William Alves, 3 de março de 2011 @ 0:03 Reply

    É com muita surpresa que nos deparamos com a atual postura adotada pelo Ministério da Cultura na figura da ministra Ana de Hollanda. A retirada do selo do CC, o convite de uma advogada ligada ao Ecad para assumir uma cadeira no MinC, a apresentação do projeto das BAC´s num “makeup” de Praças/PAC, parece indicar que movimentos estranhos aos propostos pela candidata Dilma durante a campanha e agora Presidenta do Brasil começam a ganhar força junto ao MinC.

    É curioso perceber, em tão pouco tempo de governo, que algumas posturas da equipe que assumiu o MinC indicam a possibilidade de caminhos diferentes aos colocados em planos e discussões realizadas ao longo de 8 anos de governo Lula.

    Curioso também é perceber a ingenuidade de figuras, já vacinadas, como Emir Sader ao conceder uma entrevista para um jornalecozão como esse e outros que pululam nossa republica de bananas e tiriricas.

    Infelizmente ou felizmente o que nos resta são espaços como esse aqui do MC. Se esses espaços tem alguma importancia dentro dos contextos a que estamos colocados, só saberemos no futuro. De qualquer forma serve de espaço para grita geral, parece pouco mas é muito, mas diante da realidade posta esse muito não é nada.

    abraços
    William Alves

  • Karen Sá, 3 de março de 2011 @ 0:03 Reply

    Emir Sader, continuo lhe admirando.

  • Maria Alice Gouveia, 3 de março de 2011 @ 9:03 Reply

    Acho que está na hora da gente exigir que os equipamentos culturais do poder público tenham uma clara definição de missão, perfil e objetivos e que as mudanças sejam feitas depois de passar pelos órgãos colegiados como Conselhos, comissões e outros onde a representação do setor cultural se faz presente. Chega dessa história de “eu faço, eu posso, eu quero!”. Temos visto muito disso na área cultural e os resultados são sempre desastrosos: demissões em massa, guinadas de orientação que terminam com tudo o que vinha sendo construído a duras penas. O que não falta é gente que vem de outras áreas, que nunca foi gestor nem de ponto de cultura e que resolve reinventar a roda a cada momento!

  • Jurandir Barbosa, 3 de março de 2011 @ 11:54 Reply

    Pensadores sempre incomodam os detentores do poder que pensam em governar sem discutir uma construção.
    Emir Sader incomodou a pseudo ministra da cultura que desconhece completamente de suas funções e com isso, perde-se a oportunidade de um conhecedor executar o que seria de grande positividade para a sociedade brasileira.

    Emir Sader, minha admiração por você!

  • Leonardo Brant, 3 de março de 2011 @ 12:10 Reply

    A ministra da Cultura Ana de Hollanda escolheu o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos para presidir a Fundação Casa de Rui Barbosa. Santos é professor pesquisador da Universidade Cândido Mendes.

  • Flavia Elias dos Reis, 3 de março de 2011 @ 12:57 Reply

    Entra governo, sai governo, e mais uma nomeação equivocada para o Ministério da Cultura; é preciso parar com essa tendência de chamar simplesmente “artistas” para o cargo e convidar pessoas capacitadas, que realmente saibam gerir cultura em suas diversas manifestações e entendam as necessidades de cada setor.

  • Carlos Henrique Machado, 3 de março de 2011 @ 20:35 Reply

    Emir Sader errou barbaramente, foi falar em pensamento crítico, em criar um novo movimento intelectual inspirado em Mário de Andrade, Sergio Buarque de Hollanda e em tantos outros nomes do modernismo, aí a turma da feira de negócios da cultura ficou irada. Esse mundo da cultura corporativa quer lá saber de pensar alguma coisa! O negócio deles é com a planilha. Essa turma de cabeças-de-planilha quer saber de interpretação, de reflexão! Sabedoria pra eles é aquela coisa muscular, funcional, compartimentada e dominante. Preencher guia de imposto de renda e projetos para captação plena de dinheiro público é o grande progresso que a sonhada globalização corporativa da cultura quer saber. Aí vem o Emir Sader falando em humanidade, em sociedade, em democracia, em estado de direito e não fala nada de lucro ou super-lucro como a grande ciência do progresso! Ah, então se não está a serviço da produção do capitalismo, o MinC de Ana de Hollanda que detesta a cidadania integral não quer nem ouvir falar no grande intelectual Emir Sader.

    Se Mário de Andrade estivesse vivo, já teria sido atacado por Ana e Grassi, isso se não queimasse seus livros em praça pública. Ode ao Burguês seria considerado por eles, versos satânicos.

  • Leonardo Brant, 3 de março de 2011 @ 21:16 Reply

    Que absurdo Carlos. Você gosta de caluniar quem não concorda com você, associar a pessoa a um tipo de pensamento odioso. Mas a verdade pura e simples é que Emir Sader xingou sua chefe publicamente, pelo jornal. Ouça a entrevista, ele não falou em off. Mesmo assim foi perdoado por ela. A Dilma que o demitiu, por achar que esse tipo de comportamento não é digno de quem ocupa o seu governo. Isso não tem nada a ver com indústria, tampouco com Mario de Andrade. É uma questão ética. Abs, LB

  • Bruno Cava, 3 de março de 2011 @ 21:47 Reply

    Perfeito, Carlos.

    Emir Sader propunha fazer algo inédito nesse Min©: pensar.

  • Carlos Henrique Machado, 3 de março de 2011 @ 22:39 Reply

    Todos sabem que no aparelho do MinC de Ana de Hollanda Emir Sader nunca foi alvo de desejo. Ana, junto com a mídia, simula, com uma edição mal feita, um ataque de Emir a ela. Tudo para viabilizar o seu projeto de privatização do MinC. Ana e Grassi são dois bonecos gigantes manipulados pelas grandes corporações. Nitidamente os dois utilizam atitudes de escandalização e achincalhamento de quem eles acreditam ser seus inimigos do plano de drenagem até a falência múltipla dos órgãos a tudo o que foi construido pelo MinC do governo Lula. Por isso colocaram o artigo de Caetano aonde ele ataca Lula para deixar a área bem marcada pelos novos xerifes, Ecad e Cia.

    Leonardo, essa nova planta genérica, secretaria da economia criativa (um fumacê de gás lacrimogênio contra a SID e os pontos de cultura), foi criada para sequestrar a identidade e a diversidade brasileiras. Sem falar que o MinC botou os pontos de cultura na chaleira para criar fumaça e apitar contra o projeto mais revolucionário da cultura contemporânea universal. Tudo feito por uma federação de vinganças e mesquinhez saídas de dentro do MinC de Grassi e Ana de Hollanda a mando dos tubarões das multinacionais que comandam o Ecad.

    Rovai escreveu um belíssimo artigo.

    MinC se torna ministério problema do governo.

    sss://www.revistaforum.com.br/blog/2011/03/03/minc-se-torna-ministerio-problema-do-governo/#comments

    Grande abraço.

  • Raphael Tsavkko Garcia, 4 de março de 2011 @ 0:29 Reply

    A “gestão” da Ana de Holanda é uma lástima. Dilma vem cometendo erro atrás de erro desde que assumiu, seu governo é um tremendo retrocesso frente ao Lula e a Cultura já desponta como o pior dos ministérios.
    O MinC está rachado, tomado por amantes dos Direitos Autorais e capangas da Ministra, e agora mais uma crise se abre.
    A questão central em todo este imbróglio está no terrível retrocesso em praticamente TODAS as áreas geridas pelo MinC e Ana de Hollanda. Tudo que veio sendo construído nos últimos oito anos está sendo abandonado, mudado, eliminado e Dilma aparentemente não nota o que acontece, nem que uma parte significativa da militância já está a ponto de romper seriamente senão com o governo, mas com alguns setores-chave.

    E a insatisfação de muitos não se limita ao MinC, mas vai muito além e acredito na possibilidade de rachas sérios nos próximos meses enquanto Dilma finge não ver o que acontece. Se ela não tomar nenhuma atitude estará referendando todas estas mudanças de rumo, o que é preocupante, para dizer o mínimo.

    sss://tsavkko.blogspot.com/2011/03/balanco-inicial-do-governo-dilma-minc-e.html

  • william alves, 5 de março de 2011 @ 11:14 Reply

    Caro brant

    voce está colocando a credibilidade do CM em jogo quando assume uma postura tão defensiva em relação a Ana Hollanda, o que voce está querendo com isso?

    Mesmo respeitando sua opinião, não acredito que seja saudável voce assumir uma postura tão imatura diante do número de pessoas que acompanham esse espaço de debate.

    A Veja já faz esse papel muito bem e você é muito mais inteligente.

    Calma ai Brant, deixe que Ana Hollanda e seu sécto se defenda, por que vc não a chama para um debate aqui com todos? Por que até agora ela não apresentou nenhuma proposta clara em relação as politicas já instituidas e construidas durante o governo anterior? Foram 8 anos de trabalho com dedicação do movimento cultural nunca antes visto nesse pais.

    brant, não coloque a credibilidade do CM em jogo, não leve para o lado pessoal, voce não é governo ou é? não seja ingenuo.

    Abcs
    William

  • Fábio Campos, 5 de março de 2011 @ 13:13 Reply

    A Ministra está mais que certa, já não basta os adversário que não são poucos, tem mesmo é que mandar pra rua, não vamos tolerar fogo amigo, estes metidos a intelectuais acham que podem tudo. Viva a Revolução Feminista, agente sonha a vida inteira e só acorda no fim, esta é a hora de todos nos viverem um sonho Homens e Mulheres, de modo que eu apoio a decisão da Ministra.

    Fábio Campos
    Produtor Cultural.

  • Chris, 10 de março de 2011 @ 17:53 Reply

    analisando as questões colocadas e a posição da ministra da cultura, vejo dois pontos fundamentais de erros:
    1. Continuar a manipulação de cadeiras e funções através de acordos partidários é a forma de maior retrocesso que podemos ter, qual o motivo da Ana de Holanda ter assumido, o que sabe dos processos realizados e de toda revolução cultural social que foi colocada para debate pelos ministros Gilberto e Juca. Não somente a questão do direito autoral/propriedade intelectual, mas os meios de difusão do país não poderem ser questionados ??? Nossa lei está atrasada em relação ao resto do mundo e as novas possibilidades de transmissão e difusão, e ter somente um orgão regulamentador de direitos me parece tão monarquico quanto os amigos do rei terem cadeira cativa, democracia é ter opção de escolha e quem se sente privilegiado pelo ECAD que seja afiliado porque existem milhares de outros artitas que repudiam e não se sentemn representados, então porque não terem uma instituição como opção;
    2. Talvez o maior erro até agora, foi a saída do Juca e toda a massa que estava sendo aquecida em um momento de profunda união e profissionalização da cultura. Nada contra a Ana, mas nada a favor de direitos exclusivos aos amigos do rei. Como foi citado por alguns, nunca houve tamanho burburinho na área cultural e enquanto não tratarmos cultura como direito fundamental relacionado ao desenvolvimento social continuaremos a ser o país dos “prestadores de serviços baratos, sem direitos garantidos”. Vejamos os próximos capítulos.

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