Em pleno processo de afastamento gradativo do Ministério da Cultura, o ministro Gilberto Gil aproveita os últimos dias de uma licença não remunerada que tirou no inicio de junho para se dedicar a uma turnê com o show “Banda larga de cordel” a vários países da Europa, além de Estados Unidos, Canadá e Líbano. Há quase dois meses o ministério vem sendo tocado pelo secretário- executivo, Juca Ferreira, provável substituto efetivo de Gil quando conseguir ser liberado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A volta de Gilberto Gil está prevista para o dia 30, mas ela já confessou em entrevista à revista Carta Capital, no início de junho, que sua saída definitiva é questão de tempo.

Com a carreira musical prejudicada desde o primeiro mandato de Lula, em 2003, em dezembro passado ele deu um ultimato ao presidente. Mas foi convencido a ficar um pouco mais. Gil então acertou que ficaria, mas iria se afastando progressivamente, até deixar a pasta em ordem para caminhar sem seu comando. Na entrevista á Carta Capital, ele diz que quando decidiu ficar, em dezembro do ano passado, avisou a Lula que ano que vem volta a pedir para sair.

Recentemente o ministro se submeteu a uma cirurgia para retirada de pólipos benignos das cordas vocais.

– Há processos que começam a se automatizar, a se autonomizar, a caminhar sozinhos. Mas eu, sem dúvida, estou caminhando para uma coisa de, seja lá quando for, deixar o ministério. Vai ter de deixar uma hora, e pronto. E a idéia é deixá-lo bem, pronto, preparado – diz Gil na entrevista.

O ministro interino Juca Ferreira diz que mesmo nesses quase dois meses de afastamento físico, Gilberto Gil não se descuida do Ministério.

– Tudo continua como se ele estivesse aqui. Liga do celular, manda email… na viagem se encontrou com o Saramago e acertou com ele uma exposição no Brasil ano que vem – diz Juca.

Sua passagem pelo cargo deu ao Ministério da Cultura enorme visibilidade. Mas Juca Ferreira afirma que Gil não é apenas uma “grife” no Ministério, como dizem alguns, pois ele trabalhou duro e promoveu avanços significativos na pasta.

– Grife é um nome ruim. Ele vestiu a camisa e trabalhou ativamente. Foi o melhor ministro da Cultura que tivemos. Desafio qualquer um a apontar um indicador sequer no Ministério da Cultura no qual não sejamos melhores do que tudo que encontramos aqui – defende Juca Ferreira.


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2Comentários

  • Carlos Henrique Machado, 16 de julho de 2008 @ 14:43 Reply

    O BRASIL É O METRÔNOMO DO MUNDO

    (Villa Lobos)

    Tínhamos tudo, tudo mesmo, para encarnarmos um espírito republicano de cultura dentro do Estado brasileiro. Temos uma sociedade privilegiada em sua forma de viver, cantando, assoviando, mais que isso, feliz justamente quando canta e dança. Autônoma em sua maior expressão, a música, principal interlocutora e unificadora dos vários Brasís, a população brasileira se frustra mais uma vez com a timidez do MINC e vê escapar pelo ralo uma oportunidade ímpar de um governo popular ter um ministro em plena atividade artística cantando, dançando e não fazendo absolutamente nada pela música brasileira, por quê?
    Na música um mesmo homem carrega dois personagens absolutamente antagônicos. Entre a luz e a sombra caminhou o brilhante músico e o apagado ministro. Como músico, dispensa apresentações, como ministro não conseguiu inaugurar sua agenda em ações que otimizassem a nossa produção musical, nem da memória, muito menos das produções contemporâneas. Como ministro, seus textos sobre música não acompanharam seu brilhantismo poético linkado a suas belas melodias.
    “É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar”. Esperávamos este tom do ministro em resposta aos que crêem que não surgiu nada de novo e rico na música brasileira durante todos esses anos em que a nefasta promiscuidade empresarial das gravadoras multinacionais subornou praticamente todos os meios de comunicação com os famosos jabás, impedindo, desestimulando qualquer tentativa de exposição da música brasileira nos principais canais de comunicação do país. Nosso ministro mais que desafinou, emudeceu dentro da gaiola palaciana (Minc), que o deixa livre para cantar a sua atual produção pelos quatro cantos do mundo, pelas novas formas, como ele mesmo gosta de citar, das bandas largas e também pela forma tradicional em diversos palcos. Já a outra banda, a tradicional brasileira que tanto nos emprestou fabulosos compositores, músicos e maestros, ficou excluída, não só do discurso da banda larga, mas também de um apoio nos seus palcos de origem, com o ministro da cultura fazendo vista grossa para a vergonhosa, digo, até humilhante, reverberação do silêncio com a mísera quantia de R$20.000,00 (vinte mil reais). Ouvimos, neste caso, a voz do incômodo silêncio omisso que ensurdece. O mesmo silêncio é ouvido do ministro com a produção musical contemporânea brasileira.
    Os músicos brasileiros nas mãos do ministro Gil, dançaram, literalmente dançaram. Mais do que isso, o músico que pôs Coffy Anan a tocar como coadjuvante para a platéia da ONU dançar de alegria, os atabaques do ministro, no caso da música brasileira, rufaram o tambor fúnebre do silêncio. Dançamos todos, nós músicos, no pior sentido da palavra, sem música, sem festa e sem cerimônia.
    Como um homem de espírito público, ciente do valor da real democracia, o ministro poderia até ser aplaudido, num contraponto à ganância corporativa dos cineastas e mais uma leva de secretários ligados às artes cênicas, infiltrados no Minc, dando-lhes uma lição em silêncio. Mas se for este o remédio que ele usou contra as pragas corporativistas,a leniencia, errou na dose e só não se transformou em veneno para a produção musical brasileira, porque, bem como sabe o músico Gil, o Brasil existirá enquanto tiver um brasileiro cantarolando as suas belas criações. Este Brasil que vale a pena, que mobiliza massas e do qual tanto o músico Gil se valeu e ainda se vale pela sua indiscutível capacidade de compreensão da paixão das massas pela música, teve um ministro de costas para a música brasileira. Um artista, um intelectual tão atuante diante dos direitos dos músicos e da música, sabe como ninguém como foi destruída toda a teia das comunicações e da própria produção, ao mesmo tempo em que sabe que com um mínimo de matéria-prima, leva-se poucos minutos para a teia crescer.
    Mas o que mais me assusta em Gil é que, esperava-se que, com a sua natural produção musical que sempre foi marcada pela multiculturalidade, ele, como ministro rompesse as muralhas da ortodoxia social que mostra as suas garras mais afiadas no ponto mais nevrálgico da sociedade, a cultura. Nesta guerra sangrenta de valores, onde o Estado impõe, através do seu estatuto, um estado de sítio a todos os que romperem as tramas da ordem oficial vigente, com a sua doutrina doente, esquizofrênica. É certo que nem o músico, nem o ministro desfilaram para essa tropa perfilada, seria leviano dizer isso. Não marchou com o pé direito no bumbo de um conservadorismo da nossa história republicana no campo da cultura, mas se esquivou do confronto contra essa lógica perversa. Ficou entrincheirado, na artilharia, não foi para a infantaria, não foi para o combate direto. E aí, passada praticamente a sua gestão, o ministério é que caducou e mofou no campo da música, a mais forte e expressiva forma de se revelar o sentimento do povo brasileiro. Gil, sem querer, fez coro com as naftalinas dos armários e as indumentárias das óperas brasileiras que nunca virão. Porque o deus da música é brasileiro, nós o criamos na mitologia popular. Talvez, pela nossa própria geografia social, temos muitos deuses da música, do passado, do presente e do futuro. Isso independe de qualquer política, de qualquer visibilidade. Nossos cantos, por tradição, sempre andaram pelos cantos, conspirando em suas poesias contra todas as formas de golpe que sempre conseguem lugar em algum assento institucional. Mesmo que sem o respeito devido das instituições governamentais, a música, essa espetacular expressão que parece até que nasceu no Brasil ou foi recriada pelo povo brasileiro, com a ajuda luxuosíssima do músico Gilberto Gil, não irá parar porque o ministro foi inócuo. Isto está sendo provado pelo músico Gil que, apesar dele, como ministro não ter feito nada pela música, Gil músico está tinindo em folha e, sendo um fiel representante de um pensamento produtivo e criativo da música brasileira. Bravo, músico Gil!!!!

  • lula Gonzaga, 29 de julho de 2008 @ 0:38 Reply

    nunca tivemos um presidente como Lula nem um ministro com Gil.

    Viva a Cultura Viva.
    Lula Gonzaga

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